PARTES DE MIM

NOVELA DE:

RAMON SILVA

ESCRITA POR:

RAMON SILVA

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO

ADRIANA

ALFREDO 

ANA

CARLITO

CRISTINA

ENRICO

FLÁVIA

GAEL

GLÓRIA

JOANA

JULIANA

KARINA

MARIA DE FÁTIMA

MARTA 

MAZÉ

MIGUEL

MURILO

RENATA

RICARDO

ROSANGELA

SOL

VICENTE

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL:

JORNALISTA (ÂNCORA) 


CENA 01. APART DE MARTA. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

Continuação imediata da cena 20. do capítulo anterior.

MARTA        —  Anda, Miguel, fala! O Gael tem mesmo uma namorada?

MIGUEL        —  Agora que já ouviu não tem como eu negar. Sim ele tem.

MARTA        —  (Feliz) Ai, que legal. E como ela é?

MIGUEL        —  Não sei. Isso a senhora vai ter que perguntar pra ele.

MARTA        —  Você nunca a viu?

MIGUEL        —  Não.

MAZÉ            —  Ih… Será que essa namorada existe mesmo?

MARTA        —  Claro que existe, Mazé! Você tá querendo dizer que meu filho é maluco pra ficar imaginando essas coisas?

MAZÉ            —  Eu não disse nada, dona Marta. Acho melhor ir pra cozinha.

MARTA        —  É, eu também acho.

Mazé vai para a cozinha e Marta senta-se a mesa.

MIGUEL        —  A senhora tava aonde, mãe?

MARTA        —  Saí pra pagar alguns boletos.

MIGUEL        —  Não consigo entender porque a senhora hesita tanto em pagar essas contas pelo débito no aplicativo do banco.

MARTA        —  Você sabe muito bem que eu gosto de sair, ver gente. Se eu fizer isso aí, vou viver dentro dessa casa sem ver nada nem ninguém.

Marta começa a se servir.

MIGUEL        —  Pera aí. A senhora não pode comer ainda.

MARTA        —  Por que não?

MIGUEL        —  Porque a senhora acabou de chegar da rua e não lavou a mão.

MARTA        —  E quem é você pra me cobrar isso? Minha mãe?

MIGUEL        —  Seu filho que se preocupe muito contigo.

MARTA        —  Tá bom, eu vou lavar a mão, senhor Miguel.

Ela vai para o banheiro e Miguel permanece ali desconfiado. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 02. TRÍPLEX DE SOL. COZINHA. INT. DIA.

Glória ali a pegar um copo d’água na geladeira. Maria de F. chega.

GLÓRIA        —  Ora, ora, ora… Vejam se não é a empregada petulante.

MARIA DE F.—  Desculpe, dona Glória. Mas é que/

GLÓRIA        —  (Corta) Devo logo avisá-la. Se não tiver um bom motivo pra sair sem comunicar ninguém é melhor nem falar nada!

MARIA DE F.—  Eu precisei sair porque minha irmã estava aí embaixo querendo falar comigo.

GLÓRIA        —  Mas aconteceu alguma coisa pra sua irmã tá aqui na portaria do prédio?

MARIA DE F.—  Ela veio me dizer que meu sobrinho está muito mal.

GLÓRIA        —  Ah sim… Mas se o seu sobrinho está muito mal, então o que ela faz aqui na portaria do prédio ao invés de está junto com ele?

MARIA DE F.—  (Nervosa) É que o pai dele ficou com ele no hospital.

GLÓRIA        —  Maria… Você está contando uma história sem cabimento. Você não sabe mentir. Diga a verdade. Diga que saiu pra dar uma volta, sei lá.

MARIA DE F.—  Desculpe, dona Glória.

GLÓRIA        —  Caso isso aconteça mais uma vez, você estará no olho da rua!

Glória volta para a sala.

MARIA DE F.—  (P/si, maligna) Porque não matar… Ops, digo: cegar dois coelhos numa cajadada só? Essa véia nojenta agora vai sofrer na minha mão!

Ela fica ali maligna. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 03. CONSTRUTORA MACEDO. SALA DE REUNIÃO. INT. DIA.

Todos os candidatos ao estágio ali na sala de reunião. Adriana ainda a olhar para Karina seriamente e Karina finge que nem é com ela. Enrico entra na sala com um papel.

ENRICO        —  Pois bem, vamos lá. Boa tarde.

TODOS         —  Boa tarde.

ENRICO        —  Nós vamos fazer assim: eu tenho aqui em mãos uma listagem com o nome de todos vocês. A entrevista com o RH será na sala no fim do corredor. Logo após isso, os aprovados pelo Rh, serão entrevistados pelos gestores da área de vocês. No caso do pessoal do curso de arquitetura, vocês trabalharão diretamente com o Vicente, dono da construtora. A ordem das entrevistas será por ordem alfabética. E o primeiro nome é: Ora, ora, ora… Vejam se não é a filhinha dos donos a primeira. Adriana. No fim do corredor.

Ela passa por ele séria e arremata.

ADRIANA     —  (Séria) Muito ridículo você garoto!

ENRICO        —  (Sarcasmo) Também te amo, querida!

Fecha em Karina que sorrir da situação e fica a olhar Enrico. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 04. CONSTRUTORA MACEDO. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Ana ali sentada a digitar no PC. Ricardo sai de sua sala.

RICARDO     —  Onde a Karina foi?

ANA              —  Na sala de reunião esperando pra ser entrevistada pelo RH.

RICARDO     —  Ai meu Deus. Tomara que dê tudo certo.

ANA              —  A sua filha é um amor de pessoa.

RICARDO     —  É, se tem uma coisa que a Rosangela e eu fizemos certo foi a criação da nossa menina.

ANA              —  Nossa, Ricardo. Do jeito que você fala até parece que não tá bem com a mulher.

RICARDO     —  Minha esposa é possessiva com esse negócio de trabalho. Acho que se diz workaholic. Ela trabalha demais e quase não tem tempo pra ficar com a família.

ANA              —  Nossa, Ricardo. Sério?

RICARDO     —  Pois é. E o pior é que a Karina precisa da mãe pra conversar certos assuntos e nem sempre eu posso ajudar. Só quero ver aonde a Rosangela vai parar desse jeito. Ela tem que se dá conta de que isso é um problema!

CORTA PARA:

CENA 05. LEBLON. RUA EXT. DI.A

Rosangela ali caminhando visivelmente abalada. Ela olha para um outdoor que diz o seguinte: “Trabalhe, trabalhe, mas não compulsivamente!”. Trata-se de uma campanha de uma ONG que ajudar os workaholic. Ela fica ali a olhar aquele outdoor. 

CORTA PARA:

CENA 06. APART DE RICARDO E RÔ. QUARTO CASAL. INT. NOITE.

INSERT da cena 13 do capítulo 09.

Ricardo ali sentado sério. Rô sai da suíte enrolada na toalha.

ROSANGELA —   Que cara é essa, Ricardo? Parece que comeu e não gostou.

RICARDO      —   Essa é a cara de um homem que raramente janta com sua esposa.

ROSANGELA —   Ah, que isso, Ricardo? Por que o drama agora?

RICARDO      —   Ah… Então você acha que isso é drama? Você tá colocando o trabalho acima de sua família e eu estou com drama?

ROSANGELA —   Ricardo, tenta entender que eu estou vivendo um momento maravilhoso na minha carreira. Eu nunca estive tão perto de receber uma promoção como estou agora.

RICARDO      —   Esse que é o problema, né, Rosangela? Você sempre quer avançar mais e mais na sua carreira.

ROSANGELA —   E você acha que eu tô errada por isso?

RICARDO      —   Não! Mas eu acho que você não deveria colocar isso a frente de sua família.

ROSANGELA —   Isso é passageiro, meu amor. Assim que conseguir a promoção, vou ver se tiro umas férias pra gente curtir juntinhos.

Ela vai beijar ele, mas ele se levanta e sai arrematando.

RICARDO      —   (Duvida) Sei.

Ele sai e ela bufa. Instantes.

Fim do insert.

CORTA PARA:

CENA 07. LEBLON. RUA. EXT. DIA.

Continuação imediata da cena 05. Rô ali pensativa, olhos lacrimejados.

ROSANGELA —(P/si) Tanto esforço, tanto sacrifício pra não conseguir… Impotente, inútil, imprestável… É assim que eu me sinto!

Ela se senta ali pelo meio fio mesmo e fica abaladíssima. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 08. LEBLON. AVENIDA. INT. DIA.

Alfredo e Sol no carro. Sol ao volante.

SOL               —  Espero que a polícia agora não demore pegar esse cara!

ALFREDO     —  Agora eu acho que vai ficar mais fácil pra eles pegarem esse cara.

SOL               —  Verdade. Mas o colar eu posso dar adeus. Nunca mais vou vê-lo novamente.

ALFREDO     —  Mas o que importa é que você a Karina não sofreram nenhuma agressão física.

SOL               —  Não é à toa que o Rio de Janeiro tá esse caos! Também, com os governantes anteriores… A cada nova fase da lava jato, descobriam-se mais propinas, lavagem de dinheiro.

ALFREDO     —  Pois é, Sol. Mas agora eu queria falar sobre outro assunto com você.

SOL               —  Pode falar.

ALFREDO     —  Eu quero te fazer uma pergunta. E por favor, seja sincera comigo. Você foi feliz ao meu lado?

SOL               —  (Não entende) Como assim, Alfredo? Mas por que essa pergunta agora?

ALFREDO     —  Só me responda sim ou não.

SOL               —  Sim. Nós vivemos momentos mágicos juntos. Mas agora você pode me explica o porquê dessa pergunta?

ALFREDO     —  É que as vezes eu acho que o culpado do fracasso do relacionamento foi minha.

SOL               —  Ei! Não diga isso. Você sabe que as coisas tomaram os rumos que tomou, por causa daquela acusação absurda que eu fiz.

Sol para o carro no acostamento.

ALFREDO     —  Que isso, Sol? Por que estamos parando?

SOL               —  Logo que você tocou nesse assunto, Alfredo, nós temos muito o que conversar.

CORTA PARA:

CENA 09. LEBLON. CAFETERIA DE LUXO. INT. DIA.

Sol e Alfredo sentados à mesa tomando um cafezinho.

SOL               —  Olha, Alfredo… Depois de vinte anos que não nos víamos, foi tudo muito novo pra mim, sabe? E aquela história de vinte anos atrás veio à tona.

ALFREDO     —  Eu sei. Quando nos vimos no hospital depois de você e da dona Glória terem salvo a minha vida… Foi nostálgico e surpreendente. Quem diria que iríamos nos ver novamente naquelas circunstâncias?

SOL               —  (Sorrir) Verdade. Mas eu queria muito me desculpar por aquele episódio em que eu te acusei de ser cúmplice da Marta.

ALFREDO     —  Que isso, Sol? Isso ficou no passado. Sem ressentimento.

SOL               —  Eu carreguei isso comigo esses vinte anos. Acho que foi até por isso que eu não me casei até hoje. Agora conversando, desabafando, me desculpando parece que um peso foi tirado das minhas costas!

ALFREDO     —  Que bom, Sol. Assim você pode se livrar desse peso de vinte anos. O meu casamento está acabado. Ainda não entrei com o pedido de divórcio, mas estou prestes a fazer isso.

SOL               —  Mas você tem certeza mesmo que quer fazer isso, Alfredo? Não vá se precipitar!

ALFREDO     —  Tenho. E depois que nos reencontramos tenho mais certeza ainda.

Ele pega na mão dela, mas ela solta. E os dois ficam se olhando. Ela sem graça. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 10. APART DE MARTA. QUARTO MARTA. INT. DIA.

Marta entra. Ao ver a caixinha, logo corre para pegá-la.

MARTA        —  (P/si) Eu não posso ter cometido tal descuido ao ponto de deixar essa caixinha aqui sobre a cama. (Abre a caixa) Espero que ninguém tenha visto o que tem dentro dela. A sorte é que o diário agora está em outro lugar.

Ela coloca o cadeado na caixa e a guarda dentro do guarda roupa.

MARTA        —  (P/si) Com a Sol por perto, essa caixa pode me incriminar! Preciso ter mais cuidado.

CORTA PARA:

CENA 11. APART DE MARTA. QUARTO GÊMEOS. INT. DIA.

Miguel ali sentado a olhar para a foto no cel. dos recortes de jornal.

MIGUEL        —  (P/si) Esses recortes de jornais querem dizer alguma coisa… Mas o quê?

Gael chega da rua.

MIGUEL        —  Caramba. Ficou dentro do carro até agora, é?

GAEL            —  (Áspero) O que é, Miguel?

MIGUEL        —  Nossa! Que áspero! Que foi? Brigou com a Juliana?

GAEL            —  Não. É uma parada aí.

MIGUEL        —  Que parada? Talvez eu possa te ajudar.

GAEL            —  Não. Você não pode me ajudar. Aliás, ninguém mais pode me ajudar!

Ele sai do quarto.

MIGUEL        —  (P/si) Cada vez mais estranho! Aliás, essa família tá estranha. O Gael e esse amigo que pede pra ele fazer as coisas e agora esses recortes de jornais no quarto da dona Marta… Será que eu sou o único nesta casa que não guarda segredo nenhum?

CORTA PARA:

CENA 12. TRÍPLEX DE SOL. COZINHA. INT. DIA.

Maria de F. passando um cafezinho. Juliana vem da sala com um balde e uma vassoura.

JULIANA      —  Ah voltou?

MARIA DE F.—  Pois é, menina. Precisei sair as pressas.

JULIANA      —  E eu não sei? Dona Glória ficou soltando fogo pelas ventas aqui com a sua saidinha.

MARIA DE F.—  Do jeito que ela me recebeu, eu vi que ela não ficou nada contente.

JULIANA      —  Não mesmo. Te chamou até de petulante.

MARIA DE F.—  É, na verdade ela disse isso na minha cara aqui.

JULIANA      —  Nossa! A dona Glória é curta e direta, hein!

MARIA DE F.—  Ela tá é uma véia muito da chata, isso sim!

JULIANA      —  (Sorrir) Olha menina. Não diga uma coisa dessas. Depois você pode se arrepender.

MARIA DE F.—  Por quê? Eu estou apenas falando a verdade.

JULIANA      —  É, mas se ela escuta uma coisa dessas você tá na rua!

CORTA PARA:

CENA 13. APART DE RENATA. SALA. INT. DIA.

Renata e Flávia sentadas conversando.

FLÁVIA        —  Ai, amiga… Eu fiquei curiosa pra saber como estão as coisas.

RENATA       —  Como assim, amiga?

FLÁVIA        —  Entre a Bruna e o Alfredo. Os dois finalmente estão se dando bem?

RENATA       —  Parece que sim. A Bruna até foi pra lá com o João.

FLÁVIA        —  Mas por que você disse parece que sim?

RENATA       —  É que esses adolescentes estão cada vez mais confusos. Na mesma hora que ela fala bem, fala mal.

FLÁVIA        —  (Sorrir) Ah, amiga… Mas isso não acontece só com os adolescentes não. Eu também sou assim.

RENATA       —  É, você tem cara mesmo.

FLÁVIA        —  Ei! O que isso quer dizer?

RENATA       —  Nada não. Mas o que eu queria mesmo era que o Alfredo voltasse pra casa, sabe?

FLÁVIA        —  Sei. Você deve sentir a maior falta dele, né, amiga?

RENATA       —  Pior que sinto. Impossível também eu não sentir. São quase vinte anos de casamento. Só se eu não o amasse. O que não é o caso, claro.

As duas continuam a fofocar fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 14. JORNAL. REDAÇÃO. INT. DIA.

Todos ali a trabalhar. Joana sentada a sua mesa.

JOANA          —  (P/si) Ah… Como é bom essa sensação de ter o que batalhamos para conseguir. É como se eu tivesse acabado de ganhar um troféu. É uma alegria imensa.

Olha pra mesa de Alfredo. Levanta-se, pega seu notebook e dirige-se até a mesa.

JOANA          —  (P/si) Aqui! Aqui é o meu lugar! Sempre sonhei com essa cadeira. 

Ela se senta e fecha os olhos de tão maravilhada.

JOANA          —  (P/si) Como eu sonhei com esse dia gente. Rosangela agora vai morrer de inveja da minha vitória! Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira. A Rô, queridinha do Alfredo agora vai ter que aturar. É como dizem por aí, né? Atura ou surta! Se ela surtasse e fosse pra bem longe dessa redação até que não seria nada mal.

Ela permanece ali sorrindo debochadamente e maravilhada por estar sentada na cadeira de Alfredo.

CORTA PARA:

CENA 15. CASA DE CARLITO E MAZÉ. SALA. INT. DIA.

Carlito chega da rua, senta-se no sofá.

CARLITO      —  (P/si) Tô exausto! Quando isso tudo acabar, eu vou tar morto! Mas com a grana que eu vou ficar, vai valer a pena.

Ele pega o controle remoto e liga a TV no jornal.

JORNALISTA —Lembra daquele caso de duas mulheres que foram assaltadas ao sair de uma joalheria no Leblon? Pois é, a polícia tem novidades no caso. Imagens de uma câmera de segurança vizinha a joalheria conseguiu filmar a ação dos bandidos, mas apenas um dos indivíduos foi identificado.

CAM mostra as imagens do assalto a Sol e Karina.

CARLITO      —  (P/si) Não! Não pode ser!

JORNALISTA —Um dos envolvidos, o que pelas imagens parece ser o líder da ação, é o que foi identificado e chama-se Carlito da Silva. Qualquer informação do suspeito, ligue para o disque denúncia, (21) 2253-1177.

Ele se levanta e furioso vira a mesinha de centro. Logo em seguida, pega um vaso da decoração e joga contra a parede.

CARLITO      —  (P/si, furioso) Droga! Maldita hora que eu aceitei fazer esse servicinho pra madame!

Ele fica ali furioso. Instantes. Suspense. Tensão.

CORTA PARA:

INTERVALO COMERCIAL

CENA 16. LEBLON. CAFETERIA DE LUXO. INT. DIA.

Sol e Alfredo sentados à mesa.

ALFREDO     —  Muito bom estarmos conversando sobre isso vinte anos depois.

SOL               —  Pois é.

ALFREDO     —  Acho que isso prova que mesmo depois de vinte anos, o nosso relacionamento ainda tem uma chama acesa.

SOL               —  Se tiver pode ser que esteja bem lá no fundo.

ALFREDO     —  (Brinca) No pré-sal?

SOL               —  (Sorrir) Por aí.

ALFREDO     —  Ai, Sol. Você não imagina o quanto eu sair ferido da sua casa naquele dia. O nosso relacionamento era perfeito, mas aí aconteceram várias coisas e acabamos fraquejando.

SOL               —  Verdade. O pior é que aquele dia não ficou marcado somente pra mim não. Você também, né?

ALFREDO     —  Sim.

SOL               —  É, eu diria que você foi o mais ferido. Se pondo no seu lugar, eu nem sei como me sentiria ao ser atacado pelo amor da minha vida.

ALFREDO     —  Então, Sol… Logo que estamos falando de tudo isso… Você aceita voltar a ser o amor da minha vida?

Fecha em Sol sem saber o que responder. Instantes. Suspense.

CORTA PARA:

CENA 17. CASA DE CARLITO. QUARTO CASAL. INT. DIA.

Carlito entra, pega uma mala a coloca sobre a cama, a abre e começa a colocar roupas na mala.

CARLITO      —  (P/si) Mas que idiota…. Como eu pude ser tão idiota e não ter colocado uma máscara? É isso que dá fazer esses servicinhos pra madames! Não deveria ter entrado nessa.

Ele termina de fazer a mala e a fecha. Caminha até o criado mudo e lá está uma foto da família.

CARLITO      —  (P/si, chora) Eu sinto muito filha… Desculpe se seu pai é um fracassado e está no mundo do crime. Me perdoa!

Ele abraça a foto, lágrimas escorrem pelo seu rosto. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 18. CONSTRUTORA MACEDO. SALA DE REUNIÃO. INT. DIA.

Enrico ali na porta da sala. Karina cabisbaixa mexendo no cel. os outros candidatos as vagas de estágio, conversando entre si em grupinhos. Enrico aproxima-se de Karina.

ENRICO        —  Karina, não é isso?

KARINA       —  Sim.

ENRICO        —  Você tá aí na sua, quietinha. Aconteceu mais alguma coisa além daquele vexame que a outra fez?

KARINA       —  Não. É que eu sou assim mesmo. Gosto de ficar na minha. Pra quê aparecer?

ENRICO        —  Concordo contigo! Mas e aí, tá confiante de que vai estagiar na construtora?

KARINA       —  Tô aflita, isso sim!

ENRICO        —  Não fique. Eu tenho certeza que você vai se sair bem. E você é de arquitetura, correto?

KARINA       —  Sim.

ENRICO        —  Então a vaga já é sua! Só de olhar pra você percebe-se que você é muito mais bem preparada do que a outra.

KARINA       —  A outra no caso é a sua meia irmã?

ENRICO        —  É. Ela é aquela que não se pode invocar o nome, sabe?

Karina sorrir e os dois ficam a conversar fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 19. LEBLON. CAFETERIA DE LUXO. INT. DIA.

Continuação imediata da cena 16. Apesar da conversa, as falas são normais e não se sobrepõem.

SOL               —  Alfredo, para com isso! Você sabe que não tem a menor possiblidade de ficarmos juntos no momento!

ALFREDO     —  E por que não, Sol?

SOL               —  Porque você é casado!

ALFREDO     —  Mas eu não acabei de falar que vou entrar com o pedido do divórcio?

SOL               —  Eu sei! Mas você acha que eu me sinto bem sendo a pivô da separação de uma família?

ALFREDO     —  Você não é a pivô de nada não. O meu casamento com a Renata já vinha aos trancos e barrancos faz tempo.

SOL               —  Mas mesmo assim. Eu não estou pronta para voltar a uma relação!

ALFREDO     —  Pelo amor de Deus, Sol! Isso foi há vinte anos!

SOL               —  Não interessa se foi há vinte ou há dois anos! Eu não estou pronta pra reviver o nosso relacionamento!

Ela levanta-se da mesa e sai da cafeteria. Ele fica ali sério. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 20. CONSTRUTORA MACEDO. SALA CRISTINA. INT. DIA.

Cristina e Vicente analisando as fichas dos candidatos.

CRISTINA     —  Me explica uma coisinha aqui, Vicente… Por que estamos fazendo isso mesmo?

VICENTE      —  (Não entende) Como assim? 

CRISTINA     —  Nós somos os diretores desta construtora. Não deveríamos fazer isso que é serviço dos subalternos!

VICENTE      —  Subalternos, não. Colaboradores. E eu acho que sim, nós temos que participar dessa seleção. Afinal de contas, os jovens escolhidos estarão conosco aqui diariamente sabendo tudo a respeito da construtora. Por que não participar e conhece-los antes?

CRISTINA     —  É, mas é fato que a vaga do curso de arquitetura é da nossa filha.

VICENTE      —  Vamos com calma. Analisando bem detalhadamente eu achei uma candidata mais qualificada do que ela.

CRISTINA     —  Como é que é, Vicente? Você prefere dar a vaga pra outro, quando pode dar a nossa filha?

VICENTE      —  Aqui não tem “nossa filha”! A Adriana é uma concorrente como outra qualquer! Que tipo de exemplo estaremos dando não sendo transparentes nessa seleção?

CRISTINA     —  Tudo bem. Mas quem é que você adorou a qualificação?

VICENTE      —  Karina Antunes.

CRISTINA     —  A filha do Ricardo? A Adriana odeia essa menina!

VICENTE      —  E daí? Estamos em um ambiente corporativo! A Karina é a melhor, portanto, ela vai trabalhar comigo sim!

Fecha em Cristina furiosa com a decisão de Vicente. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 21. CONSTRUTORA MACEDO. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Ana ali atrás da porta da sala de Cristina a ouvir. Adriana sai da sala da mãe.

ADRIANA     —  Mas o que significa isso?

ANA              —  Ah… Desculpe. Eu só estava/

ADRIANA     —  (Corta) Estava ouvindo atrás da porta! Vem cá, uma secretariazinha como você não tem mais o que fazer não?

ANA              —  Desculpe, garota. Eu só/

ADRIANA     —  (Corta) Garota não! Adriana, filha de quem pode te colocar na rua! 

ANA              —  Não acho que o seu Vicente permitiria uma coisa dessas.

ADRIANA     —  Ah é? E se por acaso eu fizesse isso?

Ela pega seu relógio e coloca na bolsa de Ana que estava sobre a mesa.

ADRIANA     —  Você acha mesmo que meus pais iriam admitir uma coisa dessas dentro da empresa deles?

Fecha em Ana séria a olhar Adriana, que sorrir debochadamente. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 22. APART DE MARTA. SALA. INT. DIA.

Miguel ali a assistir TV. Marta vem do quarto e Mazé vem da cozinha.

MAZÉ            —  Ah, dona Marta. Eu queria mesmo falar com a senhora.

MARTA        —  Sobre?

MAZÉ            —  É que eu/

MIGUEL        —  (Corta) Olhem. Duas mulheres foram assaltadas. Acho que é a Sol.

Marta e Mazé aproximam-se para ver.

MARTA        —  (P/Miguel) Aumenta o volume aí.

Ele aumenta o volume da TV.

JORNALISTA —Já falamos nesta edição, mas vamos reforçar. O homem que você ver nas imagens chama-se Carlito da Silva. Qualquer informação do suspeito, ligue para o disque denúncia, (21) 2253-1177.

MIGUEL        —  Coitada da Sol.

Closes alternados em Marta e Mazé estarrecidas com a notícia, mas por motivos diferentes. Instantes.

CORTA PARA:

FIM DO 47º CAPÍTULO

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