PARTES DE MIM
NOVELA DE:
RAMON SILVA
ESCRITA POR:
RAMON SILVA
PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO
ALFREDO
GLÓRIA
MARTA
SOL
PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS:
FIGURAÇÃO
CENA 01. CIDADE DE SÃO PAULO. EXT. DIA.
LETREIRO: SÃO PAULO, 1999. Mostramos um clipe bem caprichado daquela época na cidade. Carros, pessoas passando pela CAM. Mostramos por último a fachada da mansão Moraes, no bairro do Morumbi. Já ouvimos a voz de Sol vindo da próxima cena.
SOL — (OFF, Chorando) É inacreditável que uma coisa dessas aconteceu, mãe….
CORTA PARA:
CENA 02. MANSÃO MORAES. QUARTO DE SOL. INT. DIA.
Atenção Sonoplastia: Instrumental triste entra aqui.
Sol deitada no colo de Glória que está a fazer cafuné na filha.
GLÓRIA — Filha, eu sei que é difícil aceitar que seu pai se foi, mas… Ele estava sofrendo demais!
SOL — (Chora) Eu sei, mãe. Mas mesmo assim dói demais!
GLÓRIA — Eu sei, filha. Acredite, tá doendo demais em mim também, mas se Deus quis assim, quem somos nós para contestar?
SOL — (Chora) Só de lembrar dele ontem… Ele ali me olhando com aquele olhar… Eu nunca vou me esquecer disso!
GLÓRIA — Calma, filha. Seu pai foi um bom homem. Com certeza ele está lá no céu agora.
SOL — (Chora) Tomara, mãe… Tomara. Parece que ele sabia que isso ia acontecer. Ontem ele segurou em minha mão e chorou muito. Eu fiquei sem entender e agora tá aí a resposta. Ele estava se despedindo de mim.
Glória abraça a filha que continua a chorar. Instantes. Tristeza.
CORTA PARA:
CENA 03. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. DIA.
Marta ali sentada, quando arremata.
MARTA — (P/si) Com certeza isso tudo é drama da Sol… Ela nem ligava pro pai dela. Aí depois que morre fica aí fazendo todo esse showzinho! Ela pode até conseguir enganar os outros, mas a mim ela não engana não!
Glória vem da cozinha.
GLÓRIA — Falando sozinha, Marta?
MARTA — (Se levanta) Não, dona Glo! Eu só estava/
GLÓRIA — (Corta) Quantas vezes eu vou ter que falar que não gosto de ser chamada desse jeito? Principalmente por você!
MARTA — Desculpe dona Glo…
Glória encara ela seriamente que completa a frase.
MARTA — …ria
GLÓRIA — Menos mal. É assim que tem que ser. Leve uma água com açúcar pra Sol que ela não está nada bem.
MARTA — Sim, senhora.
Glória volta para a sala. Marta arremata preparando a água com açúcar.
MARTA — (P/si) Dramática demais essa Sol!
CORTA PARA:
CENA 04. MANSÃO MORAES. QUARTO DE SOL. INT. DIA.
Sol ali deitada, lágrimas estão escorrendo pelo seu rosto. Marta bate na porta e entra arrematando.
MARTA — Com licença, Sol.
SOL — Oi, Marta. Entre!
Ela se aproxima e entrega a água a Sol que bebe tudo.
MARTA — Você está bem?
SOL — Não muito! Acabei de enterrar o meu pai.
MARTA — Sei bem como é isso. Eu mesma passei por isso quando a minha vozinha morreu. Eu sofri demais. Ela era a pessoa que eu mais gostava da minha família.
SOL — Mas e os seus pais?
MARTA — Com esses daí eu não quero mais ideia.
SOL — Por quê?
MARTA — Nada não, Sol! Estou aqui para falarmos de você.
CORTA PARA:
CENA 05. CIDADE DE SÃO PAULO. EXT. ANOITECER.
Takes descontínuos do anoitecer no ano de 1999.
CORTA PARA:
CENA 06. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.
Glória com Alfredo ali. Os dois estão sorrindo.
GLÓRIA — Eu sei que não deveria tá rindo. Afinal de contas, eu acabei de enterrar o meu marido, mas é impossível ficar séria perto de você, Alfredo!
ALFREDO — Desculpe, dona Glória. Eu também não deveria está fazendo piadinhas, mas eu creio que o seu Silvestre ia querer nos ver assim, felizes!
GLÓRIA — Verdade. Do jeito que o Sil era, ele ia querer nos ver felizes mesmo. Ele odiava clima de baixo astral.
ALFREDO — É. Com ele era sempre alegria. Uma pena que o meu sogrão do coração não está mais entre nós.
Glória meneia a cabeça concordando.
ALFREDO — Mas e a minha Sol, como ela está?
GLÓRIA — Está lá em cima trancada. Parece que a Sol era a menos preparada pra isso. Graças a Deus eu já fui me conformando quando o médico disse que o câncer dele estava em estado avançado.
ALFREDO — (Muxoxa) Uma pena…. Coitadinha da Sol.
GLÓRIA — Acredite, Alfredo… Não está sendo nada fácil pra nós duas.
CAM mostra Marta escondida ouvindo a conversa dos dois. Ela vai para a cozinha.
CORTA PARA:
CENA 07. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. NOITE.
Marta vem da sala e ali ela arremata.
MARTA — (P/si, feliz) Não acredito que ele tá aqui. Tão lindo. Não sei o que ele viu nessa sem sal. Sou muito mais eu pra ele do que aquela dramática sem graça!
CORTA PARA:
CENA 08. MANSÃO MORAES. QUARTO DE SOL. INT. NOITE.
Sol ali deitada cabisbaixa, abraçada com uma foto de Silvestre. CAM detalha a foto. Glória entra.
GLÓRIA — Oh, filha… Levanta daí!
SOL — (Dramática) Eu não sei se tenho razão para viver. Uma das principais pessoas da minha vida não está mais aqui.
GLÓRIA — Ei! E eu, o Alfredo? Nós somos importantes na sua vida, não somos?
SOL — Claro que são! Vocês dois agora são as únicas pessoas que realmente importam.
GLÓRIA — Então filha… Por que não usar isso como uma espécie de motivação? Se o Alfredo e eu somos importantes na sua vida, então nós precisamos de você e você da gente! Mas você tem que deixar a gente te ajudar. Ficar aqui deitada nessa cama não vai adiantar de nada. Infelizmente nada trará o seu pai de volta!
SOL — A senhora tem razão, mãe! Eu tô até começando a me convencer de que talvez foi melhor assim. Dói… Dói demais saber que ele não estará mais aqui, porém, ele estava sofrendo demais com essa doença.
GLÓRIA — Filha… Pensa da seguinte forma: seu pai, ele não morreu, ele descansou! Essa maldita dessa doença estava acabando com ele.
SOL — O Alfredo ainda está aí?
GLÓRIA — Sim. Ele estava querendo te ver.
SOL — Não tô nem com cabeça pra pensar no que vestir.
GLÓRIA — Vem, eu te ajudo!
As duas abrem o guarda roupa e tiram algumas peças de roupas.
CORTA PARA:
CENA 09. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Alfredo ali sentado. Marta vem da cozinha e arremata.
MARTA — Oi. Com licença!
ALFREDO — Pois não?
MARTA — Eu não queria incomodar, mas… Eu trabalho aqui na casa.
ALFREDO — É… Deu pra perceber. Você está usando uniforme.
MARTA — (Cai na real) É mesmo. Mas eu vim aqui perguntar se o senhor deseja alguma coisa?
ALFREDO — Que isso? Não precisa me chamar de senhor não. Afinal de contas, nós dois devemos ter a mesma idade.
MARTA — É. Só que ao contrário de mim, você e a Sol deram sorte de nascer numa família em que é mais… Abundante, vamos dizer assim.
ALFREDO — (Sorrir) Verdade. Mas você não deveria se sentir assim por ter nascido pobre. Se tem uma coisa que eu aprendi é que as dificuldades te ensinam coisas.
MARTA — Você aprendeu isso? Deixa de onda, vocês não sabem o que nós pobres passamos.
ALFREDO — Acredite… Eu gosto muito de conversar com as pessoas e elas sempre me relatam esse tipo de coisa…
Os dois continuam a conversar fora de áudio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 10. MANSÃO MORAES. QUARTO DE SOL. INT. NOITE.
Sol sentada, já vestida com outra roupa. Gloria ali penteando o cabelo da filha.
GLÓRIA — (Sorrir) Pentear o seu cabelo me traz tantas lembranças… Tempos que não voltam mais…
SOL — Mãe… Agora que o papai não está mais aqui eu fico pensando… Será que não seria melhor se um homem morasse com a gente?
GLÓRIA — Não sei, filha. Mas por que isso agora?
SOL — Nada não. Eu só estava pensando aqui.
GLÓRIA — Não vem com essa não que a mim você não engana, Solange Moraes! Eu sei muito bem que você quer que o Alfredo venha morar com a gente. Acertei, não acertei?
SOL — Acertou. Eu só não propus isso antes porque eu tinha cisma do papai, sabe?
GLÓRIA — Sei. E do jeito que o Silvestre era, ele não aceitaria mesmo não.
SOL — Mas e então, mãe? O que a senhora me diz?
GLÓRIA — Olha, filha… Por mim tudo bem, mas você tem que saber do Alfredo. Será que ele vai querer vir morar aqui?
SOL — Não sei. Mas vamos acabar logo com essa dúvida e perguntar ele.
As duas saem do quarto.
CORTA PARA:
CENA 11. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Alfredo e Marta ali sorrindo. Sol e Glória descem a escada.
GLÓRIA — Mas o que é que é isso, gente?
SOL — É! Será que eu posso saber o que está acontecendo aqui?
Closes alternados em todos sérios. Instantes. Suspense. Tensão.
CORTA PARA:
INTERVALO COMERCIAL
CENA 12. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Continuação imediata da cena anterior.
ALFREDO — Que isso, meu amor? Eu só estava aqui conversando com a Marta, que por sinal é gente boa.
SOL — Mas a Marta deveria estar colocando a mesa do jantar!
GLÓRIA — Concordo! Ela não é paga pra ficar sentada conversando!
MARTA — (Se levanta) Desculpe dona Glória e Sol. Eu só vim aqui ver se o rapaz precisava de alguma coisa.
SOL — O MEU namorado está bem, Marta. Agora você pode ir.
MARTA — (Saindo) Com licença!
Ela vai para a cozinha.
ALFREDO — Que isso, gente? Também não precisava tratar ela desse jeito, né?
GLÓRIA — Claro que precisava! Esses empregados são folgados demais! Se não dermos um basta neles, a folga tende a aumentar!
CORTA PARA:
CENA 13. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. NOITE.
Marta ali arrumando as coisas para o jantar.
MARTA — (P/si, sorrir) Tá na cara que o Alfredo simpatizou comigo. A outra ficou se mordendo de ciúmes… Mas é isso mesmo que eu quero! Um homem lindo daqueles com uma mulher como a Sol, é inacreditável!
GLÓRIA — (OFF, Gritando) Anda, Marta! Estamos com fome!
MARTA — (Grita) Já vai dona Glória! (P/si) Véia chata!
Ela vai pra sala com duas travessas.
CORTA PARA:
CENA 14. MANSÃO MORAES. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.
Alfredo, Glória e Sol sentados à mesa. Marta terminando de servir o jantar.
GLÓRIA — Parece está ótimo, Marta!
MARTA — Fiz exatamente como a senhora falou.
GLÓRIA — É, mas quem dá o veredito sou eu!
MARTA — Sim, senhora, com licença.
Marta vai para a cozinha. Todos provam da comida.
SOL — Nossa! A comida está ótima!
GLÓRIA — Está mesmo. Por incrível que pareça, a Marta se superou dessa vez.
ALFREDO — Com todo respeito. Mas a Marta sempre fez comidas deliciosas! Todas as vezes que eu filei boia aqui, a comida estava divina!
SOL — (Ciúme) Que isso, Alfredo? Mal falou com a empregada e já tá assim, é?
ALFREDO — Assim como?
SOL — Não me diga: assim como! Você tá aí enchendo a bola da Marta.
ALFREDO — Só por que eu disse que a comida está boa? Sério mesmo que você quer iniciar uma discussão por causa disso?
GLÓRIA — Gente, pelo amor de Deus! Antes que vocês comecem… Eu me sinto na obrigação de lembrá-los que o Silvestre acabou de ser enterrado! E outra… O intuito desse jantar aqui é outro! Esse jantar tem outra finalidade.
Closes alternados em Alfredo e Sol que se olham seriamente. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 15. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. NOITE.
Marta vem da sala esfregando as mãos e sorrindo.
MARTA — (P/si) Isso! É isso mesmo que eu gosto de ver! Comigo aqui, o Alfredo vai perder a libido pela Sol e vai me querer! Ele vai me desejar!
Ela fica ali sorrindo, vai até a mesa e se senta.
MARTA — (P/si, sonha) Acho que os nossos filhos seriam lindos! Eu sou maravilhosa e ele não é de se jogar fora. Com certeza a nossa família seria linda! Mas pra isso acontecer, a Sol tem que sair dos nossos caminhos! Mas como eu posso tirar ela de cena?
Ela fica ali pensativa. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 16. CIDADE DE SÃO PAULO. EXT. NOITE.
Takes descontínuos da cidade em 1999, o passar de algumas horas.
CORTA PARA:
CENA 17. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Alfredo, Glória e Sol ali sentados.
GLÓRIA — O papo tá muito bom, mas… Eu vou me deitar um pouco. A minha enxaqueca tá atacada hoje!
Ela se levanta.
SOL — Claro, mãe. Vai lá descansar.
GLÓRIA — (P/Alfredo) Fique à vontade, Alfredo!
ALFREDO — Obrigado, dona Glória! Melhoras!
Ela sobe a escada.
ALFREDO — (Olha p/relógio) Tá ficando bem tarde, né?
SOL — Pois é…
ALFREDO — (Se levanta) Acho melhor eu ir…
SOL — (Se levanta) Ainda não! Eu ainda não te falei qual é a finalidade do jantar.
ALFREDO — Pois então diga!
SOL — Logo que o papai não está mais aqui entre nós, eu andei pensando e a mamãe disse que se você aceitasse ela está de boa.
ALFREDO — (Não entende) Está de boa? Do que é que você está falando, Sol?
SOL — Nós queremos que você venha morar aqui!
ALFREDO — Como é que é?
SOL — É isso mesmo que você ouviu! Nós queremos um homem morando nessa casa.
ALFREDO — Olha, meu amor… Eu não sei se isso é uma boa ideia.
SOL — Claro que é! Nós dois poderíamos dormir juntinhos lá no meu quarto.
ALFREDO — Verdade?
SOL — É. Esse sempre não foi o seu sonho?
ALFREDO — Foi! Eu sempre quis dá uns pegas em você lá.
SOL — Então por que não fazemos isso agora?
ALFREDO — É pra já!
Ele a surpreende pegando-a no colo. Os dois sobem a escada. CAM mostra Marta olhando tudo.
MARTA — (P/si, invocada) Droga!
Ela fica ali indignada. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 18. MANSÃO MORAES. QUARTO DE SOL. INT. NOITE.
Atenção Sonoplastia: Entra aqui a música tema do casal. (Romântica).
Eles ali se beijando intensamente. Corte descontínuo. Eles debaixo do edredom no “rala e rola”. Instantes. Romance.
CORTA PARA:
CENA 19. SÃO PAULO. EXT. AMANHECER.
Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.
Takes descontínuos dos pontos turísticos da cidade em 1999. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 20. MANSÃO MORAES. SALA DE JANTAR. INT. DIA.
Mesa farta: Glória ali sentada tomando seu café. Marta vem da cozinha com um bolo e o coloca sobre a mesa.
MARTA — Dona Marta, não querendo ser intrometida.
GLÓRIA — Mas já sendo…
MARTA — Exatamente. A Sol tá bem? É que ela ainda não desceu pra tomar café.
GLÓRIA — Esquece a Sol, Marta. Acho que o Alfredo dormiu aqui essa noite. Cá entre nós… Eu ouvi alguns barulhos suspeitos.
MARTA — (Curiosa) Ah é? E que tipo de barulhos suspeitos?
GLÓRIA — Não te interessa!
MARTA — Que isso, dona Glo…
Glória a encara seriamente e ela completa.
MARTA — …ria.
GLÓRIA — Vai cuidar dos seus serviços que você ganha mais, Marta!
Ela vai para a cozinha.
GLÓRIA — (P/si) Essa empregadinha tá muito folgada pro meu gosto!
CORTA PARA:
CENA 21. MANSÃO MORAES. JARDIM. EXT. DIA.
Marta ali caminhando. Ao fundo há um jardineiro ali cuidando do jardim.
MARTA — (P/si) Com certeza os dois se divertiram à beça a noite toda… Mas isso ainda vai chegar ao fim! (Muxoxa) Poxa, por que a Sol consegue manter um relacionamento e eu não? Já foram cinco caras e todos eles correm de mim! O que será que tem de errado comigo? Será que eu sou meio hostil ou agressiva? Não… Eu não sou assim. Eu tenho que descobrir o que faz os homens fugirem de mim.
Ela fica ali intrigada. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 22. MANSÃO MORAES. SALA DE JANTAR. INT. DIA.
Glória ali terminando seu café da manhã. Alfredo e Sol vem.
SOL — Acordada a essa hora, mamis?
GLÓRIA — E você acha que isso são que horas? Já está tarde, minha filha.
SOL — Nossa! Eu nem vi o tempo passar.
Os dois se sentam a mesa com Glória arrematando.
GLÓRIA — É… Posso bem imaginar… Já que eu ouvir algumas coisas lá do meu quarto.
SOL — (Preocupada) Como assim? A senhora ouviu o quê?
GLÓRIA — Nada demais, apenas barulhos!
SOL — A senhora não ficou atrás da porta não, né?
GLÓRIA — Claro que não, Sol! A última coisa que eu faria era ficar atrás da porta ouvindo vocês dois fazerem saliência!
ALFREDO — A senhora me desculpa, dona Glória! Eu sei que o que a gente fez não foi correto!
GLÓRIA — Eu sei disso!… Mas agora que vocês já fizeram não tem porquê eu falar alguma coisa.
ALFREDO — Viu só, Sol? Você ficou preocupada à toa!
GLÓRIA — Homens sempre são ordinários! É natural que você queria fazer essas coisas dentro de um local do qual até alguns meses atrás tinha um general que não deixava passar nada.
SOL — Verdade. Papai parecia aqueles cães farejadores da polícia! Se ele pressentisse que tinha alguma coisa errado, ele investigaria até saber o que é.
GLÓRIA — (Sorrindo) Tá aí uma das coisas que fizeram com que eu me apaixonasse pelo meu Sil.
Eles permanecem conversando fora de áudio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 23. CIDADE DE SÃO PAULO. EXT. DIA.
Takes descontínuos da cidade em 1999, no último deles o seguinte Letreiro: MESES DEPOIS.
CORTA PARA:
CENA 24. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Glória ali sentada. Sol em pé, quando de repente começa a sentir uma tontura. Rapidamente, Glória a coloca sentada no sofá. Fora de áudio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 25. MANSÃO MORAES. CORREDOR. INT. NOITE.
Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.
Glória vem caminhando e ouvindo alguma coisa, mas não ouvimos, pois estamos fora de áudio. Ela chega a porta do banheiro e fica ali meneando a cabeça negativamente. CAM mostra Sol no banheiro vomitando no vaso sanitário.
CORTA PARA:
CENA 26. MANSÃO MORAES. QUARTO DE SOL. INT. DIA.
Sol ali sentada pensativa. Glória entra com uma sacolinha.
GLÓRIA — Pronto! Vamos acabar com esse ponto de interrogação que está sobre essa casa!
MARTA — (Não entende) Como assim, mãe?
GLÓRIA — A princípio, todos esses sintomas que você está sentindo são de gravidez.
MARTA — (Sorrir) Não! Será que eu tô grávida, mãe?
GLÓRIA — Não sei filha! Por isso eu fui até a farmácia e trouxe uma resposta.
CORTA RÁPIDO PARA:
CENA 27. MANSÃO MORAES. CORREDOR. INT. DIA.
Marta ali atrás da porta ouvindo.
GLÓRIA — (OFF) Mas pra acabar logo de uma vez por todas com isso… Eu comprei esse teste de farmácia.
SOL — (OFF) Cruzes, mãe! Olha o tamanho disso! Eu vou ter que enfiar isso lá na…?
MARTA — (P/si, sorrindo) Tola!
GLÓRIA — (OFF) Claro que não, Sol! Vem que eu vou te ensinar como fazer!
Marta entra em outro quarto. As duas saem do quarto.
SOL — Mas é muito difícil fazer isso, mãe?
GLÓRIA — Não! É a coisa mais simples do mundo!
As duas entram no banheiro. Marta ali da porta do quarto arremata.
MARTA — (P/si) Era só o que me faltava. Já é feliz com o Alfredo e agora ainda arruma filho! Desgraçada!
Fecha nela ali séria. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
FIM DO 1º CAPÍTULO