PARTES DE MIM
NOVELA DE:
RAMON SILVA
ESCRITA POR:
RAMON SILVA
PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO
ADRIANA
ALFREDO
ANA
BRUNA
CARLITO
CRISTINA
FLÁVIA
GAEL
GLÓRIA
JANDIRA
JULIANA
KARINA
MARTA
MAZÉ
MIGUEL
MURILO
RENATA
RICARDO
ROSANGELA
SOL
VICENTE
PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS:
LUCAS, POLICIAIS.
CENA 01. APART DE FLÁVIA. QUARTO MURILO. INT. NOITE.
Atenção Sonoplastia: Entra aqui um instrumental triste.
Murilo ali deitado na cama, tristinho… Lágrimas escorrem por seu rosto. Instantes e Flávia entra.
FLÁVIA — Filho…? Como você tá?
Ele não responde se vira pra parede. Ela se aproxima dele e arremata.
FLÁVIA — Filho, não fica assim. Tira da cabeça essa ideia de que seu pai não te ama. Poxa, ele te adora.
MURILO — (Se vira) Adora, é? Se adorasse mesmo de verdade, ia me ver jogar! Todos os meus colegas perguntam pelo meu pai e eu sempre digo que ele é um homem muito ocupado no trabalho. E sabe o que eles me dizem?
FLÁVIA — Não. O que eles te dizem?
MURILO — Que meu pai não vai me ver jogar porque não gosta de mim e porque eu jogo muito mal e ele ia passar vergonha!
FLÁVIA — Não fale assim, meu filho. Você não vai deixar esses garotos colocarem essas ideias sem sentido na sua cabeça, vai?
MURILO — Se bem que por um lado eles tem razão! Se meu pai não foi me ver até hoje…. É porque tem alguma coisa de errado comigo.
FLÁVIA — Não! Não tem nada de errado com você, Murilo! E seu pai te ama sim. Pode ter certeza que a mamãe aqui vai fazer de tudo pro seu pai ir no próximo jogo. Quando é o próximo jogo?
MURILO — Semana que vem.
FLÁVIA — Então pode ter certeza que seu pai vai estar lá na plateia torcendo pra você fazer um gol lindo. Tá bom?
Fecha em Murilo desacreditado. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 02. CONSTRUTORA MACEDO. SALA VICENTE. INT. NOITE.
CAM ali focada na porta. Ana entra com uma pasta e se assusta.
ANA — (Se assusta) Ai que susto!
CAM revela que Vicente está ali sentado.
VICENTE — Assustada por que, Ana? Afinal de contas, esta sala aqui me pertence.
ANA — Sim, eu sei. Mas eu pensei que a essa hora todos já tinham ido embora.
VICENTE — Quase todos foram. Eu estou aqui sentado refletindo sobre o que é a vida.
ANA — Ah sim. Eu entrei aqui pra deixar na sua mesa essa pasta que o Ricardo deixou comigo.
VICENTE — Ah sim. (Pega a pasta) E você já está de saída?
ANA — Sim. Eu já passei da hora.
VICENTE — Espere. Sente-se. Quero ter uma conversa com você.
ANA — Poxa, seu Vicente. Não pode ser amanhã não?
VICENTE — Não. Eu quero conversar com alguém hoje. Sente-se.
Ela se senta e ele também.
VICENTE — Sabe, Ana…? Eu andei pensando muito sobre o que eu tenho feito ultimamente. E aí eu cheguei a seguinte conclusão: “o que eu estou fazendo da minha vida?”. Sim, porque eu não tenho feito nada que preste ultimamente.
ANA — Que isso, seu Vicente? E essa construtora aqui que é a mais bem requisitada do Rio?
VICENTE — Isso aqui é só um bem material e fruto de muitos anos de trabalho e dedicação.
ANA — Nossa! E do jeito que o senhor fala até parece que é pouco!
VICENTE — É que mesmo sendo dono dessa construtora, eu sinto que ainda não cumpri a minha missão.
ANA — (Não entende) Como assim?
VICENTE — Pense bem…. Será mesmo que a minha missão aqui na terra era ser proprietário dessa construtora ou será que eu teria outra ocupação? E se eu tiver fazendo uma coisa da qual não foi designado a mim? Você já parou pra pensar nisso?
Ana meneia a cabeça que não e ele volta a falar fora de áudio. Ela olha pro relógio agoniada. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 03. HOTEL DE LUXO. RESTAURANTE. INT. NOITE.
Restaurante com movimento mediano. Clima sofisticado. Sol e Glória ali sentadas a mesa jantando.
GLÓRIA — Esse hotel aqui é o paraíso mesmo. Olha só que restaurante mais chique.
SOL — Verdade. Me sinto muito importante aqui.
GLÓRIA — Até agora eu não vi nada de errado com esse hotel. É nota 10 pra tudo.
SOL — Milagre. A senhora reclama de tudo. Quando acha alguma coisa que gosta e não reclama eu fico até surpresa.
GLÓRIA — Que horror, Sol! Do jeito que você fala até parece que eu sou ranzinza.
SOL — Mas agora deixando essa conversa de lado, a senhora precisa conhecer a Karina. Ela é uma jovem adorável.
GLÓRIA — Do jeito que você fala dessa menina até parece que nunca conheceu uma jovem.
SOL — Igual a ela não! Ela tem um jeito diferente, sabe? Tem um estilo humilde.
GLÓRIA — Então é pobre!
SOL — Aí é que a senhora se engana! Ela disse que o pai é diretor financeiro de uma construtora e que a mãe dela é jornalista. Quer uma família mais bem estruturada do que essa?
Fecha em Glória. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 04. APART DE VICENTE E CRIS. SALA. INT. NOITE.
Cris chega do trabalho.
CRISTINA — Alguém nessa casa gente?
Adriana vem da cozinha.
ADRIANA — Oi, mãe.
CRISTINA — Ah você tá aí. Pensei que a casa tava vazia.
ADRIANA — Não, eu estou aqui. Como foi o dia na construtora hoje?
CRISTINA — Você não vai acreditar no que eu descobrir.
ADRIANA — (Curiosa) O quê?
CRISTINA — Acho que descobrir quem é o tal cliente. Quer dizer… A tal cliente.
ADRIANA — É mulher?
CRISTINA — É. E parece que o nome da mulher é Flávia.
ADRIANA — Como a senhora descobriu isso?
CRISTINA — Eu acabei descobrindo sem querer. Estava dando uma olhada no sistema da empresa e acabei vendo uma ligação que ele fez pra essa tal Flávia.
ADRIANA — (Duvidando) Sem querer… Sei!
CRISTINA — Foi sem querer mesmo. Mas isso foi bom. Eu falei pro Vicente que eu quero conhecer essa tal de Flávia e que enquanto eu não conhecer essa mulher, ele não entra nessa casa!
Closes alternados nas duas. Adriana surpresa com a mãe e Cristina determinada. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 05. APART DE RICARDO E RÔ. SALA. INT. NOITE.
Ricardo ali sentado lendo um livro. Rosangela chega do trabalho.
ROSANGELA — Boa noite, Ricardo.
Ele nem olha e continua a ler o seu livro.
ROSANGELA — Nossa! Depois ainda diz que eu não te dou atenção.
RICARDO — Isso aqui é exatamente o que você tem feito comigo ultimamente.
ROSANGELA — Ainda isso, Ricardo? Eu nem vou me dar ao trabalho de te responder que você sabe muito bem o que está me deixando desse jeito.
RICARDO — Sei. Sei muito bem o que está te deixando desse jeito. E não é essa tal promoção, não é? Você sempre foi assim. Sempre ambiciosa por crescer naquela redação. Sempre querendo uma promoção, sempre querendo subir.
ROSANGELA — Meu amor… Quantas vezes eu vou ter que te dizer que eu estou trabalhando possessivamente só agora até ganhar a promoção? Eu prometo pra você que quando eu conseguir. Eu vou passar mais tempo com a nossa família!
RICARDO — Eu adoraria acreditar nisso! Mas infelizmente não tem como porque eu sei que não é verdade! Sabe o que eu tenho vontade de fazer?
ROSANGELA — Hum.
RICARDO — De chamar a sua mãe pra cá e ver se ela coloca alguma coisa na sua cabeça.
ROSANGELA — Pelo amor de Deus! Mamãe não! Aquela lá só iria atrapalhar a minha vida!
RICARDO — Então trate de mudar! Ou pelo menos finja! Caso contrário… A sua mãe vai morar conosco nesta casa!
Ele vai para o quarto e ela fica ali aflitíssima e bufa. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 06. CASA DE CARLITO E MAZÉ. SALA. INT. NOITE.
Carlito ali sentado assistindo TV. Mazé chega do serviço.
MAZÉ — Não sai desse sofá, hein!
CARLITO — Boa noite pra você também nega.
MAZÉ — Não. Não tem boa noite não. Pra uma mulher que rala igual uma condenada não tem boa noite. E o marido? Aí deitado no sofá!
CARLITO — Que isso, nega? Pra que essa agressividade toda? Chega calma. Olha que o estresse dá rugas!
MAZÉ — Olha, Carlito, eu não vou nem te responder porque eu tô cansada demais pra iniciar uma discussão!
CARLITO — Ué. Mas se tá cansada demais pra iniciar uma discussão então por que já chegou discutindo?
MAZÉ — Porque isso está nas minhas reservas de energia! É impossível chegar aqui e ficar calada ao dar de cara com você aí esparramado nesse sofá!
CARLITO — Poxa, nega. Eu já te disse que a lombar tá me deixando quase paraplégico!
Se aproxima dela e recua.
MAZÉ — (Agressiva) Quase paraplégico quem vai te deixar sou eu!
CARLITO — Nossa, nega! Hoje você chegou com a macaca, hein!
MAZÉ — Macaca? Além de tudo inda me chama de macaca.
CARLITO — Não, nega. Eu disse que você estava com a macaca e não que você era a macaca!
MAZÉ — (Joga o sapato nele) Não quero saber! Não adianta vir com desculpinha não que você me chamou de macaca!
Ele se esconde atrás do sofá. Ela vai para o quarto. Ele sobe o braço para se certificar de que ela não está mais ali e sobe devagar para olhar, quando arremata.
CARLITO — (P/si) O que deu nessa mulher gente? Eu nunca vi ela desse jeito.
Ele fica ali com os olhos arregalados de espanto. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 07. CONSTRUTORA MACEDO. RECEPÇÃO. INT. NOITE.
Ana sai da sala de Vicente e respira mais aliviada. Ela vem até sua mesa e pega sua bolsa já arrematando.
ANA — (P/si) Graças a Deus eu conseguir sair. Oh homem pra falar, viu!? Tá carente? Compra um hamster! Logo que as coisas já estão assim, é melhor eu nem mostrar o que eu encontrei na sala dele!
Ela chama o elevador.
CORTA PARA:
CENA 08. APART DE ALFREDO E RENATA. SALA. INT. NOITE.
Bruna ali sentada mexendo no cel. Alfredo chega do trabalho.
ALFREDO — Oi, filha.
BRUNA — Ah, oi, pai.
ALFREDO — Cadê sua mãe?
BRUNA — Tá lá no quarto.
ALFREDO — Ah, tá. Mas e você?
BRUNA — O que tem eu?
ALFREDO — O que você faz aí mexendo nesse celular?
BRUNA — Tô aqui vendo a vida dos outros no face.
ALFREDO — Ah sim. (Olha no cel. dela) Quem é esse garoto?
BRUNA — Ih, pai. Para de ser enxerido!
ALFREDO — Enxerido? Eu quero saber quem é esse garoto aí.
BRUNA — Calma que é só um garoto lá da escola.
ALFREDO — Sim, mas o que esse garoto significa pra você?
BRUNA — (Se levanta) Eu não vou ter esse tipo de conversa com o senhor.
ALFREDO — E por que não? Eu não sou bom o suficiente pra conversar sobre essas coisas, é isso?
Ela vai para o quarto, volta e arremata.
BRUNA — Ah, já ia me esquecendo…. Vai lá no quarto que a dona Renata deve ter uma surpresa pro senhor.
ALFREDO — Uma surpresa? Do que é que você tá falando garota?
BRUNA — Não sei.
Ela vai para o quarto sorrindo e Alfredo fica ali sem entender nada.
ALFREDO — (P/si, intrigado) Do que será que ela tá falando? (Indo p/quarto) A Renata vai ter que me dizer que surpresa é essa.
CORTA PARA:
CENA 09. APART DE RICARDO. QUARTO KARINA. INT. NOITE.
Karina ali deitada pensativa. Há um diário ali na cama.
KARINA — (P/si) Uma pena que minha mãe não é assim como a Sol. Eu gostaria muito de ter uma conversa com a minha mãe, mas…. Nunca é possível pelo vício dela em trabalho! (Olha pro diário) Se eu não tenho ninguém pra me ouvir… Eu tenho que recorrer a você querido diário. Se bem que eu tô bem velhinha pra isso.
Ela joga o diário ali sobre a cama. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 10. APART DE FLÁVIA. SALA. INT. NOITE.
Jandira ali sentada. Flávia vem do quarto de Murilo.
JANDIRA — Como ele tá?
FLÁVIA — Na mesma.
JANDIRA — Tá vendo só o que a mentira pode fazer? Eu sempre soube que isso aconteceria um dia.
FLÁVIA — Pelo amor de Deus, mãe! Sermão agora não! Tô aqui de cabeça quente com isso e ainda vem a senhora falando.
JANDIRA — Tá, não tá mais aqui quem falou.
Flávia fica ali indecisa. E começa a andar de um lado para o outro, olha pra mãe.
JANDIRA — O que foi, Flávia?
FLÁVIA — O que a senhora acha que eu devo fazer?
JANDIRA — Engraçado que é só nesses momentos que você pede a minha opinião. Tá, tudo bem. Eu sei que vou me arrepender disso, mas… A única coisa que você pode fazer é chamar o Vicente. Só ele pode tentar reverter essa situação.
FLÁVIA — A senhora tem razão. (Pega o cel.) Vou ligar pra ele agora mesmo!
Ele fica ali ligando.
CORTA PARA:
CENA 11. APART DE RENATA. QUARTO CASAL. INT. NOITE.
Renata e Alfredo ali sentados conversando.
ALFREDO — A Bruna disse que você tinha uma surpresinha pra mim. O que é?
RENATA — Não é nada não, meu amor. Essa garota adora inventar as coisas.
ALFREDO — Tem certeza?
RENATA — Tenho.
ALFREDO — Ah, tá. Ai, meu amor eu tenho medo que a nossa relação se desgaste um dia, sabe?
RENATA — Sério? Eu pensei que era só eu que tinha medo disso acontecer.
ALFREDO — Não é não. Eu também tenho medo.
RENATA — Mas por que você tá falando isso?
ALFREDO — É que eu tenho visto a Rosangela e o Ricardo. Pelo jeito as coisas não estão nada boas entre os dois.
RENATA — Sério? Mas quem é essa Rosangela?
ALFREDO — É a jornalista que eu te disse que trabalha demais e não tem tempo pra família.
RENATA — Nossa! Deve ser horrível pro marido dela, né?
ALFREDO — Pois é. Mas o problema é que eles tem uma filha e a Rosangela não deve fazer bem o papel dela de mãe. Já eu sou oposto dela. Eu sempre faço questão de estar junto de vocês!
RENATA — (Sem graça) É verdade!
ALFREDO — Bom, agora eu vou tomar um banho.
Ele se levanta e vai para o banheiro fora do quarto.
RENATA — (P/si) Essa Rosangela é porque é viciada em trabalho e o Alfredo não percebe, mas a nossa relação não é mais aquela de antigamente.
CORTA PARA:
CENA 12. APART DE MARTA. SALA. INT. NOITE.
Marta e Miguel ali sentados. Gael chaga da rua.
MARTA — Ah… Lembrou que tem casa, é?
Closes alternados em todos. Gael sério. Instantes. Suspense. Tensão.
CORTA PARA:
INTERVALO COMERCIAL
CENA 13. APART DE MARTA. SALA. INT. NOITE.
Continuação imediata da cena anterior.
GAEL — Só vim buscar as minhas coisas.
MARTA — Como assim, meu filho? Você está indo pra onde?
GAEL — Não sei. Pra onde a vida me levar.
MARTA — Mas que loucura é essa, Gael? Aqui é a sua casa! É aqui que você deve ficar. Comigo e com o seu irmão.
GAEL — Não depois do que aconteceu.
MIGUEL — Não precisa sair, Gael. Eu saio.
MARTA — Mas o que é que é isso? Tudo mundo enlouqueceu? Ninguém vai sair dessa casa!
GAEL — Não precisa sair, Miguel. Eu tenho certeza que você fará mais falta do que eu. Fique, a dona Marta precisa de você.
Ele vai para o quarto. Marta olha Miguel e vai atrás de Gael arrematando.
MARTA — Espera aí, meu filho. Vamos conversar.
Miguel se senta no sofá, bufa, passa a mão na cabeça e arremata.
MIGUEL — (P/si) Até quando isso meu Deus do céu? Até quando?
Ele permanece ali aflito. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 14. APART DE MARTA. QUARTO GÊMEOS. INT. NOITE.
Gael já ali colocando algumas coisas numa bolsa grande de viagem. (Não é mala), Marta ali arrematando.
MARTA — Meu filho, não faça uma coisa dessas. Pra onde você vai?
GAEL — (Colocando roupa na bolsa) Não sei. Vou pegar meu carro aí e vou pra onde o destino mandar eu ir.
MARTA — Mas aonde você vai ficar, comer, dormir? Isso é loucura, Gael!
GAEL — (Colocando roupa na bolsa) Loucura é continuar morando nessa casa com vocês!
MARTA — Não faça isso, meu filho! Você quer que eu implore?
Marta se ajoelha.
GAEL — Mãe…. Mãe, para com isso!
MARTA — (Agarra na perna do filho) Não vai, meu filho! Eu não vou aguentar ficar longe sem ter notícias suas!
GAEL — Para com isso, mãe!
Ele tanta andar e ela o prende e arremata.
MARTA — Não! Você não vai sair daqui! Eu não vou deixar!
Fecha em Gael puto da vida. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 15. HOTEL DE LUXO. FRENTE. EXT. NOITE.
Sol e Glória ali encostadas num carro conversando e Glória fumando.
GLÓRIA — Filha, eu sei que você não gosta de conversar sobre isso, mas você já parou pra pensar que talvez está na hora de arrumar alguém?
SOL — Como assim?
GLÓRIA — Um companheiro.
SOL — De novo essa história, mamãe?
GLÓRIA — Pois é. Se você tivesse arrumado alguém eu não estaria voltando a esse assunto de novo. Poxa, minha filha. Você é nova ainda, é bonita. Não sei o que você faz aí perdendo tempo.
SOL — Eu acho que ainda não estou pronta pra outro relacionamento.
GLÓRIA — Mas filha, isso aconteceu há mais de vinte anos.
SOL — E a senhora acha muito? Eu sei que foi em 1999, mas mesmo assim eu ainda sinto que não conseguir ultrapassar essa barreira.
GLÓRIA — Mas você ainda está assim por causa do Alfredo?
Ela não responde nada.
GLÓRIA — Tá explicado! Você ainda não esqueceu o Alfredo. Como eu não pensei nisso antes?!
Fecha em Sol ali séria. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 16. APART DE MARTA. SALA. INT. NOITE.
Miguel ali. Gael vem do quarto com Marta agarrada em sua perna.
MARTA — Eu não vou deixar você sair dessa casa!
GAEL — Não adianta! Eu estou indo embora. Me ajuda com ela aqui, Miguel.
Miguel tira Marta da perna do irmão arrematando.
MIGUEL — Solta a perna dele, mãe. O Gael já é adulto e sabe muito bem o que ele está fazendo.
Ela solta e se levanta.
GAEL — Tá vendo? Ela precisa mais de você do que de mim.
Se aproxima do irmão e coloca a mão em seu ombro.
GAEL — Cuide bem da dona Marta.
Ele sai com Marta arrematando.
MARTA — (Chorando) Não, filho! Não vá! Fique! Aqui é a sua casa!
Ela continua a chorar e Miguel abraça a mãe. Instantes. Drama.
CORTA PARA:
CENA 17. CASA DE CARLITO E MAZÉ. COZINHA. INT. NOITE.
Juliana ali cozinhando. Mazé vem da sala.
MAZÉ — Oi, filha.
JULIANA — Ah, oi, mãe.
MAZÉ — Nossa! O cheiro está divino.
JULIANA — Gostou? Estou fazendo bife à parmegiana.
MAZÉ — Parece delicioso.
JULIANA — Ouvi quando a senhora chegou. Mais uma vez já brigando com o seu Carlito, né?
MAZÉ — Claro. O seu pai parece que tem titica na cabeça, não é possível.
JULIANA — Que isso, mãe? Também não fala assim, né?
MAZÉ — Falo! Falo sim! E não adianta você querer ficar defendendo o seu pai não que ele é todo errado!
JULIANA — Tá, eu concordo que essa historinha dele da lombar tá mais do que ultrapassada, mas eu acho que o seu Carlito precisa de um susto.
MAZÉ — Como assim?
JULIANA — Ah sei lá. Talvez ele precise de um choque de realidade pra tomar uma atitude e sair daquele sofá.
Fecha em Mazé pensativa. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 18. LEBLON. AVENIDA. INT/ EXT. NOITE.
Gael ali ao volante, sério. Atenção Sonoplastia: o cel. dele notifica mensagem. Ele pega e lê em voz alta.
GAEL — (P/si) Mensagem do Lucas? (Lendo) Vem que eu arrumei um carro top pra gente. (P/si) Tô indo!
Corta para fora do carro: Ele pisa no acelerador e o carro se afasta mais rapidamente da CAM. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 19. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.
Takes descontínuos da cidade, ao passar de algumas horas.
CORTA PARA:
CENA 20. ESTRADA RIO PETRÓPOLIS. EXT/ INT. NOITE.
Estrada vazia. Um carro tipo Ferrari se aproximando da CAM em alta velocidade. Corta para dentro do carro: Gael ao volante e Lucas no carona
GAEL — Rapaz, mas esse carro é demais!
LUCAS — Bom, não é?
GAEL — Bom é apelido! É ótimo! Roda como uma luva!
Corta para fora do carro: CAM vai buscar uma blitz policial mais à frente. A CAM dali mesmo mostra o carro passando em alta velocidade. Dois policias entram na viatura que sai disparada. Corta para dentro do carro:
LUCAS — Você ficou louco, cara?
GAEL — Eu não vi a blitz da polícia!
LUCAS — Agora só nos resta despistar os caras!
Corta para fora do carro: ele passa disparado. Logo atrás, ainda em desvantagem vem o carro da polícia também em alta velocidade.
CAM vai buscar um cachorro que ia atravessando a estrada. O carro vem em alta velocidade. E Gael vira o volante e o carro roda na pista. O carro da polícia se aproxima.
GAEL — É agora que a gente roda!
Os policias saltam do carro e com as armas apontadas para o carro e um deles arremata.
POLICIAL1 — Desçam do carro.
Eles seguem a ordem e um policial revista os dois.
POLICIAL2 — Estão limpos.
POLICIAL1 — Ótimo!
Os dois policias algemam eles. E os levam para a viatura.
GAEL — (Resistindo) Me solta. Eu não fiz nada. Eu sou inocente.
POLICIAL2 — Sei. Dirigindo a quase 200 km/h e não fez nada? Diga isso ao delegado.
Eles são colocados dentro da viatura.
LUCAS — Valeu mesmo, hein, Gael!!!
Fecha em Gael ali sério dentro da viatura. Instantes. Suspense. Tensão.
CORTA PARA:
FIM DO 16º CAPÍTULO