CENA 01: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, EXTERIOR, MANHÃ.

Miguel fica pasmo e se comove com o choro de Pietra. Heloisa chega ao jardim após ouvir os gritos e corre até a filha ao vê-la chorando e sangrando.

HELOISA: – Meu Deus, o que acontece aqui?

MIGUEL: – Eu estava empurrando-a do balanço, mas ela caiu de cara no chão.

PIETRA: – Dói muito, mãe! Dói muito!

HELOISA: – Calma, filhinha! Seu Miguel, tire o carro da garagem, nós vamos levá-la ao hospital imediatamente!

Miguel obedece à patroa, enquanto ela pega Pietra ferida no colo, aos prantos.

CENA 02: CASA DE PAULA E ERNESTO, INTERIOR, MANHÃ.

Paula faz as unhas de Vera na sala, enquanto Ernesto lê o jornal e ouve a conversa.

PAULA: – Então aquelas duas agorentas da Cecília e Antonia estavam falando mal de mim naquela pensão lixosa?

VERA: – Estavam! Duas invejosas, sempre ficam destilando veneno por você. Não sei o que elas ganham com isso…

PAULA: – Querem ganhar fama em cima de mim, que sou queridíssima aqui na vila. Você não imagina a raiva que eu tenho delas!

VERA: – Eu não gosto da Cecília e evito aproximação, mas a Antonia eu tenho que engolir né, é dona da pensão aonde eu moro.

PAULA: – Coitada de você ter que morar numa pensão aonde é regulada a quantidade de comida no prato, que é extorquido o aluguel e que até o papel higiênico é limitado!

ERNESTO: – Credo, tudo isso é regulado?

VERA: – Sim! Fazer o quê, gente, a Antonia é avarenta mesmo…

PAULA: – Graças a Deus que nós temos essa casa própria, assim não vou precisar nunca me submeter às humilhações de morar naquela pensão horrorosa!

Ernesto começa a tossir, se engasgando após ouvir o quê Paula disse. Ela e Vera estranham a tosse contínua de Ernesto, que levanta do sofá com seu jornal e vai para a cozinha, nervoso. Paula termina as unhas de Vera e vai ao banheiro. Quando Vera vê R$ 20,00 em cima dentro da caixa de esmaltes de Paula, ela sente uma vontade imensa de roubar. Como percebe que não há ninguém, Vera pega a nota com cuidado pra não borrar seu esmalte e coloca dentro de sua bolsa. Pouco depois, Paula retorna do banheiro.

PAULA: – Querida, suas unhas estão prontas! Deu R$ 15,00.

VERA: – Tá bom, abre minha bolsa pra eu não borrar o esmalte e pega o dinheiro, tá solto aí dentro.

Paula pega a bolsa de Vera e retira os R$ 20,00, dando o troco pra Vera, que logo vai embora. Paula sequer suspeita que deu o troco de seu próprio dinheiro que foi roubado.

CENA 03: HOSPITAL, INTERIOR, MANHÃ.

Pietra está sendo atendida. Após fazer curativos no dedo e no nariz, ele conversa com Heloisa no corredor.

MÉDICO: – Bom, mãe. A Pietra já está sob cuidados das enfermeiras. Tem sorte que foi um tombo de leve ela apenas torceu o pulso. Mas o que me chamou a atenção é que acabei lendo o prontuário dela e soube que ela tem câncer há 2 anos.

HELOISA: – Sim, Doutor. Infelizmente descobrimos há pouco tempo que não há cura para o câncer dela. Só que ela não sabe.

MÉDICO: – Entendo.

O médico se despede e Heloisa entra no quarto de Pietra, que está dormindo e recebendo soro. A mãe aproxima-se e acaricia o rosto da filha, chorando.

CENA 04: DIAS DEPOIS.

Dr. Vitor observa o pré-embrião de Marina e Ivan, na esperança que ele se desenvolva e que possa substituir o embrião-gêmeo de João na inseminação artificial. Cecília e Ernesto passaram os dias com olhares suspeitos e se falaram às vezes. Miguel não foi responsabilizado pelo acidente. Luiza segue trabalhando como faxineira e Davi muito contente na escola, fazendo novas amizades. Vanessa e Gean não se encontraram, mas pensam um no outro com luxúria. Antonia segue rígida na pensão. Marina e Ivan fazem planos como o filho que está por vir.

CENA 05: CLÍNICA DE DR. VITOR, SALA DE EXPERIÊNCIAS, INTERIOR, TARDE.

Dr. Vitor está chegando à estufa para saber se o embrião de Marina e Ivan se desenvolveu. Porém, ao pegar o tubo de ensaio com o embrião, ele tem uma surpresa: não houve desenvolvimento algum. O geneticista soa frio e deixa o tubo cair no chão, estilhaçando em muito pedaços.

VITOR: – Era minha última chance de não contar a verdade… E agora, o que eu vou fazer? Não tenho mais materiais genéticos do casal pra fazer um novo embrião e substituir pelo trocado, mas eu também não quero contar o erro que cometi. Porque esse embrião não se desenvolveu, que maldição! Um acerto te eleva um degrau na vida, mas um erro é capaz de te derrubar dois ou três degraus na vida. É assim que eu me sinto.

Dr. Vitor se apoia na mesa de experiências e uma lágrima escorre de seu olho, angustiado pela situação.

CENA 06: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, TARDE.

MARINA: – Amanhã é o grande dia! Finalmente vou ter meu filho em meu ventre, já são 25 anos de atraso!

IVAN: – Muito tempo mesmo, parece que foi ontem que o João nasceu.

OLGA: – Eu mal posso esperar pra ver a barriga da Dona Marina crescer, vai ser lindo! Mais lindo ainda será quando o gêmeo do João correr por essa casa, eu vou a loucura!

IVAN: – Aliás, meu amor, nós nem pensamos no nome para dar a esse filho. Tem alguma ideia?

MARINA: – Não faço ideia, meu amor… Mas eu lembro que o João dizia que quando tivesse um filho, gostaria de pôr o nome de Davi. O que você acha?

OLGA: – Ai, seria uma homenagem tão linda!

IVAN: – Pode ser! Davi é um nome bonito mesmo.

Marina e Ivan seguem comendo o almoço, enquanto Olga retorna à cozinha, eufórica com a conversa.

CENA 07: CASA DA FAMÍLIA AMARAL, EXTERIOR, TARDE.

Luiza e Davi brincam de pega-pega no pátio da casa, sozinhos em casa, após Luiza chegaram muito cansada de uma faxina. Mesmo assim, ela dá atenção ao filho, que apesar de recém chegar da escola, está com muita disposição. Após, eles sentam embaixo de uma árvore, ofegantes.

DAVI: – Ai, mamãe, você é tão divertida! É a melhor mãe do mundo!

LUIZA: – Oh, meu querido, você que é o melhor filho do mundo!

Luiza dá um beijo nas bochechas coradas de Davi após tanto correr.

DAVI: – Mamãe, porque você e o papai não tiveram outro filho?

LUIZA: – Outro filho? Porque essa pergunta, Davi?

DAVI: – Porque eu vejo que quase todos os meus coleguinhas da escola têm um irmão, mas eu não tenho.

LUIZA: – E você gostaria de ter?

DAVI: – Sim! Muito!

Luiza sorri e acaricia Davi, lembrando-se da dificuldade que passou para conseguir tê-lo.

LUIZA: – Ter um filho é a maior dádiva da vida! Eu e seu pai somos muito felizes por ter tido você, Davi. Não tivemos outro filho porque não aconteceu, não estava no nosso destino. E quer saber? Você já basta sozinho por dois, três ou quatro filhos que eu e o Miguel poderíamos ter, eu te amo muito!

Davi sorri e abraça Luiza. Os dois ficam embaixo da árvore, conversando e se acariciando, muito felizes.

CENA 08: RUA, EXTERIOR, TARDE.

Cecília caminha pela rua, com seu novo visual. Ao se aproximar do bar onde Ernesto passa o dia, ela anda de um jeito mais sensual para provocá-lo. Ele a observa com atenção e vai atrás.

ERNESTO: – A senhora tá deixando a viuvez de lado?

CECÍLIA: – Eu? Por quê?

ERNESTO: – Tá usando vestidos provocantes ultimamente…

CECÍLIA: – E você me acha provocante, Ernesto?

ERNESTO: – Muito mais que essas meninas jovens de hoje em dia!

CECÍLIA: – É mesmo? O senhor também me provoca, sabia?

ERNESTO: – Eu já notei o que você quer… Eu também quero! Hoje à noite, às 22 horas, eu te espero na esquina dentro de um táxi branco.

CECÍLIA: – Pra onde você quer me levar?

Ernesto não diz nada, apenas sorri e dá um tapa no traseiro de Cecília, que leva um susto, mas gosta e sorri. Ernesto volta ao bar e Cecília segue até sua casa.

CENA 09: CASA DA FAMÍLIA AMARAL, INTERIOR, TARDE.

Cecília entra correndo em casa e abre a geladeira, pega a tigela de gelo e senta no sofá. Ela liga o ventilador no máximo e fica chupando cubos de gelo, pois sente um calor imenso. Ela passa alguns cubos pela nuca e pelo pescoço, para passar a sensação de calor. Logo, Luiza e Davi entram na sala e acham graça da cena.

LUIZA: – Mãe, o que é isso?

CECÍLIA: – Ai, minha filha, tá muito calor hoje!

LUIZA: – Não acho… Será que a senhora não está se sentindo bem?

CECÍLIA: Eu tô ótima, é só calor mesmo…

Luiza ri e leva Davi ao banheiro para dar banho nele. Cecília segue passando cubos pela nuca e pescoço, além de chupá-los.

CECÍLIA: – Ai, esse Ernesto me enlouquece! Quanto tempo eu não sinto esse calor da paixão, meu Deus! Ui!

Cecília ri e tenta se refrescar com o gelo e ventilador.

CENA 10: MANSÃO TRAJANO, INTERIOR, NOITE.

Heloisa e Ricardo tomam um chá de marcela que Inês acabou de servir.

RICARDO: – Eu estou tendo muita dor de cabeça ultimamente, isso não é bom…

HELOISA: – Eu também. Acho que deve ser pelos problemas com a Pietra.

INÊS: – Os senhores precisam se cuidar. A saúde da Pietra importa tanto quanto a saúde de vocês.

RICARDO: – Não podia haver problema maior que ver minha filha com câncer.

HELOISA: –Eu estou cada dia mais exausta de viver essa vida, meu amor… Se eu pudesse sumir, eu sumia agora!

RICARDO: – Às vezes eu me sinto culpado em pensar que seria melhor ver a nossa filha morta do que presenciar tanto sofrimento. Dói demais ver uma criança que podia ser cheia de esperança estar com tanta tristeza.

INÊS: – Não, os senhores não podem desistir! A Pietra foi uma provação divina pra mostrar que vocês são capazes!

HELOISA: – Porque Deus enviaria uma criança pra sofrer, Inês? Não tem sentindo…

INÊS: – Eu já disso, pra mostrar a vocês mesmo que são capazes de vencer os obstáculos da vida! Não desistam da Pietra, é justamente por ela que vocês devem fazer cada dia valer a pena pra ela.

Heloisa e Ricardo ficam pensativos e tomam o restante do chá, muito tensos.

CENA 11: PENSÃO TITITI, INTERIOR, NOITE.

Antonia está fazendo um bordado na sala quando ouve passos na escada. De repente, ela vê Gean e uma garota caminhando vagarosamente até a porta.

ANTONIA: – Mas que promiscuidade é essa!

Gean e garota se assustam. Ela sai correndo da pensão e ele fecha a porta, olhando para Antonia que está sentada no sofá, séria.

GEAN: – Que susto, Dona Antonia! Parece uma assombração aqui na sala sozinha!

ANTONIA: – Trazendo outra mulher pra pensão? Gean, eu já disse que isso aqui não é motel! Eu não admito promiscuidade aqui dentro!

GEAN: – Promiscuidade porque se é só uma garota? Eu sou jovem, não sou de ferro!

ANTONIA: – É a quarta garota que você traz essa semana ou você acha que eu não escuto os barulhos da cama lá do meu quarto? Eu espiei pela fechadura e vi tudinho!

GEAN: – Mas isso é invasão de privacidade, Dona Antonia!

ANTONIA: – Eu sou a dona da pensão, faço o que eu quiser! E eu estou pensando seriamente em cobrar um extra do seu aluguel já que tá querendo transformar a pensão num local de encontros íntimos.

GEAN: – Eu me recuso a pagar extra por isso! A senhora é uma louca!

Antonia fica pasma com a rebeldia e Gean sobe ao seu quarto, bravo.

CENA 12: CASA DE PAULA E ERNESTO, INTERIOR, NOITE.

Vanessa está navegando na internet do celular na sala quando Ernesto entra devagar no cômodo.

VANESSA: – Aonde o senhor vai a essa hora, pai?

ERNESTO: – Vou dar uma voltinha! Tua mãe tá dormindo, se ela acordar você diz que eu fui à farmácia e já volto.

VANESSA: – Mas pai, você vai onde pra mentir assim?

ERNESTO: – Coisa minha, filhinha, coisa minha!

Ernesto dá um beijo na testa de Vanessa e sai depressa.

CENA 13: CASA DA FAMÍLIA AMARAL, INTERIOR, NOITE.

Todas as luzes estão apagadas e cada um está em seu quarto. Cecília sai do quarto devagar e toda produzida, caminhando pela sala com passos largos e silenciosos, até chegar à porta e sair rapidamente, sem deixar recado algum.

CENA 14: RUA, EXTERIOR, NOITE.

Cecília caminha pela rua até avistar um táxi branco, aproximando-se dele e vendo Ernesto dentro. Ambos sorriem e ela entra no veículo, que parte para um local surpresa.

CENA 15: CASA DA FAMÍLIA AMARAL, QUARTO DE LUIZA E MIGUEL, INTERIOR, NOITE.

Luiza e Miguel estão deitados na cama, apenas com o abajur ligado. De mãos dadas, eles ficam acariciando suas mãos.

MIGUEL: – Notou que os calos diminuíram em minhas mãos?

LUIZA: – Sim! O trabalho de motorista na casa do milionário tem sido bem mais saudável do que como pedreiro.

MIGUEL: – Eu estou gostando, é uma família muito boa. Só que eu gostaria de sentir as suas mãos sem calos também, Luiza. Você está se desgastando muito como faxineira.

LUIZA: – É o meu trabalho e eu gosto de fazer faxina. Cansa, mas é um bom dinheiro.

MIGUEL: – O salário de pedreiro também era bom, mas eu larguei porque surgiu essa oportunidade de emprego como motorista. Você devia procurar outro emprego, meu amor.

LUIZA: – Por enquanto, eu nem penso nisso. Eu vou levando como posso!

Miguel compreende e beija Luiza. Logo após, Davi bate na porta e entra no quarto.

DAVI: – Eu posso dormir com vocês? Eu tô com pesadelo!

LUIZA: – Oh, meu anjo, claro que pode! Sobe na cama, vem!

Davi sobre a cama com seu ursinho e deita entre Luiza e Miguel, que abraçam do filho e dormem todos juntos, no conforto da família que formam pelo amor.

CENA 15: MOTEL, INTERIOR, NOITE.

Ernesto abre a porta do quarto de motel e Cecília entra lentamente, deslumbrada com o local. Ele fecha a porta e aproxima-se dela com um sorriso safado.

ERNESTO: – Gostou da surpresa?

CECÍLIA: – Você é um velho tarado, sabia?

ERNESTO: – E você é uma velha que se faz de santinha! Ficava pagando de viúva resigna e religiosa, mas ficava me provocando…

CECÍLIA: – Aqui dentro, eu não preciso enganar ninguém, estamos sozinhos… Eu sempre tive uma quedinha por você desde que chegou à vila. Não pense que é pela rixa que tenho

ERNESTO: – Estou adorando essa conversa, mas vamos ao que interessa? Eu estou louco de paixão por você, Cecília, estou pegando fogo!

CECÍLIA: – E eu então, que estou há 25 anos intacta? Praticamente virgem outra vez! Sacie meu desejo, Ernesto! Sacie!

Ernesto ri e agarra Cecília, beijando intensamente. Os dois caem na cama do motel e ficam entre beijos e abraços calorosos, tiram a roupa vagarosamente e transam de forma fogosa e prazerosa. Cecília está eufórica, há décadas não se sentia mulher assim. Ernesto está enlouquecido, pois sente como uma aventura em trair Paula. Porém, quando ambos atingem o orgasmo, sofrem um ataque cardíaco e caem duros na cama do motel.

 

 

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