PARTES DE MIM
NOVELA DE:
RAMON SILVA
ESCRITA POR:
RAMON SILVA
PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO
ALFREDO
GLÓRIA
MARTA
SOL
PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS:
ÁLLAN, FIGURAÇÃO
CENA 01. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Marta descendo a escada. Alfredo chega do escritório.
ALFREDO — Olá, Marta!
MARTA — Oi, Alfredo!
ALFREDO — Desculpa se eu vou ser indelicado agora, mas… Por que você tem me evitado nesses meses que eu tô morando aqui?
MARTA — Eu não queria falar nada não, mas sabe o que é que é, Alfredo? Eu percebi que a Sol não gosta muito de quando a gente está conversando. E pelo bem do meu emprego, eu resolvi que não quero mais saber de papinhos com você. Sem ofensa, tá?!
ALFREDO — Mas isso é um ultraje! A Sol não tem o direito de fazer isso por causa de ciúmes! Eu só tenho olhos pra ela! O que mais essa mulher quer de mim? Eu sou todo dela!
MARTA — Que bom pra vocês! Agora se você me der licença, eu preciso organizar as coisas pro jantar.
Sonoplastia: Ouvimos Sol e Glória comemorando em off.
SOL — (OFF, comemora) Uhu!!!
ALFREDO — Que isso? Você ouviu?
MARTA — Sim. Parecia que foi lá em cima.
ALFREDO — Será que aconteceu alguma coisa?
Sol e Glória descem a escada rapidamente sorridentes e felizes.
SOL — (P/Alfredo) Meu amor, você não vai acreditar…
ALFREDO — (Preocupado) O que tá acontecendo, Sol?
SOL — Você vai ser papai! Eu tô grávida!
ALFREDO — (Feliz) Não brinca! Você está falando sério?
SOL — Sim!
Os dois se abraçam e se beijam. CAM mostra a reação de Marta séria
GLÓRIA — Que cara é essa, Marta? Não gostou da novidade?
MARTA — Gostei! É que hoje eu não estou me sentindo muito bem.
Ela vai para a cozinha e Glória fica ali sem entender nada e se junta aos novos pais da área. Eles ficam ali conversando fora de áudio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 02. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. DIA.
CAM focada na taboa de cortar carne. Marta dá uma facada fortíssima na taboa que a faca chega a ficar presa.
MARTA — (P/si, invocada) Droga! Que ódio dessa mulher! Sempre conseguindo tudo que quer! Mas isso não vai ficar assim não. (Tira a faca da taboa e fica olhando-a) Acho que com você eu posso fazer uma cesariana precoce, né?
Ela dá gargalhadas malignas. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 03. MANSÃO MORAES. QUARTO DE SOL. INT. DIA.
Atenção Sonoplastia: Entra aqui o instrumental da música tema do casal (Romântica).
Casal ali feliz, sorridente abraçados. Alfredo dá um beijo na barriga da nova mamãe, que sorrir. LETREIRO: COM TRÊS MESES DE GESTAÇÃO.
CORTA PARA:
CENA 04. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.
Glória e Sol ali. Sol abrindo um persente embrulhado. Ela tira de lá um sapatinho azul. LETREIRO: COM CINCO MESES DE GESTAÇÃO.
SOL — Por que esse sapatinho azul, mãe? A senhora nem sabe o sexo!
GLÓRIA — Não sei, mas a minha intuição diz que é um menino.
SOL — E se não for?
GLÓRIA — A gente dá pra alguém!
SOL — Mesmo assim, obrigado!
As duas se abraçam felizes.
CORTA PARA:
CENA 05. MANSÃO MORAES. JARDIM. EXT. DIA.
Clima e decoração de festa. Muitas pessoas ali (figurantes), Marta e Glória ali conversando.
MARTA — Dona Glória? Por que essa festa?
GLÓRIA — Porque eu finalmente convenci a Solange a fazer a ultrassom.
MARTA — Ué! Ela não queria saber o sexo da criança, não?
GLÓRIA — Ela queria guardar essa emoção para o parto, mas como o tio dela está de viagem para os Estados Unidos a trabalho e não deve voltar tão cedo, ela resolveu fazer o teste.
MARTA — Que bom! Assim acaba com essa nossa curiosidade.
GLÓRIA — É.
Fecha em Marta que faz careta.
CORTA PARA:
CENA 06. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Alfredo e Sol descendo a escada. Ela segurando uma caixinha branca.
ALFREDO — E aí, meu amor? Pronta para revelar as nossas famílias o sexo da criança?
SOL — Sim. Mas eu tô muito nervosa.
ALFREDO — Relaxa, Sol. Isso deve ser por que somos pais de primeira viagem.
SOL — Falar relaxa a essa altura do campeonato é moleza, né?
ALFREDO — Vamos logo!
SOL — Espera aí.
ALFREDO — Esperar o quê?
SOL — Deixa eu falar com Deus aqui primeiro.
Ela olha para o teto e começa a resmungar.
ALFREDO — Ai, ai, ai… Acho que eles já esperaram demais, você não acha não?
SOL — Larga de ser chato, Alfredo! Não custa nada agradecer pelas coisas boas que estão acontecendo em nossas vidas!
ALFREDO — Agora chega, né?! Vamos!
Os dois saem. Ele praticamente arrastando-a.
CORTA PARA:
CENA 07. MANSÃO MORAES. JARDIM. EXT. DIA.
Alfredo e Sol saem da casa.
GLÓRIA — Lá vêm eles, gente!
Eles se aproximam da multidão.
SOL — Gente… Antes de tudo eu queria agradecer a todos que estão presentes aqui nesse momento que é tão mágico, tão importante para mim e para o Alfredo.
TIO — Minha sobrinha… Eu peço mil desculpas por ter estragado o seu sonho de só saber o sexo na hora do parto.
SOL — Se preocupa não, Tio. Eu também estava curiosíssima pra saber o sexo.
CAM mostra Marta de deboche, abrindo a boca de “sono”.
ALFREDO — Pois então gente, vamos acabar logo com isso porque se não a Sol vai ficar aqui falando a tarde toda e não vai fazer o que é mais importante, que é revelar se é menina ou menino. (Ele pega a caixa com ela) E está nesta caixa aqui a resposta. Mas antes de revelar, nós gostaríamos de fazer uma brincadeira com vocês.
SOL — Esse tipo de brincadeira não acontece, mas nós vimos em um livro da maternidade e achamos legal testá-la com vocês.
ALFREDO — Por isso que quero chamar aqui as duas avós!
Glória e outra mulher (figurante) se aproximam dos dois.
GLÓRIA — O que vocês estão aprontando dessa vez?
SOL — Relaxa, mãe! A senhora vai gostar da brincadeira!
GLÓRIA — (P/Figurante) Esses nossos filhos inventam cada uma, né?
A figurante sorrir e meneia a cabeça concordando. Sol abre a caixa que está nas mãos de Alfredo.
SOL — Como todos podem ver, temos aqui dois papéis!
Sol entrega um para cada avó.
SOL — (P/Avós) Não abram ainda.
ALFREDO — Naqueles papéis que a Sol entregou as duas avós, estão às pistas do que são por que nós estamos esperando dois bebês!
Todos vibram com a notícia, mas Marta permanece ali com cara feia.
SOL — Pois é gente… Será trabalho em dobro! Mas agora sem mais enrolações… Podem ler o papel.
FIGURANTE — (Lê) Não gosta de um tipo de brinquedo que começa com a letra B.
Todos ali intrigados, fazendo comentários entre si sem entender nada.
ALFREDO — Eu sei que vocês não entenderam nada, mas esperem até a dona Glória ler a pista dela.
GLÓRIA — (Lê) Não gosta de panelinha…
Todos continuam a fazer comentários entre si. CAM mostra Gloria deduzindo o que seja.
GLÓRIA — Eu acho que sei o que é. São dois meninos, não são?
O casal faz suspense e arremata.
CASAL — Isso! São dois meninos!!!
Todos vibram com a notícia. Marta bufa de ódio e vai para a cozinha da casa. Alfredo tira da caixa um sapatinho azul, o mesmo que glória havia dado.
Todos ali felizes e comemorando. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 08. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. DIA.
Marta ali em pé com ódio nos olhos.
MARTA — (P/si) Ai que ódio dessa mulher! Sempre conseguindo dá a volta por cima! Só Deus sabe como eu fico morrendo de ódio de felicidade alheia! Droga! Eu tinha todo um esquema pra ter o Alfredo só pra mim, mas aí essa vaca foi engravidar! Se ela tá pensando que eu não sei qual é o verdadeiro planinho dela, ela está muitíssimo enganada! Eu sei que ela fez isso pra segurar ele porque sabia que comigo aqui… Ha, Ha… Ele não ia resistir ao meu charme, meu amor. Aliás, homem nenhum resiste!
CORTA PARA:
INTERVALO COMERCIAL
CENA 09. MANSÃO MORAES. JARDIM. EXT. DIA.
Todos ali comendo, brindando felizes da vida. Tudo isso fora de áudio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 10. CIDADE DE SÃO PAULO. EXT. DIA.
Takes descontínuos da cidade em 1999. LETREIRO: DOIS MESES DEPOIS. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 11. PARQUE FLORESTAL EM SP. EXT. DIA.
Várias pessoas ali caminhando, vemos Marta que vem em direção a CAM cabisbaixa, triste… Ela se senta em um banco.
MARTA — (P/si, triste) Meu plano foi por água abaixo… A minha frustração é tão grande, mas tão grande que eu estou pensando em fazer uma loucura!
Um homem se senta ao lado dela e começa a ler um jornal.
MARTA — (P/si) Poxa, a única coisa que eu queria era ele, mas agora com essa gravidez, eu sou carta fora do baralho.
Reação do homem achando que ela é louca.
ÁLLAN — Você está bem?
MARTA — Não muito! Parece que o universo está conspirando contra mim.
ÁLLAN — Se te serve de consolo, eu também estou na mesma situação.
MARTA — Sério? Mas o que aconteceu?
ÁLLAN — Bom, no seu caso, parece que o homem que você ama está com outra e essa outra pelo que me pareceu está grávida, correto?
MARTA — Sim.
ÁLLAN — O meu caso é pior! Eu confiei àquela mulher a minha fidelidade e ela o mesmo, mas na hora do vâmo ver… Ela não foi fiel e me traiu.
MARTA — Não brinca.
ÁLLAN — E o pior de tudo é que estávamos noivos há dois anos. Estava até pensando em marcar a data do nosso casamento, mas… Tudo não saiu como eu sonhava.
MARTA — É muito frustrante, né? A gente sonha que as coisas vão ser de um jeito, quando na verdade elas são de outro.
ÁLLAN — Verdade…
Os dois continuam a conversar fora de áudio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 12. MANSÃO MORAES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Alfredo, Glória e Sol ali sentados. Entra o seguinte Letreiro: COM SETE MESES DE GESTAÇÃO.
GLÓRIA — E como é que está filha?
SOL — Como assim, mãe?
GLÓRIA — Como está a gestação? Você tá tendo muitos desejos?
SOL — Só o normal mesmo.
ALFREDO — Ah, sei! Como se fosse normal uma pessoa querer comer farinha com achocolatado.
GLÓRIA — Claro que é normal, Alfredo! Quando eu era criança, uma vizinha minha vivia comendo esse tipo de coisa.
ALFREDO — Nossa! Eu nunca imaginei que alguém poderia gostar de comer isso.
GLÓRIA — São coisas que só quem já foi pobre consegue entender.
SOL — Mas vamos focar aqui. Mãe, a senhora acha que eu deveria fazer uma cesárea ou parto normal?
GLÓRIA — Olha filha… Todas as duas opções têm um pró e um contra. Na cesárea, você terá que ficar de molho por mais tempo. E de parto normal você tá pronta pra outra rápido…
Glória continua a explicar para a filha fora de áudio. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 13. PARQUE FLORESTAL EM SP. EXT. DIA.
Marta com Állan ali sentados conversando.
MARTA — Deixa eu te perguntar… Você é daquele tipo de homem que tem o sonho de formar uma família?
ÁLLAN — Tenho! Inclusive uma das minhas maiores frustrações com a minha ex-noiva foi isso. Ela foi muito hipócrita comigo! Só de pensar me dá uma raiva.
MARTA — Ei! Não fique assim. Veja o lado bom disso.
ÁLLAN — E há um lado bom em ser traído?
MARTA — Não exatamente, mas agora você pode abrir sua mente para novas experiências, conhecer novas pessoas.
ÁLLAN — É… Pensando por esse lado você tem razão. Uma traição sempre acaba com a gente, mas agora eu não estou com cabeça pra isso.
MARTA — É… Nem eu!
Os dois se olham. Atenção Sonoplastia: Entra aqui uma música.
CORTA PARA:
CENA 14. MANSÃO MORAES. QUARTINHO DE EMPREGADA. INT. NOITE.
Atenção Edição: Ligar no áudio com a cena anterior.
Marta entra se agarrando com Állan e os dois vão para a cama se beijando intensamente. Ele começa a tirar a roupa dela. Corte descontínuo. Os dois ali transando intensamente. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 15. CIDADE DE SÃO PAULO. EXT. AMANHECER.
Takes descontínuos do amanhecer em 1999.
CORTA PARA:
CENA 16. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. DIA.
Glória vem da sala.
GLÓRIA — (P/si) Onde será que a Marta se meteu? (Chama) Marta, Marta…
CORTA PARA:
CENA 17. MANSÃO MORAES. QUARTINHO DE EMPREGADA. INT. DIA.
CAM mostra umas roupas ali pelo chão jogadas. CAM vai passando e para no casal ali dormindo abraçados.
GLÓRIA — (OFF) Marta? Aonde você está?
Ela acorda e arregala os olhos, pula da cama e arremata.
MARTA — (P/si, desesperada) Ai, meu Deus! Eu não acredito que eu trouxe um homem pra cá!
Glória bate na porta e arremata.
GLÓRIA — (OFF) Marta… Você tá aí?
MARTA — Tô, dona Glo. É que eu acabei de acordar agora. Desculpa, mas hoje eu perdi o horário.
GLÓRIA — (OFF) Tudo bem, mas saia logo para cuidar de seus afazeres.
MARTA — Pode deixar!
Ela vai para a porta em “ponta de pé” e a abre para certificar-se de que Glória não está mais ali. Ela volta a cama e chama Állan.
MARTA — (Chama) Acorda, Állan! Acorda!
Ele acorda fazendo caretas.
ÁLLAN — Onde é que eu tô?
MARTA — Na casa da minha patroa! Você precisa sair agora!
ÁLLAN — Mas por quê?
MARTA — E ainda tem a cara de pau de me perguntar por quê! É óbvio que se a dona Glória nos pegar aqui no quarto, eu sou demitida com uma mão na frente e outra atrás! Agora levanta daí que você precisa sair daqui sem que ninguém te veja.
Ele se levanta. E começa a se vestir.
MARTA — Eu não sei o que deu em mim pra te trazer pra cá. Se a dona Glória descobre eu tô ferrada.
ÁLLAN — Relaxa.
MARTA — Relaxa. Como relaxa? O meu emprego está na berlinda, meu amor! Não tem como eu ficar relaxada!
ÁLLAN — Mas não vai dizer que não valeu a pena correr esse risco?
MARTA — É. Até que você é bom no que faz!
ÁLLAN — Comigo é assim! Toda mulher que passa por mim vê estrelinhas!
MARTA — Agora para de se gabar e vamos!
Os dois saem do quartinho grilados.
CORTA PARA:
CENA 18. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. DIA.
Os dois vêm do quarto em ponta de pé.
MARTA — (Cochichando) Sai pela porta de trás que ninguém vai te ver.
ÁLLAN — Tá, mas antes…
Ele dá um beijo nela.
MARTA — Tá bom, agora chega!
ÁLLAN — (Saindo) Tchau! Adorei a noite!
Ela o coloca para fora da cozinha e respira aliviada. Glória vem da sala.
GLÓRIA — Alguém estava aqui com você?
MARTA — Não, dona Gloria. Por que a senhora tá perguntando isso?
GLÓRIA — É que parece que eu ouvi uma pessoa!
MARTA — A senhora deve ter se enganado, dona Glória.
GLÓRIA — É… Vai ver eu me enganei mesmo.
Glória volta para a sala e Marta respira aliviada e tira “suor” da testa.
CORTA PARA:
CENA 19. MANSÃO MORAES. QUARTO DE SOL. INT. DIA.
Sol ali sentada na cama triste. Alfredo dormindo, até que acorda e arremata.
ALFREDO — Meu amor? Você tá bem?
SOL — Sim.
ALFREDO — Então o que você faz aí sentada pensando em Deus lá sabe o quê?
SOL — Tô aqui pensando no quanto o papai ficaria feliz em saber que teria dois netos para paparicar.
ALFREDO — Oh, meu amor. Não fica assim não. Eu tenho certeza que o seu Silvestre está olhando por nós aonde quer que ele esteja!
SOL — Eu sei. Tenho certeza que ele ia querer ensinar os meninos a jogar futebol… Esse era o sonho dele. Ter um filho homem pra ensinar as coisas. (Chora)
ALFREDO — (Abraça a amada) Meu amor… Não fica assim não porque daqui a pouco você tá passando mal aí. Pensa nos nossos filhos!
SOL — Você tem razão! Papai mesmo não estando aqui, eu sei que ele ia querer ver esses meninos crescerem bem.
ALFREDO — Isso! Bem o seu Silvestre mesmo! Ele não ia querer ver a filhinha do coração dele triste, quando deveria ser a época mais feliz da vida dela.
Fecha em Sol que dá um sorrisinho. Alfredo dá outro abraço nela. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 20. MANSÃO MORAES. COZINHA. INT. DIA.
Marta ali passando um cafezinho….
MARTA — (P/si) Logo que o sonho de Állan é o mesmo que o meu… Por que não juntar o útil ao agradável? Do jeito que ele tava igual um touro ontem. Com certeza ele me engravidou. Agora sim eu vou ter uma família como o Alfredo e a Sol têm. Pra que ficar mendigando o amor do Alfredo se agora eu tenho o Állan? Que deve ser até melhor do que o Alfredo naquilo… Aquela pegada dele ontem… Nossa! Eu fui nas nuvens!
Ela fica ali nostálgica. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 21. HOSPITAL. FACHADA. EXT. DIA.
LETREIRO: FINALMENTE, A HORA DO PARTO! Já ouvimos daqui Sol fazendo força para pôr seus filhos no mundo.
CORTA PARA:
CENA 22. HOSPITAL. SALA DE PARTO. INT. DIA.
Obstetra e mais duas assistentes ali. Sol fazendo muita força. Alfredo ali segurando a mão da amada.
ALFREDO — Força meu amor! Eu tô aqui contigo! Força!
Ela faz força e um bebê nasce. Todos ali olhando pra criança todos babões.
OBSTETRA — Vamos lá que ainda não acabou não!
Ela faz força.
ALFREDO — Eu vi isso num filme. Faz respiração de cachorrinho.
Ele ensina e ela faz.
SOL — Não tá adiantando nada!
ALFREDO — É porque você tá não tá fazendo direito! É assim ó!
Ele faz novamente.
SOL — Alfredo, eu juro que se você não sair da minha frente eu me levanto daqui com dilatação mil e parto a tua cara!
Reação de Alfredo ali assustado.
OBSTETRA — Vamos lá, Solange! Falta pouco!
Ela continua a fazer força por mais um instante e o segundo e último bebê nasce. Sol respira mais aliviada.
ALFREDO — Os nossos filhos não são lindos?
Sol se descontrola e dá um tapa na cara dele!
ALFREDO — Que isso meu amor! Por que você fez isso?
SOL — Eu aqui morrendo de dor e você aí imitando cachorrinho! Queria ver se fosse você aqui no meu lugar!
ALFREDO — Caramba, meu amor! Eu só tava querendo ajudar.
OBSTETRA — Acho melhor o senhor esperar lá fora!
Alfredo indignado sai.
CORTA PARA:
CENA 23. HOSPITAL. SALA DE ESPERA. INT. DIA.
Sala com algumas pessoas. Marta e Glória ali sentadas. “Glo” aflitíssima.
GLÓRIA — Ai que demora! Eu não aguento mais ficar aqui esperando notícias!
MARTA — Calma, dona Glória! Essas coisas demoram mesmo!
GLÓRIA — E você, Marta?… Nunca pensou em se tornar mãe não?
MARTA — Pensar eu até pensei, mas hoje em dia tá difícil encontrar um homem que consiga te enxertar.
GLÓRIA — Que horror, Marta! Olha como você fala! “enxertar”, até parece que está falando de algum animal.
MARTA — Ué! Só estou sendo realista! Não é isso que acontece pra mulher engravidar?
GLÓRIA — Não! O que acontece pra mulher engravidar chama-se: fecundação e não “enxertar”!
MARTA — Ah tá. Agora sim eu entendi.
Alfredo vem do corredor.
GLÓRIA — E então, Alfredo? Como a minha filha e os meus netos estão?
ALFREDO — Bem! Bem até demais pro meu gosto!
GLÓRIA — Como assim, Alfredo?
ALFREDO — A senhora acredita que a Sol teve a coragem de dar na minha cara?
MARTA — Mas como assim, Alfred?
GLÓRIA — É… Nos explique isso direito.
ALFREDO — Eu estava ensinando a ela como se faz a respiração do cachorrinho…
Ele continua ali a explicar fora de áudio. Glória e Marta ficam sorrindo. Instantes.
CORTA PARA:
FIM DO 2º CAPÍTULO