PARTES DE MIM

NOVELA DE:

RAMON SILVA

ESCRITA POR:

RAMON SILVA

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO

ADRIANA

ALFREDO

ANA

BRUNA

CRISTINA

FLÁVIA

GAEL

GLÓRIA

JANDIRA

KARINA

MARIA

MARTA

MURILO

RATÃO

RENATA

RICARDO

ROSANGELA

SOL

VICENTE

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS:

MENDIGA

CENA 01. LEBLON. ORLA. EXT. DIA.

Miguel e Adriana ali caminhando. Sem tomar água de coco.

MIGUEL        —  Hoje a dona Marta deve tá na bad.

ADRIANA     —  Por quê?

MIGUEL        —  É que hoje faz cinco anos que o nosso pai morreu!

ADRIANA     —  Nossa, meu amor! Eu não sabia, sinto muito!

MIGUEL        —  Tudo bem, meu amor. Eu já conseguir compreender a falta que ele faz, mas parece que a dona Marta ainda não. Com certeza ela está baixo-astral astral hoje.

ADRIANA     —  Então eu vou com você fazer uma visitinha a ela.

MIGUEL        —  Então vamos.

Eles começam a andar, mas Miguel vê que mais à frente há uma senhora, moradora de rua sentada num cobertor pedindo esmola.

ADRIANA     —  O que é que foi, Miguel? Por que você parou?

MIGUEL        —  Olha aquela senhora.

ADRIANA     —  O que é que tem ela?

MIGUEL        —  A coitadinha tá ali pedindo ajuda.

ADRIANA     —  Ah não. Você não vai lá não, né?

MIGUEL        —  E por que não?

Ele vai caminhando em direção a senhora e Adriana faz um carão e segue-o.

MENDIGA    —  Por favor, moço, me ajuda. Eu não como nada desde ontem.

MIGUEL        —  Nossa! Uma senhora da sua idade não pode ficar sem comer.

Ele tira a carteira do bolso.

ADRIANA     —  Você ficou maluco, Miguel? Tirando a carteira na rua desse jeito, você tá pedindo pra ser assaltado!

Ele passa a ela uma nota de cem.

MENDIGA    —  (Surpresa) Nossa! Não precisava disso tudo não moço.

MIGUEL        —  Isso não foi nada demais. Eu tenho certeza que esse dinheiro será mais útil pra você do que pra mim.

MENDIGA    —  Muito obrigada, moço. Eu nem sei como te agradecer.

MIGUEL        —  Só de ver esse sorriso de gratidão, você já me pagou.

ADRIANA     —  Agora chega! Vamos, né, Miguel?!

Ela sai praticamente puxando-o. A mendiga fica ali feliz e guarda o dinheiro olhando para os lados grilada. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 02. RUA DESERTA DE TERRA. EXT. DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

GAEL            —  Não, cara. Pelo amor de Deus não me mate! Eu juro que o seu dinheiro está todo aí!

RATÃO         —  Eu acho bom mesmo. Dessa vez eu vou confiar, mas se você estiver me enganando, na próxima não terá conversa. Eu acabo com a tua raça! (P/comparsa) Vamos.

Eles vão para o carro, aonde entram. O carro dá a partida e sai de ré. Depois vira e vai se afastando. CAM mostra Gael ali aliviado. Ele entra em seu carro que vai se afastando. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 03. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.

Glória ali sentada. Sol desce a escada com um notebook.

SOL               —  Mãe, andei dando uma pesquisada.

GLÓRIA        —  Sobre?

SOL               —  Como assim: “sobre”? Sobre a nossa nova casa no Rio.

GLÓRIA        —  Você não quis dizer… Sobre a sua nova casa no rio?

SOL               —  Ah mãe. Vamos dar uma olhada nesses apartamentos aqui. Eu garanto que ALGUM vai conquistar a senhora.

GLÓRIA        — Tá bom.

Sol se senta ao lado da mãe e mostra um apartamento. CAM detalha a tela do notebook com as fotos.

SOL               —  Olha como esse aqui é lindo.

GLÓRIA        —  É… Mas tem um problema.

SOL               —  Que problema?

GLÓRIA        —  A janela dele é muito grande.

SOL               —  E o que é que tem a janela ser grande?

GLÓRIA        —  Como assim o que é que tem? Com uma janela dessas eu jamais chegaria perto. Eu hein! Você vai olhar pela janela e vai ter a impressão de que está caindo do prédio.

SOL               —  (Sorrir) Ah mãe, pelo amor de Deus, né?!

Elas continuam a ver os apartamentos e a conversar fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 04. RUA INDETERMINADA NO RJ. EXT/ INT. DIA.

Ação. Ritmo. Rua com pouco movimento. CAM vai buscar carro de Gael vindo em alta velocidade.

Corta para dentro do carro: ele ali dirigindo feito louco.

Entra aqui um INSERT da voz de ratão arrematando em off.

RATÃO         —  (OFF) Espero que esteja tudo aqui. Por que se não tiver… Você e esse ferro aqui vão ter uma conversinha bem íntima.

GAEL            —  (P/si) Ratão nunca vai me pegar! Nunca!

Corta para fora do carro: ele faz várias ultrapassagens perigosíssimas. O carro vai se afastando da CAM. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 05. APART DE MARTA. SALA. INT. DIA.

Marta ali olhando pela janela. Miguel e Adriana chegam da rua.

MIGUEL        —  Cheguei, mãe.

ADRIANA     —  E eu cheguei junto.

MARTA        —  Oi, minha nora querida.

As duas se cumprimentam com dois beijinhos no rosto.

MIGUEL        —  E como é que está, dona Marta? Eu sei que essa data é difícil pra senhora.

MARTA        —  Eu estou bem, meu filho. Claro que ainda bate uma aflição, uma saudade lá dentro, mas nós temos que se conformar.

MIGUEL        —  É isso aí. Agora eu vou tomar um banho. (P/Adriana) Fica à vontade, meu amor!

Ele vai para o quarto.

MARTA        —  Fiquei feliz de verdade em te ver aqui, Adriana. Como já fazia um tempo que você não vinha aqui, eu pensei que você e o Miguel tinham brigado ou algo do tipo.

ADRIANA     —  Não, dona Marta. Nós estamos bem. Na verdade, nós nunca estivemos tão bem quanto agora.

MARTA        —  Que bom. Que bom, Adriana. Fico feliz por vocês. Você é a nora que eu sempre adorei. O Miguel sim sabe escolher as moças certas para namorar. Agora, o Gael só escolhe mulher chata e feia.

Adriana sorrir.

MARTA        —  Tá rindo? Mas é verdade!

As duas continuam a conversar fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 06. JORNAL. REDAÇÃO. INT. DIA.

Várias pessoas ali em suas mesas trabalhando. Alfredo vem até a mesa de Rosangela que está digitando rapidamente e arremata.

ALFREDO     —  O que tanto você digita aí, Rô?

ROSANGELA —         A manchete de amanhã.

ALFREDO     —  Da capa?

ROSANGELA —         Isso. A manchete principal do Jornal.

ALFREDO     —  Toda hora que eu olho de lá da minha mesa você tá aqui digitando feito uma louca.

ROSANGELA —         Fazer o que, né, Alfredo? Vida de jornalista é desse jeito. Quando não estamos atrás dos fatos, estamos aqui redigindo.

ALFREDO     —  Verdade. Mas você nunca pensou em parar e descansar nem que seja um mês?

ROSANGELA —         Descansar pra que, Alfredo? Eu tô bem.

ALFREDO     —  Eu sei que você tá bem, Rosangela. Mas você tá trabalhando há cinco anos sem tirar férias.

ROSANGELA —         Sabe o que é que é, Alfredo? Eu adoro o que eu faço. Então eu penso: pra que ficar em casa?

ALFREDO     —  Como você quiser, Rô. Mas se você quiser ir pra casa mais cedo hoje, pode deixar que eu vou designar outro jornalista pra terminar a reportagem.

ROSANGELA —         De jeito nenhum! Eu comecei então eu vou terminar!

Alfredo sorrir e volta para sua mesa. Ela continua ali digitando rapidamente. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 07. RIO DE JANEIRO. EXT. ANOITECER.

Takes descontínuos do anoitecer no Rio. Luzes do Cristo, da orla de Copacabana e Jockey Clube se acendendo.

CORTA PARA:

CENA 08. CONSTRUTORA MACEDO. SALA DE VICENTE. INT. NOITE.

Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.

Vicente ali guardando umas papeladas. Cristina entra.

CRISTINA     —  Passando só pra perguntar… E o nosso jantar de hoje? Está de pé?

VICENTE      —  Ah é meu amor. Já ia eu me esquecendo de que não vai dar pra mim ir.

CRISTINA     —  Por que não?

VICENTE      —  Porque eu tenho um compromisso.

CRISTINA     —  Que compromisso Vicente? A essa hora? O horário comercial já acabou faz tempo.

VICENTE      —  Eu sei. Mas é que tem um cliente que eu só posso encontrar a essa hora.

CRISTINA     —  Então tá bom. Mais uma vez seremos só eu e a nossa filha.

VICENTE      —  Poxa, meu amor… Eu não faço isso porque eu quero não. É esse cliente que é chato demais.

CRISTINA     —  Tudo bem, Vicente. Boa sorte lá nesse jantar então.

VICENTE      —  Obrigado, meu amor.

Cristina sai e ele respira mais aliviado.

CORTA PARA:

CENA 09. CONSTRUTORA MACEDO. RECEPÇÃO. INT. NOITE.

Ana ali terminando de guardar suas coisas. Cristina vem.

CRISTINA     —  Ana, termine de guardar logo isso que o seu expediente já acabou faz tempo.

ANA              —  Desculpe, dona Cristina. Mas é que eu estava com dificuldade de entrar no sistema, por isso eu terminei só agora.

CRISTINA     —  Quando for assim você fala com o pessoal do TI.

ANA              —  Sim, senhora.

CRISTINA     —  Amanhã assim que você chegar, eu quero que você ligue pro Maurício e pergunte a ele quando a obra do prédio do centro vai acabar!

ANA              —  Sim, senhora.

CRISTINA     —  É que a prefeitura está enchendo o saco cobrando toda hora.

Vicente vem de sua sala.

VICENTE      —  Tchau, meninas. Boa noite. Meu amor te vejo em casa.

ANA              —  Boa noite.

CRISTINA     —  Tá bom.

Ele pega o elevador. Cris fica ali desconfiada. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 10. APART DE MARTA. SALA. INT. NOITE.

Marta com Adriana ali na porta.

ADRIANA     —  Muito obrigado por tudo, dona Marta.

MARTA        —  Eu é que agradeço a sua visita. Vê se aparece mais vezes.

ADRIANA     —  Pode deixar. Tchau.

MARTA        —  Tchau querida.

Marta fecha a porta e volta até o sofá, aonde se senta. Miguel vem do quarto.

MIGUEL        —  Ué, a Adriana já foi?

MARTA        —  Já.

MIGUEL        —  (Se senta) Às vezes eu fico pensando… Será que a Adriana é mesmo a mulher certa pra mim?

MARTA        —  Por que isso agora, meu filho? Vocês já estão noivos.

MIGUEL        —  Eu sei, mãe. Mas sei lá… Acho que bate uma insegurança, sabe?

MARTA        —  Sei. Mas isso você deveria ter pensando antes de noivar com a Adriana. (Desconfia) Por acaso você está falando isso por que conheceu outra garota, é?

MIGUEL        —  Claro que não, mãe! Quer dizer… Conhecer eu até conheci, mas mesmo assim eu amo a Adriana.

MARTA        —  Então tá tudo certo. Se você ama a Adriana, então esqueça essa outra menina!

Fecha em Miguel indeciso. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 11. APART DE RICARDO E RÔ. SALA. INT. NOITE.

Karina ali sentada pensativa. Ricardo chega do trabalho.

RICARDO     —  Oi, filha. Boa noite.

KARINA       —  Boa noite, pai.

RICARDO     —  O que aconteceu, hein?

KARINA       —  Como assim?

RICARDO     —  Eu te conheço. Eu sei bem quando está acontecendo alguma coisa com a minha garotinha.

KARINA       —  Pelo menos o senhor sabe, porque se depender da mamãe eu nunca consigo desabafar.

RICARDO     —  Pode falar filha… Pode falar o que tá te deixando desse jeito.

KARINA       —  Eu estou com problemas pai.

RICARDO     —  Mas que tipo de problemas, minha filha?

KARINA       —  É que eu acho que estou gostando de um garoto.

RICARDO     —  (Feliz) Que bom, filha. Você é tão reservada que eu pensei que nunca se apaixonaria.

KARINA       —  Alto lá! Não é paixão. Eu diria que é atração.

RICARDO     —  Mas mesmo assim, filha. Vai, me conta mais.

KARINA       —  Pai, eu tô com esse problema porque ele tem namorada.

RICARDO     —  Ih… Aí estamos entrando em um terreno perigoso.

KARINA       —  E ela também está cursando arquitetura.

RICARDO     —  Olha, filha. Você viu. Eu tentei, mas eu acho que nisso a única pessoa que poderia de ajudar, é a sua mãe.

Fecha em Karina pensativa.

CORTA PARA:

CENA 12. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Sol ali sentada mexendo no notebook. Glória desce a escada.

SOL               —  Aqui, mãe. Acho que encontrei um apartamento ideal pra gente.

GLÓRIA        —  Ai pelo amor de Deus, Sol. Para com isso. Você não para de olhar esse troço aí no computador.

SOL               —  É porque eu estava procurando um apartamento que se aproximasse do tamanho dessa casa.

GLÓRIA        —  E existe?

SOL               —  Claro que existe. Olha só esse tríplex aqui.

Ela vira o notebook para a mãe que olha.

GLÓRIA        —  Até que é bonitinho.

SOL               —  E o melhor de tudo… A janela não é grande pra senhora pensar que vai cair do prédio.

GLÓRIA        —  Que bairro fica esse tríplex?

SOL               —  Leblon.

GLÓRIA        —  Olha, eu sempre ouvir falar bem desse bairro. Dizem que é lindo.

SOL               —  Então eu vou agendar uma visitinha. Que tal?

GLÓRIA        —  Pode ser, mas esse apartamento é grande demais pra duas pessoas!

SOL               —  E daí?! Essa casa aqui também não é grande demais pra nós duas?

GLÓRIA        —  Tá bom, Sol. Marca aí, mas só uma visitinha!

SOL               —  Sabia que a senhora ainda ia ceder. Se o tríplex for isso aqui mesmo das fotos. Nós vamos comprar com certeza.

Ela feliz da silva começa a marcar a visita no notebook.

GLÓRIA        —  (Olha o valor) Por esse preço exorbitante aí tem que ser um palácio! Vem cá, Sol. Essa sua procura por uma nova casa é pra esquecer que um dia você esteve morando na mesma casa que o Alfredo?

Ela não responde e continuar a mexer no notebook.

GLÓRIA        —  Espero que essa troca de cenário sirva pra te mudar. Porque se você continuar desse jeito, as coisas não vão ser nada boas.

Fecha em Sol olhando para o notebook, refletindo sobre a vida. Instantes.

CORTA PARA:

INTERVALO COMERCIAL

CENA 13. APART DE ALFREDO E RENATA. SALA. INT. NOITE.

Bruna ali sentada mexendo no cel. Alfredo chega do trabalho.

ALFREDO     —  Boa noite, filha.

BRUNA         —  (Olhando p/cel.) Boa noite!

ALFREDO     —  Nossa. Nem pra olhar pra mim. Sabe, eu sinto falta daquela época em que eu chegava do trabalho e você vinha logo me abraçar e dizia que estava com saudades.

BRUNA         —  (Olhando p/cel.) Agora os tempos são outros, pai.

ALFREDO     —  Sei… O tempo de agora é aquele em que as pessoas nem olham mais uma na cara da outra.

Renata vem do quarto.

RENATA       —  Oi, meu amor. Já chegou?

ALFREDO     —  Já.

Ela dá um beijinho nele.

ALFREDO     —  Pelo menos alguém veio me cumprimentar.

RENATA       —  Como foi o seu dia hoje?

ALFREDO     —  Corrido como sempre. Agora se vocês me dão licença, eu preciso tomar uma ducha pra tirar esse peso de um dia de serviço.

RENATA       —  Vai lá, meu amor.

Ele vai para o quarto.

RENATA       —  Por que ele disse aquele negócio de alguém cumprimentar ele?

BRUNA         —  Liga não, mãe. Isso é drama do pai.

Fecha em Renata ainda sem entender.

CORTA PARA:

CENA 14. JORNAL. REDAÇÃO. INT. NOITE.

Redação com poucas pessoas trabalhando, Rosangela ali digitando no PC. Atenção Sonoplastia: Cel. dela notifica mensagem. Ela pega o cel. CAM detalha a tela do cel. Com uma mensagem de Ricardo. Ela lê

ROSANGELA —         (Lendo) Venha para casa logo. A Karina está precisando de você.

Ela deixa o cel. ali e volta a digitar no computador.

ROSANGELA —         (P/si, olhando p/PC) Karina pode esperar. Com certeza é alguma bobeira relacionada com a juventude.

Ela continua ali a digitar. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 15 PRÉDIO DE FLÁVIA E RICARDO. FACHADA. EXT. NOITE.

Jandira ali se agarrando com um homem de vinte e poucos anos. Carro de Vicente se aproxima. Ele para e salta do carro, quando se depara com aquela cena.

VICENTE      —  (P/si) Que coisa ridícula! Uma senhora se agarrando com um garotão aqui na calçada. É o fim do mundo isso!

Ele entra no prédio. CAM foca ali no casal se agarrando, ele começa a beijar o tosto de Jandira e ela ali a sorrir, gostando. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 16. APART DE FLÁVIA. SALA. INT. NOITE.

Sala vazia. Vicente entra.

VICENTE      —  (Chama) Flávia? Você está em casa, meu amor?

Ela vem do quarto.

FLÁVIA        —  Oi, meu amor. O que você tá fazendo por aqui?

VICENTE      —  Como assim? Eu não posso vim ver a minha família, é isso?

FLÁVIA        —  (Agarra ele) Claro que você pode vim, mas é que eu pensei que você tinha que encenar pra outra.

VICENTE      —  E eu encenei. Disse que tinha um encontro com um cliente.

FLÁVIA        —  Então hoje você vai ter que ir embora? Não vai poder dormir?

VICENTE      —  Hoje não, meu amor. Mas eu prometo que em breve nós vamos ficar juntinhos.

FLÁVIA        —  Já estou ouvindo isso há oito anos.

VICENTE      —  Eu sei que essa promessa é antiga, mas você tem que entender que antes de tomar qualquer decisão eu preciso pensar muito bem, principalmente na construtora!

Murilo vem do quarto correndo.

MURILO       —  (Feliz) Pai!

VICENTE      —  Oi, filhão.

Eles se abraçam.

MURILO       —  Pai, você não vai acreditar. Eu fiz dois gols hoje na escola. Por que o senhor não foi me ver?

VICENTE      —  O papai ficou preso no trabalho, mas eu prometo que no próximo eu vou te ver, tá? Agora vamos jogar aquele joguinho que você adora?

MURILO       —  Vamos.

Os dois vão para o quarto e Flávia permanece ali feliz, sorridente. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 17. APART DE RICARDO E RÔ. QUARTO-CASAL. INT. NOITE.

Ricardo sai da suíte enrolado numa toalha e vem até a cama, pega o cel. e olha.

RICARDO     —  (P/si) Mais uma vez ignorando as minhas mensagens. Até quando isso, Rosangela? Até quando? Nem mesmo falando que a filha dela estava precisando da mãe. Isso tá passando dos limites!

Ele fica ali indignado meneando a cabeça negativamente. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 18. PRÉDIO. ESTACIONAMENTO. INT. NOITE.

Adriana sai de seu carro e vem caminhando. Quando o carro da mãe estaciona. Ela para de caminhar e fica a olhar pro carro da mãe. Cristina salta do carro e vem em direção a filha.

CRISTINA     —  Chegando a essa hora filha?

ADRIANA     —  Sim. É que eu fui pra casa do Miguel e passei a tarde toda lá conversando com a dona Marta.

Cris chama o elevador.

CRISTINA     —  Ah, tá. Pensei que você não ia mais lá.

ADRIANA     —  Pois é, mãe. Mas quando ele me disse que hoje fez cinco anos que o pai dele morreu, eu decidi ir até lá e dar uma forcinha pra dona Marta.

CRISTINA     —  É isso aí filha. Faz mesmo essas coisas. Seja caridosa empática… Porque eu não sou nada disso.

ADRIANA     —  Eu também não. Só fui lá porque querendo ou não eles agora fazem parte da família.

O elevador chega e as duas entram.

CORTA PARA:

CENA 19. PRÉDIO. ELEVADOR. INT. NOITE.

As duas ali em pé.

CRISTINA     —  Ainda bem que você gosta da sua sogra porque eu não vou a cara da mãe do Vicente de jeito nenhum!

ADRIANA     —  E eu não sei disso? E a discussão desnecessária que vocês tiveram no noivado por causa da lagosta.

CRISTINA     —  Eu não queria que isso fosse servido, mas ela é teimosa demais!

As duas saem do elevador.

CORTA PARA:

CENA 20. PRÉDIO. CORREDOR. INT. NOITE.

As duas saem e vão caminhando em direção ao apartamento.

ADRIANA     —  Convenhamos aqui, né, mãe? As duas são teimosas demais!

CRISTINA     —  Por quê? Só por que eu queria o melhor pro seu noivado?

ADRIANA     —  Porque vocês duas não deveriam ter se metido nisso! Era o meu momento e do Miguel. Nós dois que deveríamos ter escolhido as coisas.

As duas chegam ao apartamento e entram.

CORTA PARA:

CENA 21. APART DE VICENTE E CRIS. SALA. INT. DIA.

As duas entram. Adriana fecha a porta.

CRISTINA     —  Tá, desculpa por ter tentado ajudar no noivado de vocês. A única coisa que eu queria era que fosse tudo perfeito.

ADRIANA     —  Eu sei, mãe. Eu sei que a senhora só queria ajudar.

CRISTINA     —  (Duvida) Sei.

ADRIANA     —  Agora mudando de assunto. Por que o seu Vicente não chegou junto com você?

CRISTINA     —  Ele disse que tinha que se encontrar com um cliente.

ADRIANA     —  De novo? Que cliente é esse insuportável que não deixa o meu pai jantar com a gente?

CRISTINA     —  Eu também gostaria de saber, mas ele disse que quer negociar com ele sozinho. Assim diz ele que é um belíssimo contrato pra construtora.

CORTA PARA:

CENA 22. APART DE MARTA. QUARTO-GÊMEOS. INT. NOITE.

Miguel ali sentado mexendo no notebook. Marta entra.

MARTA        —  Licença, Filho.

MIGUEL        —  Oi, mãe. Pode entrar.

MARTA        —  (Entra) Eu queria saber se você tem notícias do seu irmão?

MIGUEL        —  Não. Na verdade, eu só vi o Gael hoje de manhã.

MARTA        —  (Aflita) Ai Jesus. O que o Gael tá aprontando dessa vez?

MIGUEL        —  Por quê?

MARTA        —  Sei lá, eu tô sentindo que o Gael tá metido com alguma coisa de errado e não me contou.

MIGUEL        —  Então vamos procurar nas coisas dele, vai que encontramos alguma coisa?

Os dois começam a vasculhar o lado de Gael do quarto. Marta acha um envelope debaixo do colchão. Ela o abre e tira de lá dinheiro, um colar de ouro e uma aliança grossa de ouro puro.

MIGUEL        —  Mas o que é isso?

MARTA        —  Por que o Gael tem dinheiro e joias femininas?

Os dois ficam ali olhando aquilo. Instantes. Suspense. Tensão.

CORTA PARA:

FIM DO 8º CAPÍTULO

 

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo