CENA 01: CLÍNICA DE DR. VITOR, INTERIOR, NOITE.
MARINA: – Como é que é, Dr. Vitor? Outra mulher gerou o nosso embrião há cinco anos?
VITOR: – É isso mesmo, Dona Marina. Eu fiz uma troca de embriões e quando percebi já era tarde, eu já tinha inseminado a moça com o embrião de vocês.
Marina e Vitor ficam perplexos com a notícia. Dr. Vitor observa os dois, sentindo-se culpado.
MARINA: – Mas isso é um absurdo! Que espécie de geneticista o senhor é? Como comete um erra gravíssimo desse e não comunica a gente? Esse embrião é nosso, ele nos pertence, é nosso filho!
IVAN: – Eu estou abismado até agora… Então, o irmão gêmeo do João já tem 5 anos?
VITOR: – Exatamente, Seu Ivan. Os senhores têm motivos para me odiar e me criticar, mas eu não fiz por maldade! Foi um erro! Os materiais genéticos de todos os clientes da clínica são catalogados pelo sobrenome e eu cometi essa troca porque o sobrenome de vocês é muito parecido com o sobrenome do outro casal: Amorim e Amaral.
MARINA: – Não me interessa saber como você cometeu a troca, o que eu quero saber é como fica a nossa situação? Essa criança é nosso filho, não desse casal! Eu exijo que o senhor nos entregue essa criança!
VITOR: – Eu? Mas eu não sei onde está à criança ou o casal, eu nunca mais os vi.
MARINA: – Procure! Ele é nosso filho e eu o quero conosco! Essa família que o criou não são nada dele, essa mulher foi apenas uma barriga de aluguel.
VITOR: – Não fale assim, ela sempre teve o sonho de ser mãe e deve ter criado o menino com muito amor.
IVAN: – Não interessa, ele nos pertence! O senhor tem que fazer alguma coisa! Chame esse casal e revele a troca de embriões, peça para eles nos entregarem a criança.
VITOR: – Não vai ser fácil, vocês precisam entender que…
MARINA: – Quem tem que entender alguma coisa aqui é o senhor! Sabia que esse erro confere um crime? Quer que nós denunciemos o caso ao Conselho de Ética?
VITOR: – Por favor, não façam isso, tudo o que eu quero evitar é um escândalo para a minha clínica!
IVAN: – Então o senhor tome as providências cabíveis: revele ao casal que o menino não é filho deles e nos entregue. Se o senhor não fizer isso, nós vamos denunciar o senhor! Nós exigimos o nosso filho!
Dr. Vitor fica cabisbaixo e remói sua culpa. Marina e Ivan saem da clínica, extremamente abalados.
CENA 02: CENTRO COMUNITÁRIO, INTERIOR, NOITE.
Os velórios de Cecília e Ernesto seguem. Luiza está sozinha ao lado do caixão da mãe, enquanto Miguel foi levar Davi em casa para dormir. Luiza chora ao ver a mãe falecida e acaricia a mão dela. Paula vê a cena e caminha até o caixão de Cecília, olhando com desprezo à inimiga e cuspindo no chão ao lado do caixão.
LUIZA: – Mas o que é isso, Paula? Respeite a minha dor!
PAULA: – Tua mãe não merece lágrimas, ela foi uma safada! Meu marido morreu por culpa dela!
LUIZA: – Saia daqui! Deixe-me velar minha mãe em paz! E não a acuse de nada, pois quem lhe devia respeito era o Ernesto, que era teu marido.
PAULA: – Que audácia… começa a gritar: – Depois que morre, todo mundo vira santo! Essa ladra de maridos teve o que merecia, mulherzinha baixa e vulgar!
Luiza fica indignada, mas cala-se para não se rebaixar ao nível de Paula. Todos do velório estão chocados. É quando Antonia chega ao velório, que se aproxima de Paula, séria.
ANTONIA: – Mais baixa e vulgar que você é impossível, Paula! E dobre a sua língua antes de falar da Cecília senão eu enfio a mão na tua cara!
Paula fica irritada e retorna ao caixão de Ernesto. Antonia aproxima-se de Luiza e a abraça. Em seguida, ela faz o sinal da cruz olhando o caixão de Cecília.
ANTONIA: – Meus pêsames, Luiza. Eu estou muito abalada pela morte da Cecília, nós éramos muito amigas.
LUIZA: – Obrigada! Minha mãe gostava muito da senhora. Eu queria tanto um velório em paz, mas com essa escandalosa da Paula é impossível.
ANTONIA: – Pode deixar, querida, se essa insuportável se meter a besta contigo eu te defendo. Eu e a Paula somos inimigas, há tempos quero acertar nossas contas.
Luiza não diz nada, apenas observa Cecília no caixão. Antonia ora em silêncio.
CENA 03: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, NOITE.
Marina e Ivan entram na mansão, descolados e limpando as lágrimas. Olga entra na sala com um sorriso largo no rosto, mas logo fica séria ao notar a infelicidade dos patrões.
OLGA: – Que caras são essas? A inseminação não deu certo?
MARINA: – Não teve inseminação, Olga.
OLGA: – Mas como não? O tal geneticista não tinha confirmado tudo?
Marina é tomada por uma angústia e começa a chorar, subindo correndo para seu quarto.
IVAN: – Ah Olga, você nem imagina o que aconteceu… O nosso embrião foi gerado por outra mulher e a criança já tem 5 anos.
OLGA: – Mas como isso foi acontecer, seu Ivan? O embrião não era de vocês?
IVAN: – Era, mas o geneticista trocou os embriões na hora da inseminação e não contou pra ninguém até hoje. O gêmeo do João tá vivo, Olga, já é uma criança de 5 anos, e nós aqui alimentando o sonho de gerá-lo. O Dr. Vitor destruiu o nosso sonho.
OLGA: – E agora, o que vocês vão fazer?
IVAN: – Recuperar o nosso filho! Essa criança é nossa, a família que o criou vai ter que entender.
Ivan sobe as escadas e vai para o quarto, deixando Olga chocada com a história.
CENA 04: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, QUARTO DE MARINA E IVAN, INTERIOR, NOITE.
Marina chora em sua cama, abraçada no travesseiro. Ivan entra devagar no quarto e senta na cama ao lado da esposa, controlando-se pra não chorar.
MARINA: – Isso não é justo, Ivan… Não é!
IVAN: – Eu sei, meu amor, nós faremos o possível e o impossível pra ter o nosso filho de volta.
MARINA: – Eu já estava sentindo a minha barriga crescer, mas esse maldito geneticista destruiu tudo! Já basta nós termos perdido o João naquele acidente terrível, nós não vamos perder o gêmeo dele por um erro médico.
Marina limpa as lágrimas e abraça Ivan, que chora no ombro da esposa.
CENA 05: HOTEL, INTERIOR, NOITE.
Em Araucária, Ricardo está hospedado com Heloisa e Pietra em um quarto de hotel luxuoso no centro da cidade. Após a menina adormecer profundamente, Heloisa e Ricardo deitam na cama e ficam aos beijos e abraços.
HELOISA: – Que saudade de um momento a sós contigo, meu amor…
RICARDO: – Nós precisamos relaxar… São tantos problemas e contratempos, acabamos por nos afastar. Não quero mais isso, eu gosto muito de você e nós merecemos um momento assim!
Heloisa sorri e Ricardo a beija intensamente, começando a desabotoar sua blusa de seda. Ela está envolvida, mas afasta a mão do marido.
HELOISA: – Não, a Pietra tá aqui no quarto!
RICARDO: – Ela já adormeceu faz tempo, meu amor… Não vamos perder a oportunidade de nos entregar um ao outro? Relaxa e aproveita o momento…
Heloisa sorri e concorda, tirando a blusa. Ricardo sorri e beija o pescoço da esposa, tirando lentamente seu sutiã com a boca. Heloisa desabotoa a blusa de Ricardo enquanto o beija intensamente. Entregues e envolvidos, o casal tem uma noite de amor com muito sentimento e prazer após tanto sofrimento e problemas.
CENA 06: CEMITÉRIO, EXTERIOR, MANHÃ.
Cecília e Ernesto são levados para o cemitério num cortejo fúnebre simples, com poucas pessoas presentes. Luiza e Miguel choram e caminham de mãos dadas ao lado do caixão de Cecília. Vanessa chora ao lado do caixão de Ernesto enquanto Paula observa com indiferença. Após o coveiro pôr o caixão de Cecília no túmulo, Luiza põe uma rosa branca ao lado do caixão.
LUIZA: – Descanse em paz, minha mãe querida!
Luiza abraça Miguel e o coveiro fecha o túmulo. Enquanto isso, algumas quadras dali o caixão de Ernesto é posto no túmulo sob os olhares de tristeza de Vanessa, que é amparada por Gean. Paula reza em silêncio. Vera está encostada num túmulo e reza, mas logo é atraída ao ver uma pessoa colocar sua bolsa próxima a ela. Vera disfarça e, ao ver que ninguém está olhando, ela pega a bolsa e vai atrás do túmulo de Ernesto. Ela pega a carteira e, quando vai roubar o dinheiro, acaba tropeçando numa pedra e cai dentro de uma cova aberta em sua frente.
VERA: – Socorro! Por favor, alguém me ajuda! Que inferno!
Paula, Vanessa, Gean e outras pessoas ouvem os gritos. Paula vai atrás do túmulo e vê Vera caída dentro da cova, toda suja de terra.
PAULA: – O que você foi fazer aí, mulher? Colher minhocas?
VERA: – Para de gracinhas, Paula e me tira daqui!
Paula estende a mão para Vera, que puxa com força para sair da cova, mas Paula acaba se desequilibrando e cai também. Vanessa e Gean se espantam com os gritos e vão atrás do túmulo, se apavorando com as duas dentro da cova.
VANESSA: – Não é possível que nem numa hora triste dessas vocês duas não se metam em confusão!
PAULA: – Ao invés de falar abobrinhas, me tira daqui!
GEAN: – Abobrinha eu não sei, mas que a senhora tá parecendo um tomate com essa roupa toda vermelha, isso tá!
PAULA: – Daqui a pouco quem vai estar vermelho é a tua cara com os tapas que eu vou dar! Me tira daqui Gean! Rápido!
Gean ri e estende a mão para Paula, tirando-a da cova. Ele fez o mesmo com Vera, que sai ofegante. Discretamente, ela põe a bolsa no lugar antes que a dona dê por falta, controlando-se para não roubar e cair em outra cova.
CENA 07: CASA DA FAMÍLIA AMARAL, INTERIOR, MANHÃ.
Miguel serve um copo de água com açúcar para Luiza, que está sentada no sofá com Davi no colo, visivelmente abatida. Ele bebe a água e se controla para não chorar.
LUIZA: – Eu queria sumir nesse momento, estou muito angustiada.
MIGUEL: – Eu imagino… Também estou triste, pois gostava muito da minha sogra. Tivemos conflitos no passado, mas superamos.
DAVI: – Eu vou sentir muitas saudades da vovó, eu adorava os bolinhos de chuva que ela fazia. Você sabe fazer bolinho igual à vovó, mamãe?
Luiza sorri timidamente e dá um beijo no rosto de Davi, levantando-se do sofá e indo para o quarto dormir um pouco. Miguel senta-se a mesa e faz um lanche após passar muitas horas sem comer nada pelo velório. Davi assiste desenho animando na TV, na sua inocência pelo luto.
CENA 08: CASA DE PAULA, INTERIOR, MANHÃ.
Paula, Vanessa, Gean e Vera estão na sala. Vanessa chora e Gean está sentado ao seu lado, enquanto Paula e Vera bebem um café.
VERA: – E agora, como você vai seguir a vida sem o Ernesto?
PAULA: – Como sempre segui, aquele traste nunca ajudou dentro de casa.
VANESSA: – Mãe, a senhora não tem sentimentos, não?
PAULA: – Tenho, minha filha, tenho por mim e por ti! O teu pai não valia nada, nunca teve carteira assinada, vivia de bicos e bebendo no bar! E agora nós conhecemos a outra face do Ernesto, o garanhão do motel! Teve estômago pra ficar com uma velha, minha inimiga! E para de chorar pelo teu pai, ele não vale essas lágrimas, Vanessa!
VANESSA: – Olha mãe, eu não vou discutir contigo! Se o papai era tudo isso, paciência! Era meu pai mesmo assim, eu o amava e estou muito triste!
GEAN: – Oh Paula, a Vanessa tem razão…
PAULA: – E você tá fazendo o que aqui em casa, seu traste? Rapa fora! Não vou dar café pra ti, não, vai pedir pra Antonia fazer!
Gean fica calado, dá um beijo no rosto de Vanessa e vai embora. Magoada, a jovem levanta do sofá e vai para o quarto.
VERA: – Você não tá pegando pesado demais, amiga?
PAULA: – Quem pegou pesado foi o Ernesto. Depois de anos de casamento, ele ainda teve a coragem de me trair. Nunca a gente estampou capa de jornal, mas claro que a mídia ia dar atenção ao infarto do motel. O Ernesto morreu e deixou como herança pra Vanessa essa vergonha, mas ela ainda chora!
VERA: – Como ela disse, pai é pai né…
PAULA: – Vai defendê-lo? Vá embora também, Vera!
Paula arranca o copo de café da mão de Vera, que fica brava e vai embora. Paula senta no sofá e, sozinha, desaba em lágrimas pela morte de Ernesto. Apesar de terem um casamento de gato e rato, eles se gostavam e se entendiam daquela forma.
CENA 09: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, EXTERIOR, TARDE.
Marina está sentada num banco do jardim da mansão e folha um álbum de fotos da família. Emocionada, ela vê as fotos de João criança e alisa como forma de acariciar o rosto do filho falecido. Logo, Olga aproxima-se com um copo de suco e entrega a patroa, que recusa.
OLGA: – Dona Marina, a senhora precisa pôr alguma coisa no estômago, desde ontem à noite a senhora não comeu nem bebeu nada!
MARINA: – Estou me alimentando de lembranças, Olga. Olha essas fotos, são lindas! O João tinha 5 anos nessa época, mesma idade que o irmão gêmeo dele tem hoje. Como será essa família que o criou, Olga? Qual será o nome dele?
OLGA: – O tal geneticista não deu nenhuma informação sobre a família e o paradeiro do menino?
MARINA: – Ele não sabe, nunca mais os viu e também tem que guardar sigilo médico. Eu estou tão abalada com isso, tenho medo de nunca ver o meu filho!
OLGA: – Mas se o filho é teu, é lógico que a senhora vai encontrá-lo! Nem que pra isso vocês tenham que contratar um bom advogado pra pressionar esse médico corrupto a dizer que família é essa.
MARINA: – O que mais me entristece é saber que eu nunca vou sentir meu filho crescendo dentro de mim porque ele foi gerado por outra mulher. Eu queria tanto ficar grávida, Olga, queria tanto sentir o gêmeo do João bebezinho em meus braços… O Dr. Vitor impediu o meu sonho por um erro, isso não vai ficar assim!
Marina fecha o álbum de fotos com força e assusta Olga. Uma lágrima escorre dos olhos de Marina, que a seca.
CENA 10: CLÍNICA DE DR. VITOR, INTERIOR, TARDE.
Dr. Vitor pegou no arquivo a ficha com os dados sobre Luiza e Miguel. Ele lê a ficha e sente uma angústia ao imaginar que terá que revelar aos dois que não são pais do embrião que geraram. O geneticista pega o telefone e liga para a casa do casal, nervoso.
CENA 11: CASA DA FAMÍLIA AMARAL, INTERIOR, TARDE.
Luiza está sozinha em casa, tomando um chá de marcela para se acalmar após a morte da mãe. O telefone toca, mas Luiza segue imóvel. Após vários toques, ela caminha até o aparelho e atende, desanimada.
LUIZA: – Alô.
VITOR: – Oi, é a Luiza Amaral?
LUIZA: – Sim… Quem tá falando?
VITOR: – Aqui é o Dr. Vitor, lembra-se de mim?
Luiza se surpreende com a ligação do geneticista e senta no sofá.
LUIZA: – Dr. Vitor? Nossa, quanto tempo! Claro que eu lembro, o senhor fez a minha inseminação. Mas qual o motivo da ligação após tantos anos?
Dr. Vitor fica mudo do outro lado da linha telefônica, sem saber o que falar. Luiza estranha o silêncio e insiste.
LUIZA: – Alô? Dr. Vitor? O senhor tá me ouvindo?
Dr. Vitor segue nervoso, tentando encontrar as palavras certas.