CENA 01: PENSÃO TITITI, INTERIOR, MADRUGADA.
Gean caminha pelo corredor da pensão para ir ao banheiro, mas acaba ouvindo barulhos estranhos vindos do quarto de Antonia. Ele aproxima-se da porta e ouve gemidos. Estranhando, Gean olha pelo buraco da fechadura e vê Antonia assistindo um filme erótico na televisão.
ANTONIA: – Ai, que calor! Saudades da minha juventude! Saudades de uma paixão!
Gean ri ao ouvir Antonia falar aquilo assistindo o filme e sai de perto da porta para não ser descoberto.
GEAN: – Já sei como pagar meu aluguel pra Antonia… Ela é uma coroa enxuta! E ao que parece, tá necessitada.
Gean ri e vai ao banheiro, pensando em como vai fazer a proposta a Antonia.
CENA 02: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, INTERIOR, MANHÃ.
Heloisa e Ricardo tomam o café da manhã servido por Inês. Logo, Miguel entra no cômodo, sem seu uniforme.
MIGUEL: – Bom dia. Desculpe chegar assim, mas o assunto é sério.
RICARDO: – A Heloisa me contou sobre seu filho, eu sinto muito.
HELOISA: – Ele melhorou?
MIGUEL: – Não, ele precisa de doação de sangue. Eu e minha esposa já doamos, mas ele precisa de mais dois doadores. Vocês poderiam doar? Por favor, é a vida do meu filho que está em jogo!
RICARDO: – Mas é claro que doamos, não precisa perguntar duas vezes!
Miguel fica aliviado com o apoio de Ricardo e Heloisa, que terminam de tomar o café e vão ao hospital com Miguel para fazer a transfusão sanguínea.
CENA 03: CASA DE PAULA, INTERIOR, MANHÃ.
Paula e Vanessa estão na mesa, tomando café da manhã. A mesa não é farta, nunca foi, mas agora está menos que antigamente.
PAULA: – Minha filha, o que você pretende da vida?
VANESSA: – Eu? Sei lá. Quero viver.
PAULA: – E viver como? De vento? Você não estuda, não trabalha, só fica pra baixo e pra cima dessa rua, batendo papo com o zé ruela do Gean…
VANESSA: – Ah, lá vem à senhora de novo falar do Gean, poxa!
PAULA: – Tá bom, desculpa, eu quero é falar de você! Vanessa, eu não tenho nada contra você aproveitar a sua juventude, se eu nascesse de novo eu faria o mesmo, só que não é do jeito como você faz. Porque ao invés de ficar por vilas e boates, você não frequenta restaurantes grã-finos?
VANESSA: – Mãe, eu não tenho roupa, classe e muito menos conheço pessoas ricas pra ir a restaurantes grã-finos!
PAULA: – Mas se você não for à luta, você não vai conhecer ninguém nunca! Sai dessa mesmice, procura gente de alto nível. Eu não quero te ver passando dificuldades, minha filha, você precisa é de um marido rico. Afinal, não foi você que sempre disse que quer viver de luxo?
VANESSA: – E quero mesmo, adoro luxo! Mas morro de preguiça só de pensar em pegar um livro pra estudar.
PAULA: – Então, meu bem, corra atrás antes que o tempo passe e você vire uma manicure falida igual a tua mãe, que ainda foi traída pelo marido com a inimiga.
Paula levanta da mesa e Vanessa fica pensativa nas palavras da mãe.
CENA 04: HOSPITAL, SALA DE TRANSFUSÃO, INTERIOR, MANHÃ.
Após fazerem um teste rápido que comprova a saúde para doar sangue, Heloisa e Ricardo sentam em cadeiras separadas e recebem os cuidados dos enfermeiros para doarem sangue a Davi. Vagarosamente, a bomba suga o sangue das veias do casal para salvar a vida do pequeno.
CENA 05: CLÍNICA DE DR. VITOR, INTERIOR, MANHÃ.
Dr. Vitor está checando alguns prontuários de seus clientes quando é surpreendido pela chegada de Miguel em sua sala. O geneticista não se lembra dele, mas sente que o conhece de algum lugar. Os dois se cumprimentam.
MIGUEL: – Bom dia, doutor. Certamente o senhor não se lembra de mim, mas eu fiz um tratamento de fertilização há cinco anos com a minha esposa. Eu sou o Miguel Amaral e sou o marido de Luiza Amaral. Recorda-se?
Dr. Vitor fica chocado ao ouvir os nomes e logo percebe que Miguel e Luiza fazem parte do caso de troca de embriões de Marina e Ivan. Ele tenta se acalmar, mas soa frio e fica pálido.
MIGUEL: – Algum problema, Dr. Vitor?
VITOR: – Não, apenas estava tentando me lembrar de você e sua esposa. São tantos clientes que atendo na minha clínica, é impossível lembrar-se de todos, me desculpe.
MIGUEL: – Mas eu acho que o senhor se lembra da minha esposa, pois ligou pra ela há alguns dias atrás, mas acabou não dizendo o motivo e nem retornou à ligação. Vim aqui para saber o que o senhor quer conosco após tanto tempo?
Dr. Vitor sente-se pressionado, encurralado e angustiado, tenta encontrar as palavras certas para contar a verdade a Miguel, mas tem medo.
VITOR: – Eu liguei mesmo, mas houve um problema com a linha de transmissão. Depois, acabei percebendo que não deveria ter ligado pra sua esposa, eu queria falar com outra Luiza.
MIGUEL: – Mesmo? Então, foi engano?
VITOR: – Pois é, são tantos clientes que a gente se confunde. Desculpe, eu não queria incomodar o senhor para vir até aqui, deve morar longe.
MIGUEL: – Moro longe mesmo, mas no momento estou perto porque meu filho está internado no hospital próximo a sua clínica.
VITOR: – Nossa, eu sinto muito. O que houve com ele?
MIGUEL: – Foi atropelado na saída da escola, infelizmente. Bom, eu preciso ir agora. Desculpe interromper seu trabalho, tenha um bom dia.
VITOR: – Igualmente e desejo melhoras para seu filho.
Dr. Vitor e Miguel se cumprimentam, indo embora logo em seguida. O geneticista senta na poltrona, extremamente aflito com a saia-justa.
CENA 06: PENSÃO TITITI, QUARTO DE ANTONIA, INTERIOR, MANHÃ.
Antonia está de roupão branco no quarto, se arrumando em frente ao espelho. É quando Gean entra no quarto sem bater e a surpreende.
ANTONIA: – Que isso? Que petulância é essa?
GEAN: – Você entra no quarto de todo mundo sem bater, eu não posso fazer o mesmo contigo?
ANTONIA: – Ninguém nunca entrou nesse quarto, é terminantemente proibido! E o que você tá fazendo aqui que ainda não foi embora? Rua!
GEAN: – Eu sei um jeito de pagar o aluguel, Dona Antonia.
ANTONIA: – Ah é? Vai roubar agora?
GEAN: – A senhora é muito atraente, sabia? Eu nunca tinha me interessando por mulheres mais velhas, mas não sei o que aconteceu comigo, estou sentindo uma atração por você…
ANTONIA: – Como é que é, Gean? Bebeu?
Gean sorri e se aproxima vagarosamente de Antonia, que estranha o jeito do rapaz. Logo, ele agarra a dona da pensão e a beija intensamente. Antonia empurra Gean, mas não consegue se separar do beijo, até que cansa de relutar e corresponde ao jovem. Eles caem na cama e fazem amor fogosamente.
CENA 07: HOSPITAL, UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA UTI, INTERIOR, TARDE.
Luiza está observando Davi, que segue sem reagir. Miguel entra no quarto hospitalar e dá um beijo na esposa e acaricia o rosto do filho.
LUIZA: – E então, falou com o doutor?
MIGUEL: – Falei. Ele disse que houve um problema na linha telefônica, por isso desligou sem se despedir. E ele percebeu depois que havia ligado pra Luiza errada, na verdade era pra outra mulher com o mesmo nome que você que eu ele iria ligar.
LUIZA: – Nossa, que confusão… Mas ele parecia tão seguro quando falou comigo, que estranho.
MIGUEL: – Esqueça isso, é bobagem. E como tá o nosso filho?
LUIZA: – O Davi tá bem, ele recebeu a transfusão da Dona Heloisa e do Seu Ricardo. Graças a Deus não houve rejeição ao sangue deles! Segundo a Dr. Clara, só nos resta aguardar o estado de saúde dele, se Deus quiser ele irá melhorar!
MIGUEL: – Ele há de querer, meu amor! O Seu Ricardo e a Dona Heloisa além de serem ótimos patrões, eles foram muito bondosos em doar o sangue ao Davi para salvar a vida dele.
LUIZA: – Eu serei eternamente grata a eles. Assim que o nosso filho melhorar, nós vamos dar um presente aos seus patrões. Pode ser simplesinho, mas vamos dar! Me conte, como está o Dr. Vitor e a clínica dele? Mudou muita coisa?
MIGUEL: – Não, continua tudo igual. Bom, o doutor envelheceu um pouco, mas faz parte da idade né. A clínica aumentou um pouco, mas nada de tão diferente.
LUIZA: – Nós devemos muito ao Dr. Vitor, ele foi um excelente médico. Foi graças a ele que nós realizamos o sonho de ter um filho, se não fosse por ele, o Davi não estaria aqui. Eu recomendei a clínica dele para todas as minhas amigas e parentes, pois o trabalho desenvolvido lá é de competência total.
MIGUEL: – Concordo! O Dr. Vitor é um grande profissional, o mundo precisa de mais médicos como ele.
Luiza concorda e abraça Miguel, confortando-se no marido após o susto do atropelamento de Davi.
CENA 08: PENSÃO TITITI, QUARTO DE ANTONIA, INTERIOR, TARDE.
Antonia e Gean estão deitados na cama, completamente nus e suados, cobertos por um fino lençol de seda.
ANTONIA: – Ai, que loucura! Eu não esperava por isso. Tô vendo estrelas!
GEAN: – Sabia que você ia gostar! Dá de dez a zero em muitas jovens por aí…
ANTONIA: – Você acha? Sou tão boa assim?
GEAN: – Boa é apelido! Foi a melhor transa da minha vida.
ANTONIA: – Nossa! A melhor mesmo?
GEAN: – A melhor das melhores! E você? Gostou muito, assim como eu?
ANTONIA: – Muitíssimo! Garoto, você não tem ideia de quanto tempo eu não sentia o que eu senti hoje. Você me devolveu a sensação de ser uma mulher completa.
Gean sorri e sobe em cima de Antonia, beijando-a ousadamente. Após, eles se encaram, sorridentes.
GEAN: – Mas e agora, o que eu faço? Tenho que ir embora, mas não sei pra onde eu vou…
ANTONIA: – Ir embora? Por quê?
GEAN: – Eu não tenho dinheiro pra pagar o aluguel, esqueceu?
ANTONIA: – Esqueça isso, Gean! Teu aluguel tá quitado, meu garanhão!
Gean ri e Antonia o empurra para o lado, deita em cima dele, beija-o e acaricia-o intensamente.
CENA 09: DIAS DEPOIS.
Gean permanece na pensão após seduzir Antonia, mas ambos não tiverem nenhum encontro íntimo após isso. Davi teve uma melhora no quadro hospitalar, recebendo alta hoje. Marina e Ivan estão cada dia mais nervosos pelo silêncio de Dr. Vitor. Heloisa e Ricardo seguem seu casamento com altos e baixos, movidos pelo câncer de Pietra. Paula segue trabalhando pesado, enquanto Vanessa curte as festas, se encontrando às vezes com Gean.
CENA 10: CLÍNICA DE DR. VITOR, INTERIOR, TARDE.
Dr. Vitor está se despedindo de um casal que acabou de se consultar com ele, quando é surpreendido pela chegada de Marina em sua sala.
VITOR: – Bom dia, Marina. Hoje a senhora me pegou num dia difícil, estou com a agenda lotada, logo o próximo casal está chegando.
MARINA: – Pois eles que esperem! Eu não saio daqui enquanto o senhor não me disser onde está o meu filho.
VITOR: – Por favor, Dona Marina, não seja tão dura… Eu já prometi que vou solucionar isso tudo, tenha paciência.
MARINA: – Para uma mãe que já sofreu a morte trágica de um filho, ter que suportar a omissão do senhor diante desse crime cometido, isso corrói minha alma. Cansei de esperar! Eu exijo que o senhor me dê o endereço dessa família que criou o meu filho até hoje.
VITOR: – Eu não posso dar o endereço dos meus clientes, isso fere a ética!
MARINA: – Agora o senhor quer pensar em ética?
VITOR: – Dona Marina, eu ia revelar aos pais sobre a troca de embriões, mas eu descobri que o menino tinha sofrido um acidente e estava internado no hospital. Como eu iria revelar uma coisa séria dessas com a família cheia de problemas? Só ia piorar as coisas!
MARINA: – Como é que é? O meu filho sofreu um acidade? Como assim?
VITOR: – Parece que ele foi atropelado e estava internado na UTI do hospital da rua seguinte.
Marina fica transtornada com a notícia e sai correndo da clínica, deixando Dr. Vitor tenso.
CENA 11: HOSPITAL, INTERIOR, TARDE.
Marina entra desesperada na recepção do hospital público, chocando-se com a quantidade de pessoas à espera de atendimento nos corredores e no saguão.
MARINA: – Por favor, onde fica a UTI?
RECEPCIONISTA: – Nos fundos do hospital, mas a senhora precisa de crachá para entrar.
Marina ignora o aviso da atendente e corre pelo corredor, sendo seguida pelo único segurança presente no momento. Após muito correr pelos corredores lotados de moribundos, ela chega à ala da UTI e caminha observando as pessoas internadas, tentando encontrar uma criança que pareça com João. Logo, ela esbarra numa médica sem querer e, ao olhar para ela, fica assustada: era sua ex-nora, a Dra. Clara.
MARINA: – Clara?
CLARA: – Dona Marina?
As duas ficam se olhando, pasmas com o encontro inesperado. Logo o segurança chega e segura Marina pelos braços, que tenta se soltar e intriga Dra. Clara.
MARINA: – Me solta!
CLARA: – Mas o que tá acontecendo aqui?
SEGURANÇA: – Ela invadiu a UTI sem crachá, vou tirá-la a força.
MARINA: – Eu só vim ver meu filho! Me solta!
CLARA: – Seu filho? Como assim, Dona Marina?
MARINA: – O meu filho tá aqui, Clara! Me ajuda a encontrá-lo?
Dra. Clara fica confusa e o segurança arrasta Marina pelo corredor, até que ela intervém.
CLARA: – Solte-a, deixe sob minha responsabilidade. É minha ex-sogra, temos muito que conversar. Pode ir, segurança.
O segurança solta Marina e volta a recepção. As duas se olham, tensas.