PARTES DE MIM

NOVELA DE:

RAMON SILVA

ESCRITA POR:

RAMON SILVA

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO

ADRIANA

ALFREDO 

ANA

BRUNA

CARLITO

CRISTINA

FLÁVIA

GAEL

GLÓRIA

JANDIRA

JOANA

JULIANA

KARINA

MARIA DE FÁTIMA

MARTA 

MAZÉ

MIGUEL

MURILO

RENATA

RICARDO

ROSANGELA

SOL

VICENTE

CENA 01. RIO DE JANEIRO. EXT. NOITE.

Takes descontínuos do passar de algumas horas. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 02. HOTEL DE LUXO. QUARTO. INT. NOITE.

Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.

Sol e Glória chegam da rua. Sol visivelmente abalada.

GLÓRIA        —  Cê tá bem, Sol? Não disse uma palavra desde que saiu daquele hospital.

SOL               —  Tô bem.

GLÓRIA        —  Sério? Porque não é o que parece!

SOL               —  Eu só tô com uma dor de cabeça terrível.

GLÓRIA        —  Vamos lá, Solange Moraes… Você não me engana! Aconteceu alguma coisa dentro daquele quarto e você não quer me contar.

SOL               —  Tá bom, mãe. O Alfredo se mexeu.

GLÓRIA        —  Sério? Nossa, filha! Mas que notícia maravilhosa!

SOL               —  É, ele apertou a minha mão.

GLÓRIA        —  Que bom! Fico muito feliz. Mas por que você não contou isso pra Renata e pra Bruna?

SOL               —  É que a verdade é que eu sair daquele quarto com um filme se passando pela minha cabeça! Tudo que aconteceu veio a minha mente e eu não estava com ânimo pra continuar lá com a esposa e a filha dele.

GLÓRIA        —  Eu sei. Eu percebi como você ficou quando ela se apresentou com a filha. Mas você já deveria ter esperado por isso! Fazia muitos anos que vocês não se viam. É natural que com o passar dos anos o Alfredo tenha se interessado pela Renata.

SOL               —  Eu sei, mãe. Agora se a senhora me der licença eu vou tomar um banho pra tirar esse ranço do hospital e dessa noite carregada!

GLÓRIA        —  Vai lá, filha.

Sol entra na suíte.

SOL               —  (OFF) Agora que eu tô parando pra pensar, mãe. Com toda essa correria e com tudo que aconteceu, nós nem conseguimos jantar!

GLÓRIA        —  Pois é. Mas não tem problema não. Eu não estou com fome, e você?

SOL               —  (OFF) Também não.

GLÓRIA        —  Então tá bom.

CORTA PARA:

CENA 03. RIO DE JANEIRO. EXT. AMANHECER.

Takes aéreos descontínuos do amanhecer lindo no Rio. Com planos de Copacabana, Cristo Redentor, Corcovado, Praia do Leblon… Instantes.

CORTA PARA:

CENA 04. APART DE RICARDO E RÔ. SALA. INT. DIA.

Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.

Mesa farta. Karina e Ricardo ali terminando de tomar o café da manhã. Rosangela vem do quarto arrumada para o trabalho.

ROSANGELA —Bom dia.

RICARDO     —  Bom dia.

KARINA       —  Bom dia, mãe. Como a senhora está?

ROSANGELA —(Senta-se a mesa) Só com um pouquinho de dor de cabeça graças a um remédio que uma certa pessoa me deu!

RICARDO     —  Dei mesmo! E outra coisa, tá reclamando por quê? Se eu não tivesse te dado o remédio, hoje você não aguentaria nem levantar da cama!

ROSANGELA —Vocês sabem de mais alguma informação sobre o Alfredo?

KARINA       —  Não.

RICARDO     —  A esposa dele ligou dizendo que ele passou por uma cirurgia e que agora está fora de perigo, mas permanece internado sem previsão de alta.

KARINA       —  Quando que a esposa dele ligou que eu não ouvi?

RICARDO     —  Ela ligou depois que você foi dormir. Era tarde da noite e ela disse que tinha acabado de chegar do hospital.

ROSANGELA —Depois eu ligo pra ela e vejo se posso ir visitar ele!

RICARDO     —  Tá pronta, minha filha? Hoje eu tenho uma reunião importante na construtora e não posso chegar atrasado.

KARINA       —  Sim. Podemos ir se o senhor quiser.

RICARDO     —  Então vamos. Tchau, Rosangela. Até mais tarde.

ROSANGELA —Tchau. Tchau, filha.

KARINA       —  Tchau, mãe.

Os dois saem e Rosangela permanece ali tomando seu café da manhã.

CORTA PARA:

CENA 05. APART DE CRISTINA. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

Mesa farta. Cristina e Adriana terminando o café da manhã.

ADRIANA     —  Não seria bom se o pai tivesse aqui com a gente agora?

CRISTINA     —  Pra você até poderia ser. Agora, pra mim não!

ADRIANA     —  Vocês dois nunca vão se acertar, não é?

CRISTINA     —  No que depender de mim não! E eu acho que seu pai também já enxergou que a nossa relação não tem salvação!

ADRIANA     —  Do mesmo jeito que a minha relação com o Miguel está.

CRISTINA     —  Calma, filha. Eu tenho certeza que você e o Miguel ainda vão reatar.

ADRIANA     —  Não sei não, mãe. Do jeito que ele tá amiguinho da Karina, nós nunca iremos reatar.

CRISTINA     —  Para com isso menina! Eu tenho certeza que vocês dois ainda tem jeito! Só temos que pensar num jeito dele deixar essa Karina de lado!

ADRIANA     —  Vamos deixar pra falar disso depois. Agora vamos que eu já estou em cima da hora.

CRISTINA     —  Eu também.

As duas se levantam e pagam as suas bolsas e saem arrematando.

CRISTINA     —  (Saindo) Vai no seu carro ou vai comigo?

ADRIANA     —  (Saindo) Vou no meu carro. Se não depois eu vou ter que voltar de táxi ou de aplicativo.

As duas saem.

CORTA PARA:

CENA 06. CASA DE CARLITO E MAZÉ. COZINHA. INT. DIA.

Mesa de café simplesinha. Carlito ali terminando de tomar seu café. Juliana vem do quarto.

JULIANA      —  Bom dia, pai.

CARLITO      —  Bom dia, filha.

JULIANA      —  (Senta-se a mesa) Ué! As duas trabalhadoras desta casa não estão mais, é?

CARLITO      —  Filha, você sabe muito bem que sua mãe pra chegar cedo no trabalho tem que sair de casa na madrugada. E a Ana saiu faz tempo também. Ela disse que tinha muita coisa pra resolver.

JULIANA      —  Ah sim…. Também não precisa ser grosseiro, né, pai? Só tava querendo puxar assunto!

CARLITO      —  Filha, logo que você quer puxar assunto, então vamos lá. Que tal se você me contasse logo se está escondendo alguma coisa da sua mãe pra ela me deixar em paz?

JULIANA      —  Olha, pai. Eu não vou entrar nesse assunto de novo! Eu já dei a minha palavra e fica a critério de vocês acreditarem ou não!

Ela se levanta e volta para o quarto.

CARLITO      —  (P/si, sem entender) Deve ter acordado num mal dia.

CORTA PARA:

CENA 07. HOTEL DE LUXO. QUARTO. INT. DIA.

Sol ali deitada tristinha. Glória chega com uma bandeja e coloca sobre a cama.

GLÓRIA        —  Bom dia, bela adormecida. Nossa! Mas que cara é essa? Nem parece que dormiu bem essa noite.

SOL               —  Dormir eu até dormir, mas acabei sonhando com o Alfredo.

GLÓRIA        —  Então toma esse café da manhã que eu trouxe. (Abre a bandeja) Só Tem coisa que você gosta aqui.

Sol se levanta e vai para a suíte. Glória vai atrás arrematando.

GLÓRIA        —  Eu não tô te entendendo, Solange! O que você tem?

CORTA RÁPIDO PARA:

CENA 08. HOTEL DE LUXO. SUÍTE. INT. DIA.

Solange lavando o rosto e Glória ali em pé na porta.

SOL               —  Não tenho nada! Só não quero comer!

GLÓRIA        —  Me engana que eu gosto, Solange! Eu sei muito bem quando tem alguma coisa te incomodando! O que tá te deixando desse jeito é a esposa e a filha do Alfredo, não é? 

Instantes depois ela responde.

SOL               —  É, mãe! Tá feliz agora? Eu… Nunca pensei que o Alfredo estava com a vida tão bem encaminhada assim.

GLÓRIA        —  Calma, minha filha. Mas você deveria esperar por isso. Faz muitos anos que vocês se separaram e não se viram mais.

SOL               —  Eu sei, mãe. Mas mesmo assim eu tinha esperança sei lá… Da gente retomar aquela antiga relação!

GLÓRIA        —  (A abraça) Calma, Sol! Eu sei que tá difícil digerir isso, mas… Você tem que esquecer o Alfredo e seguir em frente!

SOL               —  É sério que a senhora tá me dando esse conselho?

GLÓRIA        —  Ué! O que tem de errado com o que eu disse?

SOL               —  A senhora não acha que se eu conseguisse esquecer o Alfredo, já não teria feito isso a muito tempo?

GLÓRIA        —  Eu sei, filha. Mas eu acho que você deve tentar um outro relacionamento.

SOL               —  Não tem como, mãe. Eu amo o Alfredo! Eu acho que não conseguiria me relacionar com outra pessoa!

Fecha em Glória preocupada. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 09. APART DE FLÁVIA. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

Flávia, Jandira e Murilo sentados à mesa tomando café da manhã, uma empregada já tirando as coisas da mesa. 

JANDIRA      —  Ué! Cadê aquele homem? Achei que ele estaria aqui conosco tomando café da manhã, a refeição mais importante do dia!

FLÁVIA        —  Mamãe, pelo amor de Deus! O Vicente já foi trabalhar. Deixa ele quieto no canto dele.

JANDIRA      —  Que isso, Flávia? Mas o que é que é isso? Eu não posso mais tocar no nome daquele cara? Viva a liberdade de expressão!

FLÁVIA        —  É, viva a liberdade de expressão fora da minha casa! Aqui dentro “viva o que eu quiser falar”!

JANIDRA      —  Nossa! Estamos vivendo numa ditadura dentro dessa casa e eu não sabia! (Debocha) Você é a ditadora Flavianês, é?

Ela e Murilo sorriem.

FLÁVIA        —  (P/Murilo) Não perca tempo com as bobagens da sua avó e termina logo esse café que a gente já tá atrasado.

MURILO       —  Esqueci o meu livro, mãe.

FLÁVIA        —  Deixa que eu vou pegar pra você.

Flávia vai para o quarto.

JANDIRA      —  Agora que nós estamos a sós por um instante. Eu quero saber tudo que aconteceu nessa casa ontem. Tive que me ausentar por motivos maiores e fiquei por fora dos acontecimentos.

MURILO       —  Não aconteceu nada demais. Eu só aceitei meu pai de novo.

JANDIRA      —  Sério? Eu nunca pensei que você se renderia a eles! Qual argumento eles usaram pra te convencer?

MURILO       —  Nenhum. Ele só disse que vai aos jogos e fica disfarçado no meio do pessoal pra eu não ver ele e ficar nervoso.

JANDIRA      —  Sério mesmo que ele te disse isso?

MURILO       —  Disse.

JANIDRA      —  (P/si, entredentes) Filho da mãe! Conseguiu enganar o menino!

Fecha em Jandira ali inconformada com a canalhice do genro. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 10. CONSTRUTORA MACEDO. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Ana ali organizando algumas papeladas.

ANA              —  (P/si) Dá até uma alegria quando a sexta feira chega, mas só de pensar que depois de ficar dois dias sem vir pra cá acarretaria nessa papelada toda pra organizar, chega dá ranço da segunda-feira!

Vicente chega.

VICENTE      —  (Sorrindo) Bom dia, Ana! Por que você tá aí brava com a papelada?

ANA              —  É que como a gente fica dois dias sem vir pra cá… Esse monte de serviço se acumula!

VICENTE      —  Verdade. Mas isso aí são papéis da área de compras! Com certeza são os materiais que acabaram durante o fim de semana.

ANA              —  Espera aí. Os operários da construtora trabalham nos fins de semana?

VICENTE      —  Sim.

ANA              —  Nossa! Vocês estão escravizando, hein!

VICENTE      —  (Sorrindo) Não, Ana. Eles são remunerados. E muito bem remunerados por sinal.

ANA              —  Ah bem, pensei que eles não ganhavam nada.

VICENTE      —  (Sorrindo) Só você mesmo pra me fazer ir, Ana. E a outra, já chegou?

ANA              —  Se com “a outra” o senhor está se referindo a sua esposa, não. Ela não chegou ainda!

VICENTE      —  Ah sim. Qualquer ligação passe pra mim.

ANA              —  Tudo bem.

Ele vai pra sua sala e ela arremata.

ANA              —  (P/si) Pelo jeito o fim de semana não foi bom pra eles fazerem as pazes.

Ela continua ali a organizar a papelada. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 11. APART DE MARTA. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

Marta ali terminando o café. Mazé ali passando um paninho na mesa. Gael vem do quarto.

GAEL            —  Bom dia, mãe. Bom dia, Mazé.

MAZÉ            —  Bom dia.

MARTA        —  Bom dia, meu filho.

Ele pega uma fruta e já vai saindo.

MARTA        —  Espera aí, Gael! Você vai sair assim sem comer nada?

GAEL            —  Já estou atrasado, mãe.

MARTA        —  E cadê o seu irmão?

GAEL            —  Ele já saiu. Fui.

Ele sai.

MARTA        —  Muito estranho o Miguel tá saindo cedo desse jeito.

MAZÉ            —  Eu vi a hora que ele saiu.

MARTA        —  E ele falou alguma coisa?

MAZÉ            —  Não. Apenas saiu com um sorrisão estampado no rosto. Nem café ele tomou.

MARTA        —  (Preocupada) Ai meu Deus! O que será que tá acontecendo com o Miguel, hein?

CORTA PARA:

CENA 12. UNIVERSIDADE NOVO RIO. CANTINA. INT. DIA.

Cantina cheia. Miguel e Karina ali sentados a uma mesa. Karina mostrando o projeto pra ele.

KARINA       —  E essa aqui vai ser a sala.

MIGUEL        —  Show de bola! Você leva mesmo jeito pra coisa!

KARINA       —  Depois de ter passado o fim de semana todo trabalhando nisso, eu tenho que apresentar uma coisa bem legal pra elas.

MIGUEL        —  Será que quando você for apresentar o projeto não tem como eu ir não?

KARINA       —  Não sei. Eu tenho que ver com a Sol. Mas por que você quer ir?

MIGUEL        —  Eu quero conhecer o tríplex ao vivo.

KARINA       —  Ah, tá. Mas e você e a Adriana?

MIGUEL        —  Se você não se importa eu que não quero falar sobre isso.

KARINA       —  Claro.

MIGUEL        —  Vamos falar só de coisas boas.

Os dois continuam ali conversando fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 13. LEBLON. AVENIDA. INT/ EXT. DIA.

Renata e Bruna ali sentadas. Bruna com o uniforme da escola.

BRUNA         —  A senhora vai ao hospital hoje?

RENATA       —  Claro. Logo depois de te deixar na escola eu vou dá uma passadinha por lá e ver como o seu pai está.

BRUNA         —  Sabe, mãe? Eu fiquei com uma coisa na cabeça.

RENATA       —  Como assim, filha? Do que é que você tá falando?

BRUNA         —  Aquela mulher, Sol. Era muito estranha.

RENATA       —  Estranha como?

BRUNA         —  Sei lá… Por exemplo, quando eu perguntei De onde elas conheciam o meu pai, ela e a mãe dela agiram super estranho!

RENATA       —  Sério, filha? Eu nem percebi.

BRUNA         —  Mas eu se fosse a senhora começava a prestar mais a atenção nela! Vai que essa mulher já foi alguém importante na vida do pai e a gente não sabe?

Fecha em Renata intrigada. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 14. CONSTRUTORA MACEDO. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Ana ali terminando de organizar a papelada. Ricardo chega com sua maleta e uma papelada em mãos.

RICARDO     —  Bom dia, Ana.

ANA              —  Bom dia. (Vê a papelada com ele) Pelo jeito o dia já começou agitado pra você também!

RICARDO     —  Ah, isso aqui? São alguns papéis que eu preciso que o Vicente assine. Em falar na chefia…. Eles já chegaram?

ANA              —  Seu Vicente já está aí. Agora por incrível que pareça, a dona Cristina ainda não chegou.

RICARDO     —  Estranho. Ela sempre chega primeiro que o Vicente. Bom, agora vou dar uma passadinha na minha sala pra deixar essa maleta e depois vou na sala do Vicente pra ele assinar esses papéis aqui.

Ele vai pra sua sala. Ana finalmente termina de organizar a papelada.

ANA              —  (P/si, comemora) Graças a Deus! Uhu! Nem acredito que terminei de organizar esse monte de papel. Aleluia, senhor!

Ela fica ali com os braços erguidos agradecendo ao senhor. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 15. PRÉDIO DE MARTA. FRENTE. EXT. DIA.

CAM mostra as pernas de uma mulher e vai subindo até parar no rosto de Maria de F. que está com um novo visual. (Fica a critério da caracterização).

MARIA DE F. —(P/si) Depois de passar o fim de semana inteiro pensando no que eu vou fazer… Finalmente cheguei à conclusão e vou agir dessa maneira. Um aviso aos navegantes… Meu plano é maravilhoso e vai deixar a Marta aqui, ó, em minhas mãos! Agora eu tenho que sondar o outro menino pra saber mais. Porque com o vida louca eu não consegui nada.

Ela fica ali a olhar e sorrir malignamente para o prédio. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 16. CONSTRUTORA MACEDO. SALA VICENTE. INT. DIA.

Vicente ali assinando a papelada sob o olhar de Ricardo.

VICENTE      —  Pronto. Tudo assinado.

Ele passa a papelada a Ricardo.

RICARDO     —  Ótimo. Agora sim não tem nada me impedindo mais.

VICENTE      —  Como foi o seu fim de semana, Ricardo?

RICARDO     —  (Senta-se) Engraçado você me perguntar isso, Vicente… Sabe que durante um dia em que eu estava do outro lado da rua da frente do meu prédio espairecendo eu vi um carro igual o seu parando….

Reação de Vicente aflito.

RICARDO     —  Mas aí depois eu tive certeza que era você porque o cara saiu do carro e entrou no prédio. O que você foi fazer lá no prédio que eu moro?

Fecha em Vicente. Instantes. Suspense. Tensão.

CORTA PARA:

INTERVALO COMERCIAL

CENA 17. CONSTRUTORA MACEDO. SALA VICENTE. INT. DIA.

Continuação imediata da cena anterior. Vicente ainda sem saber o que dizer. Tensão.

VICENTE      —  Como é que você pode ter tanta certeza que era eu?

RICARDO     —  Eu conheço você, Vicente. Eu conheço o seu carro perfeitamente. Eu sei que aquele homem era você. Eu não estou louco.

VICENTE      —  Tá bom, Ricardo, era eu sim.

RICARDO     —  Sabia. Mas o que você estava fazendo lá? Não foi nem na minha casa.

VICENTE      —  Eu fiquei sabendo que tinha um apartamento a venda lá e como eu não estou muito bem com a Cristina eu fui ver para comprá-lo.

RICARDO     —  Estranho. Toda vez que tem algum apartamento a venda o síndico fala.

VICENTE      —  Ele deve ter esquecido.

RICARDO     —  É, vai ver é isso mesmo. Mas caramba, Vicente.  Você demorou a beça. Eu fiquei na portaria plantado esperando até anoitecer e nada de você!

VICENTE      —  É que na verdade eu fiz um tour pelo condomínio. Logo depois de ter visto o apartamento eu fui a garagem, joguei uma sinuca com o pessoal que estavam no play…

RICARDO     —  Olha, se você comprar algum apartamento naquele prédio você não vai se arrepender! Os moradores são gente boa. Apesar de ter uma senhora maluquete lá. Jandira é o nome dela.

VICENTE      —  (Sorrir, sem graça) Não me diga que você conhece essa mulher.

RICARDO     —  Conheço! Você tem que ficar sabendo das loucuras que aquela mulher faz! Tanto dentro do condomínio, quanto fora dele!

Ricardo permanece falando fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 18. JORNAL. REDAÇÃO. INT. DIA.

Todos ali trabalhando. Rosangela chega e se senta à mesa, cumprimenta alguns colegas com bom dia. Ela liga o PC e olha pra mesa de Alfredo.

ROSANGELA —(P/si) Ai meu amigo, Alfredo. Você vai fazer falta aqui esses dias.

Ela olha pro PC e começa a trabalhar. Uma figurante sai de sua mesa e vem até Rosangela.

FIGURANTE—  Rosangela, desculpa interromper. Bom dia.

ROSANGELA —Bom dia.

FIGURANTE—  É que a diretoria ficou sabendo o que aconteceu com o Alfredo e eles me pediram pra te avisar assim que você chegasse, que fosse até a sala deles.

ROSANGELA —Tudo bem. Obrigado, Andrea.

FIGURANTE—  De nada.

Ela volta pra sua mesa.

ROSANGELA —(P/si) O que será que os diretores querem comigo? Bom, Rosangela… Não adianta ficar aqui se perguntando. Se você não for até a sala deles, nunca saberá do que se trata.

Ela se levanta e sai da redação. CAM mostra Joana ali curiosa a observar.

CORTA PARA:

CENA 19. UNIVERSIDADE NOVO RIO. CANTINA. INT. DIA.

Cantina cheia. Miguel e Karina ali sentados à mesa.

MIGUEL        —  Nossa! Então o seu fim de semana foi mais agitado do que o meu então. Eu só fiquei em casa mesmo estudando.

KARINA       —  Eu nem estudei. E o pior de tudo é que as provas do semestre estão chegando aí.

MIGUEL        —  Verdade. Mas é tão engraçado como que a gente faz as coisas, né?

KARINA       —  (Não entende) Como assim, Miguel?

MIGUEL        —  Igual quando a gente escolhe o curso. Pode ser a coisa mais chata do mundo, mas se gostamos é o que vale, sabe? Nós nem percebemos o quão aquilo pode ser chato para os outros e gostamos do que estudamos.

KARINA       —  Verdade. Eu também já percebi isso.

MIGUEL        —  Tá vendo só? Nós dois temos muitas coisas em comum.

Ele pega na mão dela, que está sobre a mesa e ela arremata toda sem graça.

KARINA       —  (Sorrir, sem graça) É.

Corta para a entrada da Cantina: Adriana entra e ao ver os dois ali sorrindo e conversando, logo séria e olhando para os dois arremata.

ADRIANA     —  (P/si, ódio) Que ódio dessa garota! Não sai de cima do meu noivo! Mas se ela tá pensando que vai sair ganhando, ela tá muito enganada! Com certeza ela vai pagar caro por isso! Ah vai!!! Eu vou fazer questão de cobrar! Ela não vai conseguir acabar com o meu noivado assim!

Ela sai da cantina furiosa, esbarrando numa pessoa. CAM mostra Miguel e Karina sentados conversando e sorrindo fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 20. CONSTRUTORA MACEDO. SALA CRISTINA. INT. DIA.

Cristina ali sentada a mesa tentando trabalhar. 

CRISTINA     —  (P/si) Por que tem que ser tão difícil se concentrar no trabalho? Também, com tantos problemas como eu tô é impossível se concentrar. Como se já não bastasse tudo que eu tenho passado com o outro que eu prefiro nem citar o nome, ainda tem o noivado da minha filhinha indo pelo ralo. Eu tenho que pensar em alguma coisa pra impedir que isso aconteça. Eu não vou aguentar se a Adriana trazer mais um idiota pra eu conhecer.

Ela fica pensativa por um instante até que arremata.

CRISTINA     —  (P/si) Claro! Como eu não pensei nisso antes? Tava tão óbvio esse tempo todo e eu não percebi!

Ela pega o cel. e disca.

CRISTINA     —  (Ao cel.) Marta? Já pensei num modo pra tirar essa garota da jogada! Hum… Ficou interessadinha, é? Pensei que a gênia que sempre faz as coisas melhores do que eu, teria uma ideia antes. Tô brincando, Marta. No que eu pensei? Eu não me conformo como não tive essa ideia antes. Se liga só no que eu pensei… Eu acho que pra gente tirar essa menina de perto do Miguel, nós poderíamos fazer…

Ela permanece ali falando fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 21. HOTEL DE LUXO. QUARTO. INT. DIA.

Sol ali olhando pela janela. Glória sai da suíte arrumada para sair.

GLÓRIA        —  Você não vai se arrumar, filha?

SOL               —  Se arrumar pra quê?

GLÓRIA        —  Como assim: se arrumar pra quê? Pra ir ao hospital ver como o Alfredo está.

SOL               —  Ah, tá. Pode ir que eu não tô a fim de sair desse quarto hoje.

GLÓRIA        —  Para com isso, Solange! Poxa, eu acho que você deveria procurar ajuda. Ficar assim por um cara que você não ver e não tem mais contato por vinte anos não é normal!

SOL               —  A senhora não entende, né? Às vezes eu acho que a senhora não amava o meu pai o suficiente pra entender o que eu tô sentindo!

GLÓRIA        —  Alto lá! Não coloque o meu amor pelo seu pai nessa sua palhaçada não! Afinal de contas, foram anos junto dele! Não tem como apagar isso!

SOL               —  E a senhora acha que tem como apagar o Alfredo da minha vida?

GLÓRIA        —  (Firme) Eu sinceramente acho que tem como sim! Se você procurar ajuda de um profissional! Aposto que você deixaria o passado para trás e começaria uma nova vida sem isso, sem essas suas nostalgias, sem nada!

Fecha em Sol séria refletindo. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 22. HOSPITAL CRISJUDAS. QUARTO. INT. DIA.

Alfredo ali já consciente. Renata entra e logo vem abraçá-lo.

RENATA       —  (Feliz) Ai, meu amor. Alfredo. Eu não acredito que você acordou.

ALFREDO     —  Tá me abraçando por quê? Eu pensei que tínhamos dado um tempo.

RENATA       —  Você disse tudo meu amor: tínhamos! Não temos mais. Eu não deveria ter dito aquelas coisas pra você, meu amor.

Enche ele de beijinhos.

ALFREDO     —  Tá bom, Renata. Para.

RENATA       —  Ih… Sofreu um acidente, apagou e agora acordou enjoado é?

ALFREDO     —  Não é isso. É que eu nunca pensei que poderia ficar tão doido ao ponto de misturar álcool com direção.

RENATA       —  Meu amor, o que passou, passou! Vamos focar no agora e agradecer a Deus que nada de pior aconteceu com você!

ALFREDO     —  Eu sei que o que passou, passou, mas eu nunca vou esquecer de ter feito a maior burrada da minha vida.

RENATA       —  Ah é, Alfredo… Agora que eu lembrei… Quem é Solange?

ALFREDO     —  Como assim, Renata?

RENATA       —  Foi essa mulher que te salvou ontem. Ela e a mãe dela, Glória.

Reação de Alfredo ao lembrar-se de Sol.

RENATA       —  Quem são essas duas que eu nunca ouvir falar nelas?

Fecha em Alfredo ainda nostálgico ao lembrar-se do seu antigo amor. Instantes. Suspense. Tensão.

CORTA PARA:

FIM DO 26º CAPÍTULO

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