PARTES DE MIM

NOVELA DE:

RAMON SILVA

ESCRITA POR:

RAMON SILVA

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO

ADRIANA

ALFREDO 

ANA

CARLITO

CRISTINA

FLÁVIA

GAEL

GLÓRIA

JANDIRA

JULIANA

KARINA

MARTA 

MAZÉ

MIGUEL

MURILO

RENATA

RICARDO

ROSANGELA

SOL

VICENTE

CENA 01. PRÉDIO DE FLÁVIA E RICARDO. FRENTE. EXT. DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Ricardo ali intrigado. 

RICARDO     —  (P/si, intrigado) Gente, o que o Vicente tá fazendo por aqui? Será que ele tá indo lá em casa? Melhor ir logo que a Rosangela tá lá sozinha com aquele tal de Alfredo!

Ele atravessa a rua e entra no prédio.

CORTA PARA:

CENA 02. APART DE FLÁVIA. SALA. INT. DIA.

Jandira ali sentada mexendo no cel. Vicente entra.

JANDIRA      —  Ora, ora, ora… Vajam se não é o covarde que voltou!

VICENTE      —  Olá pra você também, Jandira!

Flávia vem da cozinha distraída.

FLÁVIA        —  Com quem a senhora tá falando, mamãe? (Percebe) Vicente?

VICENTE      —  Oi, meu amor.

FLÁVIA        —  Resolveu aparecer depois de nos abandonar e me tratar mal daquele jeito?

VICENTE      —  Desculpa ter falado com você daquele jeito, Flávia. Mas é que eu estava conversando com a Cristina.

JANDIRA      —  É isso que dá se envolver com homem casado. Não pode nem falar com ele pra “outra” não desconfiar.

FLÁVIA        —  Mamãe, será que a senhora pode nos dar licença? Eu quero conversar com o Vicente a sós!

JANDIRA      —  Tudo bem, filha. Vou ver como o meu neto está.

VICENTE      —  Nada de ficar envenenando o meu filho contra mim.

JANDIRA      —  (Indo p/quarto, sorrindo) Não será preciso.

Ela vai para o quarto e os dois se sentam.

FLÁVIA        —  Agora que mamãe saiu… Eu quero saber… Por que você sumiu, Vicente? Eu fiquei muito preocupada com você!

VICENTE      —  Desculpa, meu amor. Mas é que a minha vida tem sido um caos desde que a Cristina descobriu o seu número no meu celular.

FLÁVIA        —  E você já tem uma solução pra isso?

VICENTE      —  Ainda não. Só sei que esses dias eu estou num hotel.

FLÁVIA        —  Pra quê ficar num hotel se esse apartamento é seu?

VICENTE      —  É que eu queria um tempo pra ficar sozinho, refletir sobre a vida, sabe?

FLÁVIA        —  Eu sei que as vezes nós precisamos de momentos só nossos pra pensar, mas… Você deveria ter me avisado.

VICENTE      —  Eu sei, meu amor. Eu errei! Desculpa!

CORTA PARA:

CENA 03. APART DE RICARDO E RÔ. SALA. INT. DIA.

Rosangela e Alfredo ali sentados.

ROSANGELA —Então tá tudo certo, Alfredo. Vai ser isso mesmo.

ALFREDO     —  Show. Acho que a Renata pode gostar.

Ricardo entra apressado.

RICARDO     —  Cadê ele? Cadê ele?

ROSANGELA —Cadê ele quem homem?

RICARDO     —  O Vicente! Eu vi ele entrando aqui no prédio.

ROSANGELA —Ninguém apareceu por aqui não.

ALFREDO     —  Verdade. Eu não ouvi a campainha tocar.

RICARDO     —  Estranho. Eu podia jurar que era o carro dele.

ROSANGELA —Vai ver você se confundiu, meu amor.

RICARDO     —  Não é possível! Parecia muito com ele. Mas se for ele eu vou descobrir.

Ele vai saindo, com Rosangela arrematando.

ROSANGELA —Tá indo aonde, Ricardo?

RICARDO     —  Vou ficar lá em baixo esperando esse mesmo homem sair pra ver se é mesmo o Vicente.

Ele sai.

ROSANGELA —Inacreditável que o Ricardo a essa altura do campeonato vai ficar lá embaixo tomando conta da vida dos outros.

ALFREDO     —  (Sorrir) Agora deixa eu ir lá.

ROSANGELA —Mas já? Sua visita foi tão rápida.

ALFREDO     —  É que agora eu tenho que convencer a Renata a ir no nosso plano.

ROSANGELA —Então tá bom. Eu te levo até a porta.

Os dois vão até a porta e ela abre a porta e ele sai, se vira e arremata.

ALFREDO     —  Até mais tarde então.

ROSANGELA —Até.

Ela fecha a porta e volta até o sofá aonde se senta.

ROSANGELA —(P/si) Só o Ricardo mesmo pra ficar lá embaixo tomando conta da vida desse homem. E a Karina que até agora nada, hein?!

CORTA PARA:

CENA 04. LEBLON. PRAÇA INDETERMINADA. EXT. DIA.

Praça pouco movimentada. Miguel e Karina ali a conversar e sorrir.

MIGUEL        —  Nossa, Karina. Eu não sabia que você era tão assim, sabe…. 

KARINA       —  Sei.

MIGUEL        —  É que na faculdade você me parece ser uma pessoa séria. Mas agora que eu tô vendo que você é uma palhaça. No bom sentido, tá?

KARINA       —  Não ligo não. Eu sou uma palhaça mesmo. Mas eu acho que a gente tem que ser assim mesmo, sabe?

CAM mostra o carro de Adriana passando. Ela fica olhando aquilo com total repúdio.

MIGUEL        —  Como assim?

KARINA       —  Feliz! Sorrir sempre! Mesmo que as coisas não estejam bem, você tem que sorrir e seguir em frente.

MIGUEL        —  Verdade. Eu acho que as pessoas vivem melhor se souberem separar mais as coisas.

KARINA       —  Tudo na vida tem um porquê. E eu acho sinceramente que as coisas ruins têm que acontecer pra gente aprender com aquilo!

MIGUEL        —  Verdade. E por incrível que pareça, nós aprendemos mais com as coisas ruins, erradas, do que com as certas.

KARINA       —  É isso aí. Agora eu tenho que ir começar a trabalhar nesse projeto.

MIGUEL        —  Então tá. Mas se você precisar de uma mãozinha, pode contar comigo.

KARINA       —  Obrigada. Você é um amor.

MIGUEL        —  Ah, que isso?!

KARINA       —  Tchau.

MIGUEL        —  Tchau.

Ela vai caminhando e ele fica ali a olhar ela e sorrindo. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 05. LEBLON. PRAIA. AREIA. EXT. DIA.

Praia com movimento mediano. Juliana e Gael ali sentados na areia, olhando dois surfistas fazendo várias manobras nas ondas. CAM por instantesdá close nos surfistas.

JULIANA      —  Tem que ter muita coragem pra fazer isso.

GAEL            —  Que nada! Surfar deve ser fácil!

JULIANA      —  Ah, tá. Você fala isso porque não sabe. Agora, imagine o quanto deve ser difícil se equilibrar em cima de uma prancha.

GAEL            —  Logo que você acha legal surf… Eu vou fazer.

JULIANA      —  Pra que?

GAEL            —  Pra te conquistar!

JULIANA      —  Ah para com isso, Gael. Não precisa fazer uma coisa pra alguém gostar de você. Se a pessoa realmente gostar de você, vai gostar pelo que você já é e não pelo que você faz!

GAEL            —  Humm… Então eu tenho uma filósofa aqui ao meu lado, é?

Ela sorrir e ele a enche de beijinhos.

CORTA PARA:

CENA 06. CASA DE CARLITO E MAZÉ. SALA. INT. DIA.

Ana ali sentada no sofá aflita. Mazé vem do quarto.

MAZÉ            —  Fui lá no quarto da Juliana atrás de pistas, mas não achei nada.

ANA              —  Atrás de pistas pra quê?

MAZÉ            —  Como pra quê? Pra descobrir se a Juliana tá mentindo ou escondendo alguma coisa de mim!

ANA              —  Ah que isso, tia… A Ju nunca esconderia nada da senhora.

MAZÉ            —  Não sei não. Esses jovens de hoje em dia não se podem confiar. E ela mandou alguma resposta?

ANA              —  Sim.

MAZÉ            —  E o que ela disse?

JULIANA      —  (OFF) Amiga, fala pra ela que eu vim pra praia do Leblon e vou embora depois do pôr do sol.

Obs: áudio extraído da cena 15 do capítulo 21.

MAZÉ            —  Mas o que é que essa menina foi fazer em Leblon, gente?! Ela não sabe que o Rio de Janeiro anda perigosíssimo!

ANA              —  Saber ela sabe, né, tia? Mas se a gente ficar olhando isso, nunca mais vai sair de casa pra se divertir!

MAZÉ            —  Mas… Deu sorte que eu não tenho o que responder pra você!

Mazé vai para o quarto.

ANA              —  (P/si, aliviada) Acho que dessa vez a Ju conseguiu enrolar a dona Mazé.

Mazé volta e arremata.

MAZÉ            —  Espera aí… Se ela foi na praia mesmo… Por que você não foi com ela?

ANA              —  Eu? (Mente) Eu não fui porque estou com uma tremenda dor de cabeça.

MAZÉ            —  (Desconfiada) Ah sei….

Ela volta para o quarto. Ana olha pra se certificar de que ela não está olhando.

ANA              —  (P/si) Quando eu achei que ela tinha acreditado, ela me volta ainda mais desconfiada… É Ju, não sei se eu vou conseguir enrolar a tia Mazé por mais tempo não.

CORTA PARA:

CENA 07. LEBLON. HOTEL DE LUXO. FACHADA. EXT. DIA.

Entrada do hotel movimentada de hóspedes e funcionários. Sol sai do Hotel vestida com uma saída de praia, uma bolsa, óculos escuros e chapéu. E fica ali encostada na parede.

SOL               —  (P/si) Acho que já estou exagerando um pouco na nostalgia… Não tem porque ficar remoendo o que já foi. As coisas aconteceram do jeito que acometeram e não tem mais como mudar nada! O tempo é a única coisa que não volta! Eu preciso é viver e sacudir a poeira. E na praia, é o melhor lugar pra se fazer isso. Conhecer, ver gente nova. Praia, aí vou eu!

Ela vai caminhando em direção à praia.

CORTA PARA:

CENA 08. APART DE VICENTE E CRIS. SALA. INT. DIA.

Cris ali lendo um livro. Adriana chega pê da vida.

CRISTINA     —  Ah… Se não é a margarida que resolveu aparecer.

ADRIANA     —  Me deixa, mãe! Me deixa que estava tudo bem, mas do nada o meu dia se tornou uma desgraça!

CRISTINA     —  (Se preocupa) Que isso, minha filha? (Sermão, firme) Mas isso é pra você aprender a não procurar mais aquele homem! Do mesmo jeito aconteceu comigo! No início tudo são flores, mas depois as coisas se tornam uma desgraça.

ADRIANA     —  Não é do meu pai que eu tô falando!

CRISTINA     —  Ah não? De quem você está falando então?

ADRIANA     —  Do Miguel.

CRISTINA     —  Do Miguel? Mas Miguel, Miguel seu noivo?

ADRIANA     —  Ex! Do jeito que as coisas estão… O nosso noivado vai morrer. É aquela peste da Karina! Eu tenho certeza que é ela que tá colocando as coisas na cabeça do Miguel!

CRISTINA     —  Mas o Miguel me parece ser um rapaz tão certinho. Acho que ninguém faz a cabeça dele não.

ADRIANA     —  Mas não é o que tá acontecendo com o nosso relacionamento! Desde que essa menina chegou as nossas vidas que nós só estamos brigando.

CRISTINA     —  Filha, eu sei que você não vai querer ouvir isso, mas… Tudo isso pode ser coisa da sua cabeça!

ADRIANA     —  Claro que não é coisa da minha cabeça, mãe! Hoje mesmo eu passei e vi os dois sorrindo e conversando numa pracinha…

CRISTINA     —  Shiii…. Então a coisa é mais séria do que eu pensava! Nesse caso, só resta fazer uma coisa…. Tirar essa garota do seu caminho!

Fecha em Adriana ali maquiavélica sorrindo. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 09. APART DE FLÁVIA. QUARTO DE MURILO. INT. DIA.

Murilo e Jandira ali sentados. Ele brincando de carrinho e ela olhando.

JANDIRA      —  Quando é que vai ser o jogo, Murilo?

MURILO       —  Quarta-feira.

JANDIRA      —  Será que o traste do seu pai vai?

MURILO       —  Não sei se aquele homem que não é mais o meu pai vai! Mas com certeza ele não vai não! Ele nunca vai!

JANDIRA      —  Em falar nele… Ele tá aí. Com certeza vai querer te ver.

MURILO       —  Então ele vai ficar querendo! Eu não quero ideia com aquele homem!

JANDIRA      —  Eu não vou falar o contrário porque todos nesta casa sabem que você tem os seus motivos.

Fecha em Murilo ali brincando de carrinho.

CORTA PARA:

CENA 10. APART DE FLÁVIA. SALA. INT. DIA.

Vicente ali sentado. Flávia vem da cozinha com uma xícara e entrega a ele.

VICENTE      —  Obrigado, querida.

FLÁVIA        —  Então agora eu entendo porque você precisou desse tempo. Não deve ter sido nada fácil pra você.

VICENTE      —  Não foi mesmo. Quando ela me falou aqueles absurdos eu me senti como se estivessem me apunhalando pelas costas.

FLÁVIA        —  Olha, meu amor… Eu não sou hipócrita! Então eu não vou julgar ela. Porque querendo ou não, isso que a gente faz aqui é o mesmo! O nosso relacionamento querendo ou não está apunhalando ela pelas costas. Claro que não do mesmo jeito, mas está!

VICENTE      —  Eu sei, Flávia. Mas em nenhum momento eu coloquei o que eu construir junto daquela mulher em jogo como ela fez! Poxa, é horrível quando alguém faz isso.

FLÁVIA        —  Eu sei que não está sendo fácil, mas essa é uma realidade que você terá de enfrentar se quiser que a construtora de vocês vá pra frente!

CORTA PARA:

CENA 11. LEBLON. AVENIDA. INT/ EXT. DIA.

Clima de suspense! Renata ali ao volante.

RENATA       —  (P/si) Não dá pra continuar do jeito que está! Eu sei que vai ser difícil pra todo mundo, mas… Eu não posso fazer nada a não ser isso!

Corta para fora do carro: o carro vai se afastando pela estrada. Instantes. Suspense.

CORTA PARA:

CENA 12. LEBLON. ORLA. EXT. DIA.

Sol ali parada olhando as pessoas na areia.

SOL               —  (P/si) Nossa! A praia está muito cheia. Eu não tenho coragem de ficar de biquíni perto desse monte de gente não! Poxa, mas eu vim até aqui. Mas não! Eu que não vou.

Ela se vira e esbarra em Juliana que está com duas latinhas de refrigerante.

JULIANA      —  Opa. Desculpe, senhora.

SOL               —  Não, não tem problema não. Eu é que sou meio distraída.

JULIANA      —  A senhora tem certeza que não tem nenhum problema?

SOL               —  Não. (Repara o corpo dela) Nossa! Você é um mulherão, hein!

JULIANA      —  Obrigada. A senhora também não fica pra trás não!

SOL               —  Ah, que isso menina! Você só tá falando isso pra me agradar. Uma mulher na minha idade não está com tudo isso não.

JULIANA      —  Você tem o jeito de quem tem uns quarenta. Então, queria eu chegar aos quarenta com um corpão desses.

As duas ficam ali conversando fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 13. APART DE RENATA. SALA. INT. DIA.

Alfredo ali sentado. Renata chega da rua.

ALFREDO     —  Ainda bem que você chegou, meu amor. Eu preciso te contar uma coisa.

RENATA       —  (Séria) Mas antes eu queria ter uma conversa com você!

ALFREDO     —  Então fala você primeiro. Do jeito que você está séria é porque a coisa é importante.

RENATA       —  Importantíssima! Você e eu já percebemos que o nosso casamento está passando por um tempo difícil.

ALFREDO     —  Eu sei. Por isso mesmo eu estou pensando em uma solução.

RENATA       —  Veja só que coincidência! Eu também pensei nisso!

ALFREDO     —  Jura? E no que você pensou?

RENATA       —  Eu pensei muito antes de tomar essa decisão, Alfredo… Mas aí eu enxerguei que era o melhor a ser feito… Por esse motivo, eu estou decidida a dar um tempo na nossa relação!

Fecha em Alfredo perplexo com o que ouviu. Instantes. Suspense. Tensão.

CORTA PARA:

INTERVALO COMERCIAL

CENA 14. APART DE MARTA. SALA. INT. DIA.

Miguel chega da rua e se joga no sofá. Ali, ele fica pensativo. Marta vem do quarto.

MARTA        —  Ah, já chegou, meu filho? Nem vi.

MIGUEL        —  Cheguei. E cheguei ainda mais indeciso.

MARTA        —  (Se senta) Como assim, meu filho?

MIGUEL        —  É que eu me encontrei com a Karina e bateu mais uma vez aquela mesma história que a senhora conhece.

MARTA        —  Sei. Sei bem como é essa história. Mas meu filho, você tem que pensar em todos esses anos em que esteve com a Adriana. Vocês namoram há quatro anos. Desde a adolescência.

MIGUEL        —  Por isso mesmo que eu tenho as minhas dúvidas, mãe. E se foi só uma paixão de adolescência e nós acabamos engatando nesse relacionamento, tornando-o mais formal, vamos dizer assim, e na verdade a pessoa que eu amo de verdade eu ainda não tinha conhecido?

MARTA        —  Olha, filho…. Isso que você falou pode até acontecer, mas a questão que fica é a seguinte: como que essa garota pode mexer com a sua cabeça tanto assim?

MIGUEL        —  Não sei explicar, mãe. Eu acho que é amor.

Fecha em Marta que tem as suas dúvidas. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 15. APART DE RENATA. SALA. INT. DIA.

Continuação imediata da cena 13.

ALFREDO     —  Mas como assim dar um tempo, Renata? Eu estava pensando num jeito de mudar isso! Poxa, hoje mesmo nós iríamos sair pra jantar.

RENATA       —  Olha, Alfredo…. Eu fico feliz em ouvir que você tinha planos pra fazer alguma coisa diferente, mas… Mesmo assim eu acho que nós precisamos de um tempo!

ALFREDO     —  Por que você decidiu isso de uma hora pra outra?

RENATA       —  Não foi de uma hora pra outra! Eu estou me sentindo como se estivesse vegetando no nosso relacionamento. E você, Alfredo, sabe muito bem que o nosso relacionamento não está andando da maneira correta! Você sempre chega em casa falando dessa sua colega de trabalho que só pensa em trabalho, mas não enxerga que você está trilhando o mesmo caminho! Poxa! Quantas vezes eu tentei conversar com você e você veio falando de trabalho?

ALFREDO     —  Tudo bem, Renata. Eu sei que posso estar falando demais daquela redação e esquecendo do nosso relacionamento, mas daí você querer dar um tempo sem ao menos tentar mudar nada!

RENATA       —  Eu não estou acreditando no que estou ouvindo! Você tá querendo dizer que a culpada da nossa relação ter chegado a esse ponto sou eu por não tentar mudar nada?  

ALFREDO     —  Não, meu amor! Não foi isso que eu disse!

RENATA       —  Mas você insinuou! E outra coisa, você vai sair dessa casa! Eu vou ficar com a Bruna!

ALFREDO     —  Tudo bem. Se é assim que você quer…

RENATA       —  Alfredo, não se trata do meu querer! Você tem que entender que isso é o melhor a se fazer agora! Poxa! Deus lá sabe se nós não darmos esse tempo… Pode ser que a nossa relação chegue num ponto de que não haverá mais salvação e o único caminho será o divórcio!

ALFREDO     —  Então você está querendo dar esse tempo na nossa relação para que possamos pensar melhor?

RENATA       —  Exatamente! É isso que estou tentando dizer desde a hora que iniciamos esta conversa.

ALFREDO     —  Então tá. Eu vou lá no quarto arrumar as minhas coisas.

Alfredo vai para o quarto. Renata se senta no sofá e ali vai as lágrimas. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 16. HOTEL DE LUXO. QUARTO. INT. DIA.

Glória sai do banheiro e arremata.

GLÓRIA        —  (P/si) Ué! Cadê a Sol, gente? Menina maluca. Na mesma hora que tá aqui, vai pra sei lá onde. (Vê a roupa da filha sobre a cama) Pelo jeito ela se arrumou pra sair. (Olha no guarda roupa) Não! Mas eu não tô vendo o biquíni dela aqui. Será que ela foi a praia?

CORTA PARA:

CENA 17. CASA DE CARLITO E MAZÉ. SALA. INT. DIA.

Ana vem da cozinha com um copo de suco. Carlito chega da rua com o saco preto.

CARLITO      —  E aí, Aninha? Como estão as coisas?

ANA              —  Não muito boas, Carlito.

CARLITO      —  Por quê?

ANA              —  É que a tia Mazé tá em tempo de explodir de tanto que fala sobre a ida da Juliana na praia do Leblon.

CARLITO      —  Ué! Mas o que é que tem a menina sair uma vez ou outra, gente?

ANA              —  Então você tem que tentar falar isso pra tia Mazé que tá lá no quarto em tempo de colocar fogo pelas ventas!

CARLITO      —  Eu? Ir falar com a nega nesse estado aí?

ANA              —  Uhum.

CARLITO      —  Tô fora! Sei muito bem que esse terreno aí é perigoso! Perigoso até demais!

Ele vai pra cozinha com o saco preto em mãos.

ANA              —  (P/si) Se o Carlito que é o Carlito que é casado com a tia Mazé faz anos e mais anos não encara ela lá daquele jeito… Eu é que não vou encarar a fera!

CORTA PARA:

CENA 18. PRÉDIO DE RICARDO E FLÁVIA. FACHADA. EXT. DIA.

Ricardo ali parado. Karina vem se aproximando.

KARINA       —  O que o senhor tá fazendo aqui do lado de fora do prédio, pai?

RICARDO     —  Tô aqui vigiando uma coisa.

KARINA       —  Que coisa?

RICARDO     —  Eu vi um homem que eu tenho certeza ser o Vicente entrando no prédio.

KARINA       —  E o que é que tem?

RICARDO     —  Como o que é que tem? Se for mesmo o Vicente eu quero saber porque ele não foi lá em casa.

KARINA       —  Ah pai…. Larga disso. Vai que ele tem algum conhecido aqui e a gente não sabe?

RICARDO     —  Com certeza ele não tem conhecido nenhum que more aqui!

KARINA       —  Como o senhor pode ter tanta certeza assim?

RICARDO     —  Ah sei lá! Eu só acho!

KARINA       —  E o senhor acha que pra uma pessoa que “só acha” não é demais ficar aqui fora não?

RICARDO     —  Não. Mas e como foi lá na casa da tal mulher?

KARINA       —  Eu nunca tinha visto um tríplex, então quando eu entrei logo fiquei surpresa com o tamanho do local.

RICARDO     —  Mas você vai fazer o trabalho?

KARINA       —  Vou tentar fazer um projeto se eu conseguir… Agora deixa eu ir lá, pai.

RICARDO     —  Vai lá filha.

Karina entra no prédio e Ricardo arremata.

RICARDO     —  (P/si) Eu tenho certeza que o cara era o Vicente! Eu não tô louco!

CORTA PARA:

CENA 19. CASA DE CARLITO E MAZÉ. COZINHA. INT. DIA.

Carlito ali com o saco preto na mão.

CARLITO      —  (P/si) E agora? Aonde eu escondo isso? A nega já chegou, não tem como esconder lá no quarto.

Ele vai para o armário da cozinha e o abre.

CARLITO      —  (P/si) Não, Carlito! Larga de ser idiota! Tem que ser num local onde ninguém mexa.

Ele olha geladeira e vai até ela e olha atrás da mesma. CAM mostra que há um vão entre a parede e a geladeira.

CARLITO      —  (P/si) Ótimo! Melhor lugar. Pelo menos até eu poder esconder num local mais seguro.

Ele vai para a sala. CAM mostra o vão entre a parede e a geladeira. Instantes. Tensão.

CORTA PARA:

CENA 20. LEBLON. ORLA. EXT. DIA.

Continuação não imediata da cena 12. Conversa a meio. Sol e Juliana ali.

SOL               —  Verdade, menina. Eu também, acho isso. As pessoas têm que largar essas coisas de ficar julgando as outras só pelo que ela é ou aparenta ser.

JULIANA      —  Nossa! Você é uma das poucas pessoas que, pelo que me parece é bem de vida, e que tenha esse tipo de pensamento.

SOL               —  Olha, Juliana, não é isso?

JULIANA      —  É.

SOL               —  Eu apanhei tanto da vida que chega num certo momento em que você cansa e consegue enxergar, entender as coisas. As pessoas que se dizem da “alta classe carioca” têm que enxergar que o universo não gira somente ao redor deles não!

JULIANA      —  Verdade, menina. Nossa. Eu adorei conversar com você.

Gael se aproxima.

GAEL            —  Que demora foi essa, Juliana? O refrigerante já deve ter esquentado. (P/Sol) Oi.

SOL               —  Oi. Eu estava querendo te fazer uma pergunta.

GAEL            —  Pra mim?

SOL               —  É, você mesmo. Eu esbarrei com você aqui na orla assim que cheguei ao Rio e depois te encontrei lá no Cristo e você disse que não me conhecia.

JULIANA      —  Como assim não conhecia ela, Gael?

GAEL            —  (Cai em si) Eu acho que sei o que está acontecendo aqui. Você deve ter se esbarrado aqui na orla com o meu irmão gêmeo, Miguel.

SOL               —  É, apesar de vocês serem parecidos ele me parecia ser mais agradável!

GAEL            —  Então era o Miguel mesmo. Eu não faço o tipo do que agrada todo mundo não.

SOL               —  Gente, agora eu tô passada! Dois jovens lindos que se parecem. A sua mãe deve ser toda boba com vocês!

Os três ficam ali conversando fora de áudio. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 21. APART DE RENATA. SALA. INT. DIA.

Renata ali ainda com lágrimas escorrendo por seu rosto. Alfredo vem do quarto com uma mala.

ALFREDO     —  Então é isso, né? Aqui está a chave da casa.

RENATA       —  Não precisa devolver a chave, Alfredo. Apesar de estarmos dando um tempo na nossa relação, nós ainda temos uma filha. E eu quero que você saiba que sempre que quiser…. As portas dessa casa estão sempre abertas pra visitar a nossa filha.

ALFREDO     —  Tudo bem.

Ele abre os braços e ela se aconchega no abraço dele.

RENATA       —  (Emocionada) Eu quero que você saiba que isso não é o fim! Mas você entende que estamos tomando essa medida justamente pra evitar que o nosso relacionamento chegue ao fundo do poço!

ALFREDO     —  (Emocionado) Eu sei, meu amor. E se isso teve que acontecer eu acredito que tenha um porquê. Até algum dia.

RENATA       —  (Emocionada) Até.

Ele pega sua mala e quando sai, se vira e joga um beijo para Renata que retribui. Ele sai. Ela agora sim chora intensamente. Instantes.

RENATA       —  (P/si, chorando) Eu sei que ainda vamos viver como um casal de verdade. Mas essa medida foi necessária para salvar o nosso futuro juntos!

Ela continua a chorar intensamente. Instantes. Tristeza.

CORTA PARA:

FIM DO 22º CAPÍTULO

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