CENA 01. HOTEL. QUARTO IVAN. INT. DIA.
Vestido com um roupão, Ivan apara a barba em frente ao espelho. Toca a campainha. Ele deixa a tesoura sobre uma mesinha e abre a porta. CLOSES alternados entre ele e Jô.
IVAN
Jô? Por favor, entra.
JÔ
Com licença.
IVAN (fecha a porta)
Aceita uma água, um café?
JÔ
Não, obrigada. Só vim te fazer umas perguntas sobre o caso das jovens que tiveram seus bebês na noite de Carnaval.
IVAN
Você fala da Helena e da Gioconda?
JÔ
Sim, delas mesmas. Estou investigando há um tempo a pedido de uma pessoa, e uma pessoa chegou a seu nome.
IVAN
Vamos sentar. (eles o fazem no sofá) Conheço Helena desde um pouco antes disso. Ela estudava num dos mais importantes colégios particulares do Rio. Ela e Gioconda eram colegas de classe. Nunca foram amigas. Helena sempre teve muita inveja de Gioconda, pelo fato de ser mais popular e namoradeira. Helena sempre foi uma garota mimada e não aceita ser considerada inferior a outra. As coisas se complicaram quando o Estêvão, alvo da obsessão dela, se interessou pela italianinha. Todos gostavam dela. Até eu. Uma vez disse pra Zilda, mãe da Helena, que esperaria Gioconda se tornar mulher, para poder cortejá-la. Falando nisso, você chegou a conversar com a Zilda?
JÔ
Já, sim. Ela estava me ajudando muito nas investigações. Mas uma coisa aconteceu com ela, e a empregada me pediu pra te procurar.
IVAN
O que aconteceu? Estou ficando assustado.
JÔ
Helena matou a mãe assim que você foi embora da casa delas, ontem.
IVAN
Não pode ser!
JÔ
E fez os empregados se livrarem do corpo e limparem a cena do crime, sob ameaças.
IVAN
Primeiro o pai, agora a mãe.
JÔ
O pai? Do que está falando?
IVAN
Helena matou o pai também. Não soube? O que vou te contar é muito sério, então não coloca no jornal até a hora certa. (se levanta) Você conhece o Régis, o filho mais velho dela?
JÔ
Já o vi algumas vezes.
IVAN
Você sabe que ela tentava agarrar o Estêvão usando golpes da barriga, não sabe? Na primeira vez, ela usou um colega qualquer da escola. Engravidou, mas não conseguiu se deitar com o Estêvão depois. Terminou grávida e escondida de todos. Teve o bebê, mas ele morreu logo que nasceu. O pobrezinho seria jogado no lixo como um material hospitalar qualquer, se não fosse por mim. Zilda me pediu pra pegar o corpo do menino e fazer um enterro digno. Quando foi anos mais tarde, ela tentou de novo. Como não conseguiu nada com o colega de antes, ela teve um plano macabro. Aproveitou que o Nelson, pai dela, apareceu de porre numa noite e se fez passar por uma de suas amantes. (Jô chocada) Quando se descobriu grávida, armou junto com a Soraya para embebedar e transar com o Estêvão. E assim ela levou o pobre homem pro altar.
JÔ
Você quer dizer que ela teve um filho com o próprio pai? E eu pensando que ela não seria maluca a esse ponto.
IVAN
Até que um dia, logo depois de Régis nascer, Nelson ouviu Helena contando a verdade para um motorista e quis tomar satisfações. Ela bateu na cabeça dele com uma estátua. Ele desmaiou. Ela e o motorista o levaram para uma casa abandonada e botou fogo nele. A sangue frio. Mais uma vez, Zilda me pediu pra fazer o reconhecimento do corpo e o enterro. Não gosto nem de lembrar. Para todos os efeitos, foi tudo causado por sequestradores.
JÔ
Você já sabia que tinha sido a Helena a…
IVAN
Não. Soube há pouco tempo. Também tenho feito minhas investigações.
JÔ
Investigações?
IVAN
Pouca gente sabe, mas sou detetive particular. Especialista em casos de traições. Foi assim que Zilda me conheceu, há mais de trinta anos, talvez quarenta. Durante uma suposta viagem, o marido estaria aqui mesmo no Rio passando uns dias com uma ou duas amantes num motel. Alguém contou pra Zilda e me indicou pra ela. Não lembro agora quem foi. Acho que uma amiga. E assim me aproximei da família. Fiquei muito amigo dela. Nelson nunca desconfiou, mas Helena nunca foi com a minha cara.
JÔ
Você chegou a conhecer a Noêmia, a enfermeira que participou do primeiro parto da Helena?
IVAN
Sim, conheci. Cheguei a procurá-la na casa dela, mas ela me botou pra correr. Não queria conversa. Mas soube que ela recebeu muito dinheiro pelos dois partos, o da Helena e o da Gioconda, e abriu uma boate tempos depois.
JÔ
Você tinha alguma relação com a Gioconda?
IVAN
Direta, não. Mas soube que ela teve o filho no mesmo dia que a Helena, e o abandonou logo depois. Era um bebezinho louro e bonito: Sandro. Nunca mais soube do paradeiro dele.
JÔ
E se eu te disser que ele voltou e que está disposto a encontrar sua mãe?
Ivan arregala os olhos de surpresa e curiosidade.
CENA 02. CASA HELENA. BANHEIRO. INT. DIA.
Amanda se ajoelha à frente do vaso e vomita. Régis se aproxima da porta e socorre Amanda.
RÉGIS
Você tá bem, Amanda?
AMANDA
Tô. Acho que comi alguma coisa estranha. (se levanta)
RÉGIS
Me parece outra coisa. Você tá grávida?
AMANDA
De onde tirou isso? Pirou?
RÉGIS
Sou médico, esqueceu? Você tá inchada, agora vomita…
AMANDA
Tá bom! Mas a mãe não pode saber.
RÉGIS
Por que não? É uma notícia maravilhosa, minha irmã!
AMANDA
Não! Não é do Carlos.
RÉGIS
Não? Então é de quem?
AMANDA
É do Jairo. Tô tendo um caso com ele desde que o noivado acabou.
RÉGIS (chocado)
Papai sabe disso?
AMANDA
Sabe. Ele, a vovó, a Leila e até o Jairo. Não conta nada pra mãe. Ela surta só de imaginar.
RÉGIS
Claro que não vou contar. Eu sei bem como ela é. Quer fazer uns exames pra ver como tá? Te levo na obstetra.
AMANDA
A Rose? De jeito nenhum. Ela conta pra mãe na mesma hora.
RÉGIS
Te levo numa colega minha, a Flávia. É de confiança.
AMANDA
Só vou limpar a boca e me arrumar, e a gente vai.
RÉGIS
Te espero lá embaixo. (sai)
CENA 03. PENSÃO ZORAIDE. SALA JANTAR. INT. DIA.
Sandro e Mercedes conversam à mesa.
SANDRO
Já estou a um passo de descobrir quem é minha mãe de verdade. Uma resposta, e o mistério acaba.
MERCEDES
Não vejo a hora de você voltar a ficar em paz consigo mesmo.
SANDRO
Isso só vai acontecer quando eu desmascarar a mulher que me pariu e o maldito que tomou nossas terras.
MERCEDES
Mas isso é vingança.
SANDRO
Eles mancharam minha vida de sangue quando fizeram meu pai se matar, então agora é a minha vez de fazer os dois sangrarem até morrer.
MERCEDES
Sandro, você sempre foi um rapaz bom, doce. Não estou te reconhecendo.
SANDRO
Sou o Sandro de sempre. Só que agora estou ferido de morte, por culpa desses dois crápulas.
MERCEDES
Vingança contra a própria mãe é um pecado muito grave. Sandro, será que ela não teve algum motivo pra te largar? Talvez não estivesse em condições de te criar, e deixou você com o seu pai.
SANDRO
Pai que mentiu pra mim a vida toda.
MERCEDES
Pra te proteger.
SANDRO
Agora já está resolvido. Vou arrastar minha mãe e o Armando no chão, humilhar os dois até o fim. Vou trabalhar. Te vejo mais tarde.
MERCEDES
Sandro, volta aqui! (ele sai; ela reza) Deus, eu imploro: coloca um pouco de amor de volta no coração do meu menino. Ele está sedento de ódio, e isto me faz sofrer. Amo tanto o Sandro, que não quero que ele sofra ainda mais.
CENA 04. HOTEL. QUARTO IVAN. INT. DIA.
Jô e Ivan continuam a conversa reveladora.
JÔ
Você sabe de mais alguém que conhece sobre o passado da Gioconda?
IVAN
Indicaria o Bruno Vermont. Conhece?
JÔ
Sim. Ele está comigo nessa.
IVAN
Uma grande pessoa. Tem um coração enorme. A pessoa que eu gostaria de ver com a Gioconda. (Jô gela, mas disfarça) Você sabe que ele sofreu um terrível acidente logo depois da festa dela, não? Ficou em coma por um tempão.
JÔ
E não participou da fase da gravidez dela. Aliás, não sabe até hoje. Como, eu não sei. Já tive vontade de contar a verdade pra ele, só pra ver se ele esquece… Enfim, o acidente foi uma grande fatalidade.
IVAN
Um crime, isso sim! Premeditado! Foi a Helena que armou, como uma maneira de matar a família da Gioconda. Só que o executor sabotou o carro errado, e Bruno pagou o pato. Logo depois o sujeito apareceu misteriosamente morto. Mais um crime da Helena que ficou impune. Ela contratou um policial pra matar o cúmplice.
JÔ
Ela é completamente louca! Capaz de matar qualquer um que se ponha à sua frente.
IVAN
Todos nós corremos risco de perder a vida do dia pra noite. Temos que tomar o máximo de cuidado.
CENA 05. ESTRADA DESERTA. EXT. DIA.
Sonoplastia: suspense. Um carro preto surge na estrada e para próximo a um precipício. Wilson e dois comparsas saem do carro. A dupla abre o porta-malas e pega um saco com o corpo de Jéssica dentro. Jogam o saco pelo precipício abaixo. Wilson fecha o porta-malas. Todos voltam rapidamente pro carro. Wilson parte com ele.
CENA 06. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.
A sonoplastia continua. Corredor com poucas pessoas presentes. Régis e Amanda entram pela porta e se aproximam da obstetra Flávia.
RÉGIS
Oi, Flávia. Tá muito ocupada?
FLÁVIA
Oi, Régis. Não, tô livre.
RÉGIS
Tem como atender minha irmã e ver como ela está?
FLÁVIA
Você sabe que eu sou obstetra, e não… (a Amanda) Você está…?
RÉGIS
Sim, mas a nossa mãe não pode desconfiar.
FLÁVIA
Tá bom. Vem comigo, Amanda.
RÉGIS
Te devo essa.
Helena entra pela mesma porta e vê Amanda com Flávia. A megera se aproxima de Régis.
HELENA
O que significa isso?
Régis fica assustado e sem palavras.
CENA 07. ESTRADA DESERTA. CARRO. EXT. DIA.
A sonoplastia continua. Wilson dirige o carro com os dois comparsas no banco de trás. De repente, o homem da esquerda põe uma arma na cabeça de Wilson.
COMPARSA 1
Para o carro! Você desce aqui.
WILSON
O que está havendo?
COMPARSA 1
Mandei parar o carro.
Wilson o obedece e sai do veículo.
CENA 08. ESTRADA DESERTA. EXT. DIA.
Wilson fora do carro. Os dois comparsas também saem do automóvel, apontando suas armas para Wilson.
COMPARSA 2
Você está demitido, Wilson. Ordens do doutor Armando.
Antes que Wilson diga alguma coisa, cada comparsa dá um tiro no peito dele. Wilson cai desacordado e aparentemente morto. Os comparsas entram no carro e fogem. Em seguida, outro carro aparece. A moça loura e bonita no volante se assusta e sai do carro. Verifica se Wilson está vivo. Pega o celular.
MOÇA
Alô, é da ambulância? Tem um homem caído aqui na estrada.
CENA 09. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.
Continuação da cena 06. A sonoplastia para. Helena enfrenta Régis no recinto.
HELENA
Posso saber por que raios você resolveu trazer sua irmã pra uma médica qualquer sem me consultar?
RÉGIS
Ela passou mal em casa. Ficou tonta e vomitou. Não queria que eu deixasse minha irmã naquele estado, não é?
HELENA
E deixa ela com uma obstetra?
RÉGIS (mente)
Tá falando da Flávia? Ela também é clínica geral, se quer saber. De minha confiança.
HELENA
Mas não da minha. Se eu descobrir alguma coisa errada, você, sua irmã e essa medicazinha xexelenta vão se arrepender de ter nascido. Agora me fala: cadê seu pai?
RÉGIS
Sei lá. Não vi.
Leila e Rubens entram. Helena não gosta de vê-los juntos.
HELENA
O que essa prostituta tá fazendo aqui?
RÉGIS
Ela é sua filha e veio visitar o amigo dela. Exijo que respeite as pessoas neste hospital.
HELENA
Você não exige nada. Não passa de um fedelho que mal saiu das calças.
RUBENS
E você de uma louca que acha que está acima do bem e do mal, mas que não serve nem pra ser mãe. Olha como fala com seus filhos.
RÉGIS
Deixa ela, Rubens. Não adianta falar. Vou com vocês até o Bruno.
HELENA
Tentou se matar, não foi? Espero que consiga da próxima vez.
Helena sai com muita raiva. Esbarra numa enfermeira com violência, quase derrubando a bandeja desta.
RUBENS
Vocês têm certeza de que ela é a mãe de vocês.
LEILA
Vamos ver o Bruno, que é melhor.
RÉGIS
Leila, não vai ainda. Posso conversar um pouco com você?
LEILA
Algum problema?
RÉGIS
Vários: Amanda, vovó… Vem comigo. Com licença, Rubens.
RUBENS
Toda. Me encontra lá dentro, assim que terminar.
Rubens dá um selinho em Leila e entra pela porta que leva aos quartos. Leila e Régis conversam num canto.
CENA 10. PENSÃO ZORAIDE. SALA. INT. DIA.
Mercedes e Germano conversam no sofá.
MERCEDES
Estou muito preocupada com o Sandro.
GERMANO
Por quê? Ele parece tão bem. Tá namorando, tem trabalho…
MERCEDES
Ele e a Jô estão planejando uma vingança contra o Armando Alighieri.
GERMANO
Você quer dizer justiça, não? Eles estão cobertos de razão. Armando prejudicou e ainda prejudica a vida de muita gente.
MERCEDES
Eu sei que ele é um crápula e que tem, sim, que ser preso e impedido de se tornar presidente. Tenho nojo só de ver a cara dele. Mas a coisa é mais séria do que parece. Pela primeira vez vi meu menino com sangue nos olhos. Uma raiva que nunca tinha visto nele. Ele tem um coração limpo, puro. A Jô tem feito a cabeça dele pro mal.
GERMANO
Por que acha isso dela?
Alice aparece na porta e ouve a conversa atentamente.
MERCEDES
Não sei. Mas algo me diz que ela não é boa influência pra ele.
GERMANO
Bobagem. Ela é meio estourada, intrometida, mas é uma ótima moça. Ela só quer justiça.
MERCEDES
Que justiça? Aquela que coloca um filho contra uma mãe? Sabia que o Sandro também quer se vingar dela?
GERMANO
Ele deve estar com raiva e fala da boca pra fora.
MERCEDES
Não foi o que me pareceu. Conheço meu menino desde que era um bebezinho que dormia tranquilamente no meu colo. Ele quer vingança.
ALICE (entra)
Isso não pode ser verdade. Pelo amor de Deus, Mercedes.
MERCEDES
Você estava aí, Alice?
ALICE
Se ele fizer essa bobagem, não respondo por mim. Nunca mais olho na cara dele.
Alice chora e sai correndo pra fora da pensão. Mercedes tenta ir atrás dela, mas é inútil. Volta a se sentar com Germano.
MERCEDES
E agora essa. Senhor, põe juízo na cabeça do meu Sandro. É o que rogo.
Germano a abraça.
CENA 11. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.
Régis continua a conversa com Leila num canto mais reservado.
RÉGIS
Por pouco a mamãe não descobriu. Mas tá muito desconfiada.
LEILA
E agora?
RÉGIS
Não sei nem o que fazer. A Ângela disse que a vovó viajou, mas ninguém consegue falar com ela. A Amanda nesse estado. A mamãe surtando vinte e quatro horas por dia.
LEILA
O pior é que a Amanda não quer abortar. Quer o filho de qualquer jeito.
Dois enfermeiros entram correndo e chamam por Régis.
ENFERMEIRO 1
Que bom que te achamos, doutor.
ENFERMEIRO 2
Acabou de chegar um paciente à beira da morte. Precisamos da sua ajuda.
RÉGIS
E onde ele está?
ENFERMEIRO 1
Indo pra mesa de cirurgia.
RÉGIS
Tá bom. Vou me arrumar e já encontro vocês. (a Leila) Assim que a Amanda sair, fica com ela e diz que fui pra uma emergência.
LEILA
Deixa comigo.
Régis sai apressado com os enfermeiros.
CENA 12. HOSPITAL. SALA CIRURGIA. INT. DIA.
Sonoplastia: suspense. Sons de bipes nos aparelhos. Régis faz cirurgia para remover as balas do peito de Wilson. A pressão começa a cair. Régis e os enfermeiros fazem de tudo pra salvar o secretário. Após várias tentativas e muito suspense, Régis consegue salvar Wilson. Respira aliviado e segue a operação. A sonoplastia para.
CENA 13. AQUAPAPER. SALA ARMANDO. INT. DIA.
Armando está sentado na cadeira e fala ao celular.
ARMANDO
Perfeito! Melhor do que esperava. Deposito o dinheiro nas contas de vocês ainda hoje… Aguardem novas instruções.
Gioconda bate à porta e entra. Armando guarda o celular.
GIOCONDA
Desculpa por entrar assim, mas não vi seu secretário.
ARMANDO (mente)
Ele saiu pra fazer uns serviços.
Ele se levanta e tenta beijar Gioconda, mas ela se afasta.
GIOCONDA
Armando, não temos essa intimidade.
ARMANDO
Por que não? Sou seu noivo, não sou?
GIOCONDA
De fachada.
ARMANDO
Fachada para os outros. Mas já que prefere assim, não vou insistir. Por pouco, você não me encontra. Já estava de saída pra uma reunião.
GIOCONDA
Aqui na empresa?
ARMANDO
Não. Num hotel na Tijuca. Gostaria muito que fosse comigo, mas é um evento apenas pra empresários. Você se chatearia com tanto assunto de homem.
GIOCONDA
Já que assim, aproveito pra conhecer mais um pouco da empresa, pra me inteirar dos assuntos. Mas o secretário também não está, então volto outra hora.
CENA 14. HOSPITAL. CONSULTÓRIO. INT. DIA.
Amanda e Leila se frente para Flávia. Estêvão bate à porta e entra.
ESTÊVÃO
Com licença. Mandou me chamar, Flávia?
FLÁVIA
Mandei, sim. Temos um problema muito sério pra resolver.
ESTÊVÃO
Com o bebê?
FLÁVIA
Não. Ele está muito bem, e sua filha muito saudável. Mas a presença da mãe pode colocar a gravidez em risco, pelas questões emocionais que ela e Leila citaram.
ESTÊVÃO
Helena não é mesmo a pessoa mais equilibrada do mundo. Por isso ainda não sabe da gravidez.
FLÁVIA
É bom que continue assim. Pelo menos até a barriga começar a crescer. Mas aconselho que Amanda se mude para seu apartamento, para uma gestação mais tranquila.
AMANDA
Não sei se a mãe vai aceitar bem a ideia de eu sair de casa. Vai ficar desconfiada.
LEILA
Uma hora ou outra ela vai descobrir a verdade.
FLÁVIA
É nesse momento da descoberta que temos que pensar.
ESTÊVÃO
Digo a ela que você vai passar uns dias comigo por causa da faculdade, enquanto a gente arruma um jeito de contar pra ela.
FLÁVIA
A Helena vai ter que se preparar pra dar muito amor pro netinho que está por vir.
AMANDA
Ela não dá amor nem pra nós, que somos filhas.
FLÁVIA
Eu sei que você está preocupada, e com razão. Por isso temos que tomar as decisões certas para um menor impacto na sua gravidez.
LEILA
Vai dar tudo certo, mana. Tem que dar.
Estêvão abraça Amanda por trás.
CENA 15. AQUAPAPER. FRENTE. EXT. DIA.
Armando e três homens se encaminham para a garagem. Param em frente e conversam. Sandro entra. Ao ver Armando, para em um canto e presta atenção na conversa.
EMPRESÁRIO 1
Como vão as coisas com a cabritinha?
ARMANDO
A Carly? Tudo muito bem. Vou agora mesmo me encontrar com ela. A gente tenta, mas essas mulheres só sabem nos tentar.
EMPRESÁRIO 2
Qualquer dia, me empresta essa garota.
ARMANDO
De jeito nenhum. Exclusividade minha. Arruma qualquer vadiazinha num cabaré de favela. (os quatro riem) De noite a gente se encontra no lugar marcado. Hoje vou faturar mais duas fazendas e meter uns pobretões de merda no olho da rua. O povo acha que sabe ter terras, mas é um bando de inúteis. Ralé! Agora, se me dão licença, vou me divertir.
Os quatro homens entram na garagem. Sandro fica onde está.
SANDRO (VO)
Ri bastante, canalha! O seu império está perto de cair pedra sobre pedra. Aí eu quero ver quem ri melhor.
CLOSE nos olhos de fúria de Sandro por alguns segundos, com sonoplastia de suspense. Gioconda se aproxima repentinamente.
GIOCONDA
Sandro?
SANDRO
Oi? Gioconda?
GIOCONDA
Estava distraído. Viu alguma coisa errada?
SANDRO
Sim… Quero dizer, não. Está tudo em ordem.
Efeito de fim de capítulo: imagem congela; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.
