CENA 01. CASA BRUNO. FRENTE. EXT. DIA.

Alvoroço de jornalistas e curiosos à frente da casa. Expectativa. Ana, Alice, Bruno e Jô estão juntos. Ajoelhado, Bruno chora de alívio ao saber que Gioconda está viva.


Muita gente tinha motivos pra matar a Helena.

ANA
Até mesmo a gente.

ALICE
Já sabem quem matou?


Ainda não. Agora é que começa a parte mais chata. Investigação, uma penca de depoimentos, álibis… Pode demorar anos.

BRUNO
Agora só quero saber onde está a Gioconda.

ALICE
Provavelmente se escondendo do Armando em algum lugar. Ele ainda tá solto por aí.

CENA 02. MOTEL. QUARTO. INT. DIA.

Sonoplastia: suspense. Armando entra pela porta, exausto e suado. Pega o revólver que está preso na cintura, enrola num pano e guarda na gaveta da cômoda. Deita na cama. Respira várias vezes para recuperar o fôlego.

ARMANDO
Essa foi por pouco. Se a polícia acha que vai me pegar de novo, está muito enganada. Logo desinfeto daqui. O Brasil me dá nojo!

Se vira de lado a fim de cochilar. A sonoplastia para.

CENA 03. CEMITÉRIO. EXT. DIA.

Letreiro: “Dias depois”. Estêvão, Amanda, Leila, Régis, Carlos Eduardo, Ângela e Ivan participam do enterro de Helena. Amanda está sentada numa cadeira, enquanto os demais ficam de pé. Leila e Ângela choram bastante. Estêvão apático. O caixão é posto lentamente no túmulo. Ao mesmo tempo, ouve-se a conversa entre Jô e Vicky.

JÔ (off)
Tentaram incriminar o Bruno. Foi na casa dele, né? Mas ele foi visto na rua pouco antes do crime e agora tá fora da lista de suspeitos.

VICKY (off)
A Noêmia também se livrou dessa. Só que ainda tem muita gente com rabo preso.

JÔ (off)
Pelo menos a víbora teve o que merecia. Não podia ser diferente.

CENA 04. PENSÃO ZORAIDE. QUARTO JÔ. INT. DIA.

A conversa das personagens segue. Elas estão sentadas em suas camas. Vicky com o notebook aberto à frente, e Jô segura o celular.

VICKY
Menina, agora a gente tem que focar no Armando. Onde será que ele se meteu, hein?


Sei lá. Mas sei que a Gioconda tá escondendo alguma coisa. Ela apareceu toda felizinha, depois que soube que a Helena tinha morrido. Acho que ela e o Armando tão tramando alguma coisa. Ela nunca me cheirou bem.

VICKY
Dessa vez tenho que concordar.


Não duvido nada que seja ela a assassina.

CENA 05. PENSÃO ZORAIDE. SALA. INT. DIA.

Sandro conversa com Zoraide. Ambos estão de pé entre o sofá e a mesa de centro.

SANDRO
É, a Jô acha que foi ela que matou a Helena.

ZORAIDE
Já não sei de mais nada. Só quero cuidar da minha vida e ser feliz.

SANDRO
E eu ainda tenho um assunto pra resolver.

ZORAIDE
Não precisa nem dizer qual é. Aquilo é outra peste. E pensar que seria presidente do Brasil. Mas Deus foi maior e não permitiu tamanha desgraça.

SANDRO
Ele vai ter que pagar por tudo que fez contra mim, contra meu pai… Não duvido nada que a mulher que me pariu está com ele.

CENA 06. CASA NOÊMIA. COZINHA. INT. DIA.

Alice lava a louça, enquanto conversa com Ana. Esta está sentada à mesa.

ALICE
O Sandro continua com a ideia ridícula de se vingar.

ANA
Não é pra menos, né?

ALICE
Não é pra menos? E se foi ele que matou a Helena? Como posso voltar pra um cara assim?

ANA
Amorzinho, se você ama mesmo o Sandro, dá um jeito de ficar com ele. Além disso, ele nunca te fez mal. Ou fez?

ALICE
A gente já brigou várias vezes. Mas ele nunca me maltratou. Isso, não. Mas não fico segura em saber que o homem que amo está se igualando aos outros.

ANA
Agora falta pouco. O Armando vai ser preso, se Deus quiser, e a Gioconda vai ter que se arrepender do que está fazendo, se é que isso é verdade. Depois o Sandro vai perdoar a mãe dele, e vocês dois vão poder ser felizes para sempre.

ALICE
Queria ter o seu otimismo, mas não consigo.

ANA
É por isso que fica sofrendo sem precisar. Amiga, deixa que o Sandro resolve as coisas dele. Ele não vai matar ninguém. Vai por mim.

CENA 07. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Gioconda e Bruno conversam no sofá.

BRUNO
Quase tive um troço quando disseram que alguém tinha morrido lá em casa. Aí você some e…

GIOCONDA
Não sei como posso me desculpar com você. Tive umas coisas pra resolver, sim. Não podia imaginar que fossem fazer tamanha crueldade com a Helena. Mas ela pediu, não foi?

BRUNO
Não estou nem aí pra ela. Foi o seu sumiço que me deixou…

GIOCONDA
Eu sei que devia ter avisado a você ou à Lena. Fui irresponsável mais uma vez. Mas o motivo foi muito forte. Fiquei tonta. Tinha que encontrá-lo.

BRUNO
Você voltou pra ele, não é? O Armando?

FÁBIO (vem da cozinha)
Como vai, Bruno?

BRUNO (surpreso)
Você? O que faz aqui?

FÁBIO
Tinha que ajudar vocês. Não pensei duas vezes e vim, depois de saber que Armando e Helena tinham sido presos. Aí acontece essa fatalidade e… Bem, é isso.

GIOCONDA
O Ivan me ligou dizendo que o Fábio tinha voltado, e tive que sair atrás dele. Precisava vê-lo, saber como estavam as coisas.

FÁBIO
Mas a Helena descobriu a minha volta, mas achou que o encontro seria na sua casa. Depois disso…

BRUNO
Ela deve ter sido seguida e… Vocês não a mataram. Ou…?

GIOCONDA
De jeito nenhum! Nem nós, nem Ivan. Ele estava com Fábio durante toda a manhã. Por que a mataríamos?

FÁBIO
A jornalista está atrás do assassino, não é? Logo ela vai descobrir quem foi e resolver o caso.

GIOCONDA
Apesar de não gostar dela, tenho que concordar que é muito eficiente no que faz.

CENA 08. DELEGACIA. SALA CLÁUDIA. INT. DIA.

Cláudia, Sandro e Jô conversam à mesa.

CLÁUDIA
Segundo uma testemunha que não quer ser identificada, Helena foi seguida por duas pessoas que não foram reconhecidas. Normal, já que é turista. Mas pela descrição que deu, podemos diminuir a lista de suspeitos a poucos nomes. Um homem e uma mulher.

SANDRO
Essa mulher pode ser Gioconda Grimaldi, não?

CLÁUDIA
Não. Gioconda foi vista com dois homens num hotel do Leblon. Um deles, inclusive, está no serviço de proteção à testemunha. Ele tem colaborado muito com as investigações contra Helena e Armando.


Bem que eu queria incriminar essa mulher de algum jeito. Ela não me cheira bem.

CLÁUDIA
Mas não podemos acusar sem provas.

SANDRO
E quem seria esse homem?

CLÁUDIA
Mário Casiraghi. Aliás, Fábio Velázquez. Marido de Gioconda. Ele e um amigo telefonaram pra ela e a chamaram pra encontrá-los no hotel. Ela não avisou a ninguém, daí o sumiço.

SANDRO
E eu pensando que ela estava de tramoia com o bandidão. (pausa) Quem são os suspeitos agora?

CENA 09. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Fábio continua a conversa com Gioconda e Bruno.

FÁBIO
Tenho um dossiê escondido com provas de crimes que ele cometeu quando ainda éramos jovens. Tem coisas inacreditáveis. Você sabe que Armando e eu estudamos na mesma escola e que, apesar de ser popular, ele nunca teve boa fama.

BRUNO
Está aí com você?

FÁBIO
Não, já está com a delegada.

GIOCONDA
Esses dossiês todos não adiantam de nada, com essa Justiça cega e parcial que só prende negros e pobres, e solta os piores criminosos. Só quero poder ter um dia que seja de paz, sem o Armando no caminho.

BRUNO
Falta pouco, Gioconda. Confia.

GIOCONDA
Não posso! Eu simplesmente não posso confiar.

CENA 10. APARTAMENTO RAUL. SALA. INT. DIA.

Raul bebe cachaça pelo gargalo da garrafa. Está sentado no sofá. Cantarola. Ouve a campainha.

RAUL (vai até a porta)
Mas quem será a essa hora? Já disse que não…

Ele abre a porta para Armando e se surpreende.

ARMANDO
Preciso da sua ajuda. Meu dinheiro acabou e não tenho mais onde ficar. Será que posso passar uns dias aí?

RAUL
Mas é claro! O que tá esperando? Entra, Armandão.

ARMANDO (entra)
Que Deus lhe pague por ajudar um pobre homem. Precisava de um lugar onde pudesse me esconder e só achei aqui.

RAUL (fecha a porta)
O lugar certo. Sinta-se como um rei. Senta e bebe comigo.

Armando senta no sofá. Raul coloca a garrafa de cachaça sobre a mesinha de canto. Abre uma garrafa de uísque, enche dois copos e dá um deles a Armando. Senta-se com ele e brindam.

CENA 11. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.

Música: Flash – Stéphanie. Letreiro: “Um mês depois”. Imagens do trânsito lento em algumas ruas da cidade.

CENA 12. PENSÃO ZORAIDE. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Música em fade. Zoraide, Germano, Mercedes e Vicky jantam.

ZORAIDE
Ainda bem que aquela piriguete voltou pra terra dela.

MERCEDES
Já não aguentava mais olhar pra cara da Carly.

GERMANO
E nem ela pra sua. Depois que você deu uma surra nela…

MERCEDES
Ela mereceu.

VICKY
Tomara que não volte nunca mais. O Armando também sumiu. Aliás, nem o Raul tem dado as caras.

ZORAIDE
Tentou passar mais uma cantada na Noêmia, mas ela botou pra correr com vassouradas.

VICKY
Dizem que agora entrou outra chefe no lugar dele.

ZORAIDE
Raul foi mandado embora.

VICKY
Não. Parece que tirou licença. Disse que tava com tuberculose, acredita?

MERCEDES
E o Sandro só vai descansar quando acabar de vez com o crápula. Não vejo a hora de isso acabar.

ZORAIDE
Eu também, amiga.

CENA 13. CASA HELENA. SALA. INT. NOITE.

Amanda sentada no sofá. Ângela vem do corredor e se aproxima da moça.

ÂNGELA
Amanda, nem tinha visto você chegar. Como foi lá na médica?

AMANDA
Tudo indo. Meu bebê tá bem. Ela disse que vai nascer forte e saudável, mesmo depois de tanta coisa.

ÂNGELA
Até que enfim uma notícia boa.

AMANDA
Tem outra.

ÂNGELA
Ai, não me mata de curiosidade.

AMANDA
Eu e Carlos voltamos a namorar. Dessa vez por decisão nossa.

ÂNGELA
Que coisa boa, meu amor! (beija-a na testa) Fico feliz por vocês dois. Agora mesmo vou preparar sua sopa preferida, que é pra deixar você e o bebezinho fortes.

AMANDA
Preciso mesmo.

ÂNGELA
Quando eu terminar, te chamo. (sai)

CENA 14. RUA. CARRO ESTÊVÃO. EXT. NOITE.

Ana e Estêvão abraçados dentro do carro.

ANA
Como é bom a gente ficar agarradinho, sem se preocupar com nada.

ESTÊVÃO
Acho que, pela primeira vez, sei o que é isso.

ANA
Prometo ser uma namorada, e quem sabe uma esposa, muito zelosa, fiel e carinhosa, como você nunca teve.

ESTÊVÃO
Não precisa prometer. Você já é isso tudo.

ANA
Sério? Te amo muito. (beija-o no rosto) Tô feliz pra caramba porque tô com você e porque a escola vai se mudar pra uma casa maior daqui a duas semanas.

ESTÊVÃO
E eu vou ser o diretor do hospital.

ANA
Muito merecido, por sinal. Ah, me beija!

Eles se beijam romanticamente.

CENA 15. RUA. EXT. DIA.

Sandro perambula pela calçada, distraído. De repente vê Armando surgir de longe, usando um boné. Sonoplastia: suspense. Armando olha alguns jornais do lado de fora da banca. Sandro se aproxima. Armando percebe e se afasta desconfiado. O vilão sai pela rua à direita. Sandro segue o mesmo caminho.

CENA 16. RUA. EXT. DIA.

Sandro vê Armando entrar numa loja e se esconde atrás de um poste. Espera. Armando sai e olha de um lado pra outro. Prossegue a caminhada. Sandro volta a segui-lo. Armando sai por um beco. Sandro o segue com cuidado e também entra na viela.

CENA 17. PRÉDIO RAUL. FRENTE. EXT. DIA.

Armando para em frente ao prédio. Olha para os dois lados para ver se Sandro o seguiu. Entra. Assim que Armando sai de cena, Sandro surge na CAM.

SANDRO
Escondido na casa do puxa-saco? Interessante!

CENA 18. DELEGACIA. SALA CLÁUDIA. INT. DIA.

A delegada recebe uma ligação de Sandro. Está sentada à mesa com uma policial à sua frente.

CLÁUDIA
Você tem certeza?

SANDRO (VO, celular)
Tenho sim. Segui desde a outra rua. Ele usava o disfarce de sempre. Roupas leves, boné…

CLÁUDIA
Estamos indo pra aí. Espera, mas não deixa ele saber que você o seguiu.

SANDRO (VO, celular)
Acho que já sabe, porque ficou desconfiado.

CLÁUDIA
Que seja. Mas fica por perto. Qualquer mudança, liga. (desliga; à policial) Armando Alighieri escondido na casa do jornalista, na Gávea. Vamos pra lá, antes que ele fuja.

Cláudia sai apressada, seguida pela policial. A sonoplastia para.

CENA 19. APARTAMENTO RAUL. SALA. INT. DIA.

Armando conversa com Raul. Ambos estão de pé. Raul segura uma garrafa de uísque.

ARMANDO
Aquele maldito quase me pegou.

RAUL
De quem tá falando?

ARMANDO
Do Sandro Novak. De quem mais seria?

RAUL
Esse cara é capaz de qualquer coisa. Ele te seguiu até aqui?

ARMANDO
Não, acho que não. Consegui despistá-lo. E o rapaz dos passaportes?

RAUL
Deixou tudo do jeito que você pediu. (pega os documentos de cima da mesinha de centro) Aqui estão. Identidades, passaportes… Tudo falso, como você mandou. Menos o dinheiro, claro.

ARMANDO
(pega os passaportes) Deixa eu ver… (vê os nomes falsos) Trabalho perfeito! Agora somos Celso e Sérgio Ramalho. Irmãos… Humm! Muito bom! (joga os passaportes no sofá) Me dá uma garrafa, que eu quero beber também.

Armando gargalha. Raul dá uma garrafa de vodca ao outro, que abre a tampa e bebe no gargalo.

CENA 20. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Fábio e Bruno conversam no sofá.

FÁBIO
Não é nada fácil ser uma pessoa e viver como outra. Se não fosse pra proteger a Gioconda, não sei se toparia.

BRUNO
Você tinha que se esconder de qualquer maneira. Ou a Helena…

FÁBIO
É isso que lateja na cabeça dia sim e outro também. Não aguentava mais de saudade da minha vida, da Gioconda… Quando eu soube que ela tinha ficado noiva do Armando, achei que fosse alguma mentira, algum boato. Só consegui acreditar quando ela me contou lá no hotel. Minha vontade era ver de perto e quebrar o pescoço dele. Armando nunca me cheirou bem. Sabe como ele conseguiu toda a riqueza dele? Com golpes e mais golpes que aprendeu com o pai. Aquilo era outro trambiqueiro.

BRUNO
Tô vendo que a canalhice dele vem de família.

FÁBIO
Quantas vezes vi o Armando roubar dinheiro, lanche e o escambau lá na escola e colocar a culpa nos bolsistas. E o pai acobertava, claro. Quando o velho ficou rico, aí é que o Armando pintou e rolou. Como era considerado o garoto mais bonito da escola, ele aproveitava pra abusar das meninas. Depois ameaçava matar as coitadas. É o que faz até hoje, não é?

BRUNO
E pensar que ele tentou abusar da Gioconda. Se o Sandro não aparecesse…

FÁBIO
Ela me contou essa história. Do jeito que está solto, pode aparecer de novo. Não podemos tirar o olho dela.

CENA 21. APARTAMENTO RAUL. SALA. INT. DIA.

Armando coloca os documentos falsos dentro de um saco preto e o guarda na gaveta da cômoda. Raul bebe mais um gole de uísque no gargalo da garrafa. Toca-se a campainha. Armando se assusta. Sonoplastia: suspense.

RAUL (cochicha)
Se esconde lá dentro. Corre!

Armando sai em direção ao corredor. Este coloca as garrafas sobre o móvel de bebidas. A campainha toca de novo. Raul se aproxima lentamente e abre a porta.

CLÁUDIA
Polícia!

RAUL
O que significa isso?

CLÁUDIA
Recebemos denúncias de que o senhor está escondendo um fugitivo da Justiça. (aos policiais) Revistem a casa.

RAUL
Não podem entrar…

Cláudia e três policiais entram. Estes se espalham pelos cômodos.

CLÁUDIA
Se o Armando estiver aqui, você tá encrencado.

RAUL
Que Armando?

CLÁUDIA
Não se faça de desentendido. (vê as garrafas abertas ao fundo) O que é aquilo?

RAUL
As garrafas? Gosto de beber. Por quê? Não posso?

CLÁUDIA
Duas ao mesmo tempo?

POLICIAL (volta pra sala com os outros dois)
Ele não está.

CLÁUDIA
Fugiu? (a Raul) Você está preso por facilitação de fuga.

RAUL
Como é que é? Você não pode me prender por… (um dos policiais o algema) Vou te processar por abuso de autoridade!

CLÁUDIA
Tô morrendo de medo!

Cláudia e os policiais levam Raul dali.

CENA 22. PRÉDIO RAUL. ESCADA DE EMERGÊNCIA. INT. DIA.

Armando se encosta esbaforido à parede.

ARMANDO
Ufa! Essa foi por pouco. Se aquela vadia acha que vai me pegar de novo, tá muito enganada.

Armando tira a calça. Usa uma bermuda por baixo.

CENA 23. PRÉDIO RAUL. GARAGEM. INT. DIA.

De boné e óculos escuros, sem camisa e com a bermuda, Armando sai da escadaria e caminha entre os carros. Quando está pra sair pelo portão aberto, uma mulher se coloca à frente, mas o confunde com Raul. A sonoplastia para.

MULHER
Raul! Há quanto tempo?

ARMANDO
Conheço você?

MULHER
Ai, Raul! Você sempre brincalhão! Também tô indo à praia. Quer uma carona?

ARMANDO (sorri safado)
Por que não?

CENA 24. DELEGACIA. SALA CLÁUDIA. INT. DIA.

Raul sentado em frente a Cláudia. Dois policiais e um escrivão também estão presentes.

CLÁUDIA
Onde está o Armando?

RAUL
Já disse que não sei, caralho! Faz tempo que não vejo…

CLÁUDIA
Ou fala a verdade, ou sua pena vai aumentar.

RAUL
Quero falar com o advogado. Estou sendo vítima de uma perseguição feroz contra o doutor Armando. Ele é uma pessoa muito honrada que sofre com a inveja de gente corrupta como você.

CLÁUDIA
Agora sou eu a corrupta? E você é um jornalista de bosta. Vendido e puxa-saco de quem te dá mais dinheiro. Não é?

RAUL
Não vou aturar que me xingue, nem que me acuse sem provas. Quero meu advogado!

CLÁUDIA
Vai precisar mesmo, porque você também pode ser acusado de outro crime: a morte da Helena.

RAUL
Pera lá! Nem cheguei perto daquela casa. Não tinha motivo nenhum pra matar a Helena.

CLÁUDIA
Não? Se não foi você, então quem foi?

RAUL
Eu sei lá! Muita gente queria a morte dela, mas não eu. Por que não procura o Bruno Vermont? A Gioconda Grimaldi? A Noêmia da boate? Os filhos da Helena? Eles, sim, queriam a morte dela.

CENA 25. RUA. EXT. DIA.

Sandro explode, enquanto fala ao celular. Jô está ao lado dele.

SANDRO
Merda!


Que foi, Sandro?

SANDRO
O Armando conseguiu fugir.


Filho da puta!

SANDRO
(ao celular) Tá bom. Se tiver alguma notícia, me liga. (desliga; a Jô) Ele fugiu, mas o Raul foi preso. A Cláudia está dando uma prensa nele. Onde será que o Armando está agora.


Forjando mais uma maneira de fugir, claro.

SANDRO
Agora a coisa ficou séria. Quero sangue esparramado por todo canto. Não respondo por mim, até acabar com ele.


E o que vai fazer?

SANDRO
Já tenho uma coisa na cabeça. Me espera na pensão.


Sandro, não vai fazer nenhuma loucura.

SANDRO
Já fiz. Armando e Gioconda estão com as horas contadas.

Sandro se afasta com ódio no olhar. Jô preocupada.

CENA 26. CASA NOÊMIA. SALA. INT. DIA.

Alice abre a porta para Jô.


Alice, tua mãe tá aí?

ALICE
Não, por quê?


Preciso da sua ajuda com o Sandro. Ele tá incontrolável. Quer matar o Armando e a Gioconda ainda hoje, e só você pode evitar.

ALICE
Não vou me meter na vingança barata dele.


E vai deixar ele sujar as mãos de sangue? Pensa, mulher! O Sandro te ama e vai te ouvir.

ALICE
Duvido. O Sandro só quer saber da vingança. Ele nunca me amou.


Isso é mentira, e você sabe disso. Sabe de uma coisa? Você tá agindo igualzinho a ele. Orgulho faz mal, sabia?

ALICE
Agora eu que sou a orgulhosa?


Amor não é só as horas boas, não. É também nas horas mais difíceis. Deixa de ser burra e vem comigo. O Sandro precisa de nós duas. Ou ele vai morrer também. Fica a dica.

CENA 27. PRÉDIO GIOCONDA. FRENTE. EXT. ANOITECER.

Música: Eternal Flame – Bangles. Imagem da fachada do prédio. Pessoas transitam na calçada.

CENA 28. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. ANOITECER.

A música continua no rádio. Fábio, Bruno, Lena e Gioconda conversam na sala.

BRUNO
A Zoraide me ligou. O Sandro passou na pensão e pegou uma arma, disposto a matar o Armando.

GIOCONDA
E a mim também.

LENA
Fica calma, Gioconda. Seu filho não vai ter coragem de fazer nada contra você. Ele não é a Helena.

FÁBIO
Concordo com a Lena. Ele só está desorientado. Vou ver se acho o Sandro e tento ter uma conversa com ele de pai pra filho. É de um carinho de pai que ele precisa agora.

BRUNO
Vou com você e aproveito pra comprar uns pães.

FÁBIO
Fica com ela, Lena.

BRUNO
Se acontecer alguma coisa, me liga, que venho correndo.

LENA
Tá bom.

GIOCONDA
Estou com medo.

FÁBIO
Vai ficar tudo bem. Acredita, meu amor.

A música para. Fábio e Bruno saem juntos. Lena abraça Gioconda.

CENA 29. PRAIA COPACABANA. EXT. NOITE.

Armando e a moça do prédio sentados na praia, aos beijos. Ele se passa por Raul.

ARMANDO
Tenho que ir. O serviço me espera.

MULHER 1
Sério? Poxa! Queria ficar a noite toda com você. Vou ficar com saudade.

ARMANDO
Te ligo quando puder, pra gente ter uma noitada inesquecível.

MULHER 1
Espero ansiosa.

Armando dá mais um beijo ardente na mulher e se levanta. Olha para o prédio de Gioconda, em frente. Caminha em direção ao prédio. CAM na mulher. Outra moça se aproxima dela e senta junto.

MULHER 2
Menina, quem é esse coroa?

MULHER 1
Raul, daquele jornal que te falei no outro dia.

MULHER 2 (ri)
Ah, tá! Até parece!

MULHER 1
Que é? Tá com inveja? Pois saiba que o Raul transa muito bem. E pensar que eu mal o conhecia.

MULHER 2
Só assim mesmo pra se entregar pra qualquer um, achando que é ele. Queridinha, o Raul tá preso há horas. Ajudou um bandidão a fugir. Vou te mostrar a foto do safado. (liga o celular e pesquisa o nome do Armando) Esse é o ban…

MULHER 1 (chocada)
Eu transei com…

MULHER 2
Vamos pra delegacia agora. Menina, cê tem que prestar queixa.

Elas se levantam e caminham para o calçadão. São abordadas por Sandro.

SANDRO
Com licença. Vocês viram um homem grisalho, com 60 ou 65 anos, boa aparência, chamado Armando?

MULHER 2
Vimos sim, e estamos atrás dele.

MULHER 1
Passei a tarde com ele até agora, sem saber que era um..

SANDRO
Você viu pra onde ele foi? Preciso muito saber.

MULHER 1
Acho que pra aquele prédio ali.

SANDRO
Obrigado.

As moças se afastam. Sandro se vira e olha atentamente o prédio de Gioconda.

CENA 30. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. NOITE.

Lena se levanta do sofá.

LENA
Vou correndo pro banheiro e já volto.

GIOCONDA
Não demora.

Lena sai pelo corredor. Gioconda anda até a janela e olha pra fora distraída. Armando abre a porta e entra. Sonoplastia: suspense.

ARMANDO
Há quanto tempo, meu amor?

GIOCONDA (de costas)
Mas você acabou de sair, Bruno.

ARMANDO
Bruno?

GIOCONDA (se vira para Armando e se assusta)
Você?

ARMANDO (se aproxima dela)
Estava louco de saudades de você, do teu corpo.

GIOCONDA
Fica longe de mim!

Armando agarra e beija Gioconda à força. Joga-a no sofá e se deita sobre ela. Continuam os beijos.

ARMANDO
Você vai ser minha, Gioconda!

CENA 31. PRAIA COPACABANA. EXT. NOITE.

Sandro anda pelo calçadão. De repente, Fábio o chama. Sandro não se dá conta de que o outro voltou após a “morte”.

FÁBIO
Sandro! Até que enfim! Estava doido atrás de você.

SANDRO
A Gioconda está em casa?

FÁBIO
Está sim, mas… Queria ter uma conversa com…

SANDRO (corta)
Não posso. Tenho que…

FÁBIO (tom; agarra Sandro pelo braço)
Primeiro você vai me ouvir. Depois você sobe. Vamos ali no bar. Assim ficamos mais à vontade.

Fábio e Sandro se encaram. Do outro lado da rua, Bruno entra pelo portão.

CENA 32. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. NOITE.

Armando continua agarrando Gioconda. Ela grita de desespero.

GIOCONDA
Lena, me ajuda!

ARMANDO (esbofeteia Gioconda)
Cala a boca, sua puta! É disso que gosta, não é? De um monte te macho te dominando.

Armando levanta a saia e abaixa a calcinha de Gioconda. Bruno entra. Num impulso, larga a sacola de pães e agarra Armando, tirando-o de cima de Gioconda. Dá um soco na cara do vilão. Lena entra em cena. Gioconda corre para abraçá-la e chora.

BRUNO
Isso é pra aprender a não mexer com a minha mulher!

ARMANDO
Sua mulher? Você vai ver com quem tá mexendo.

Bruno mete mais um soco em Armando, que cai no chão.

CENA 33. PENSÃO ZORAIDE. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Mercedes e Zoraide sentadas à mesa. Mercedes está preocupada com Sandro.

MERCEDES
Ele saiu e não voltou até agora. Será que ele tá fazendo alguma loucura?

ZORAIDE
Se Deus quiser, alguém vai se colocar no caminho dele e vai meter um pouco de juízo na cabeça. Se é que já não fez.

MERCEDES
Deus queira!

ZORAIDE
A Jô foi ver se a Alice não podia ajudar. Ele vai sair são e salvo dessa.

MERCEDES
Deus há de permitir.

ZORAIDE
Vamos rezar, amiga.

As duas rezam uma ave-maria de mãos dadas.

CENA 34. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. NOITE.

Armando sentado à parede com o rosto ensanguentado. Bruno abraça Gioconda, enquanto Lena chama a polícia.

ARMANDO
Vocês são todos uns idiotas! A polícia nunca vai me prender.

BRUNO
Já era, Armando! O seu reinado acabou. E dê graças a Deus, que o Sandro não chegou primeiro pra acabar com a sua vida. Morrer seria muito pouco pra você.

ARMANDO
Quando eu sair da cadeia, te corto em pedacinhos. Não esquece que a justiça tá a meu favor. Sou rico, poderoso…

BRUNO
Era. Já foi. Ainda hoje, a juíza vai mandar passar todos os teus bens pro Carlos Eduardo. Ao contrário de você, ele quer devolver tudo que veio de roubo, de chantagem, de fraude.

ARMANDO (gargalha)
Muito bonito, não? Esse fedelho me envergonha a cada dia.

CENA 35. BAR. FRENTE. EXT. NOITE.

A sonoplastia para. Fábio conversa com Sandro. Eles estão sentados a uma mesa no exterior do bar e bebem cerveja.

FÁBIO
A sua mãe errou, sim. Você está certo. Mas não pensa que ela não se arrependeu e que ela não se culpava todos os dias por ter te abandonado. Ela sofreu mais do que outra coisa. Fui testemunha por todos esses anos. Se ela não te procurou antes, foi porque ela sabia que estava melhor lá em Goiânia. Eu sei que você também sofreu muito, perdeu o chão, quando perdeu aquele que o criou com tanto amor. Nunca pude ser pai, mas vejo você como um filho. Por isso, esquece essa ideia de se vingar da sua mãe.

SANDRO
E por que deveria?

FÁBIO
Por tudo isso que te falei agora.

SANDRO
Se ela sofreu com minha falta, foi merecido. Isso que ela fez não é ser mãe.

FÁBIO
Não? É o que é ser mãe, então? Criar os filhos do jeito que a Helena fazia? Você preferia mesmo que a Gioconda te maltratasse por tudo que era motivo, apenas porque a vida dela se tornara uma tragédia? A Helena só faltou matar a filha que engravidou do amante das duas. Uma coisa eu aprendi na vida. Às vezes uma mãe precisa deixar o filho pra protegê-lo.

SANDRO
E deixar na porta de um desconhecido qualquer? Ou no saco plástico dentro do rio, como tantas fazem?

FÁBIO
Ou quem sabe deixá-lo pro pai criar.

SANDRO
Até parece.

FÁBIO
Sandro, o Chico é teu pai!

Sonoplastia: choque. Sandro olha incrédulo para Fábio. Efeito de fim de capítulo: imagem congela; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Publicidade

Inscreva-se no WIDCYBER+

O novo canal da Widcyber no Youtube traz conteúdos exclusivos da plataforma em vídeo!

Inscreva-se já, e garanta acesso a nossas promocionais, trailers, aberturas e contos narrados.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo