CENA 01: PARQUE BARIGUI, EXTERIOR, TARDE.
MIGUEL: – Oh, meu menino, que saudades! Você cresceu hein, tá lindo!
DAVI: – E você deixou a barba crescer, ficou diferente! Nossa, eu senti tanta sua falta, porque a gente se afastou?
Miguel não sabe o que responder e Davi dá um beijo no rosto do pai, pulando no colo dele e o abraçando fortemente. Miguel recebe o carinho com muita emoção, pois não o via há nove meses. Marina e Ivan levantam e se aproximam dos dois, tensos.
MARINA: – Davi, tá na hora da gente ir pra casa.
DAVI: – Não vou! Eu quero ficar com o meu pai.
IVAN: – Teu pai sou eu. Vamos embora, filho.
DAVI: – Meu pai é o Miguel! Agora que eu o encontrei, não vou mais ficar longe.
MARINA: – Davi, não fale assim… Miguel, colabora conosco!
Miguel fica sem-jeito com a situação e acaricia o rosto de Davi.
MIGUEL: – Filho, você tem que ir com eles, tá bom?
DAVI: – Mas por quê? Eu quero ficar contigo! E a mamãe Luiza, cadê?
MIGUEL: – Tá fazendo faxina, ela também tá morrendo de saudades, mas você precisa voltar com eles.
DAVI: – Eu não vou!
Davi abraça Miguel com força, como forma de não ser levado por Marina e Ivan.
IVAN: – Isso não podia ter acontecido, nós estávamos em plena paz…
MIGUEL: – Foi obra do destino, contra ele ninguém tem poder.
MARINA: – Miguel, por favor, entregue o nosso filho? Pelo bem dele.
MIGUEL: – Entrego sim, mas fiquem sabendo que o meu advogado já enviou a Vara de Família uma ação para recorrer dessa sentença, agora nós temos como provar que o Davi é nosso filho.
MARINA: – Vocês ainda vão insistir nisso? É impossível questionar um teste de DNA, já passou da hora de vocês entenderem! Agora, devolva o Davi, por favor.
Miguel coloca Davi em pé em sua frente, dá um beijo em seu rosto e fica em pé, levando o menino até Ivan, que o pega no colo.
DAVI: – Não vai embora, pai…
MIGUEL: – Eu prometo que a gente vai se ver de novo!
Davi começa a chorar no colo de Ivan e deixa Miguel com o coração partido. Ele caminha até sua bicicleta e vai embora, enquanto Davi esperneia no colo de Ivan e chora sem parar. Ivan e Marina tentam acalmá-lo, mas é impossível, e vão embora do parque.
CENA 02: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, TARDE.
Ivan entra na mansão com Davi no colo, tendo uma crise de choro. Marina entra atrás, aflita. Olga vem da cozinha em direção à sala, apavorada com os gritos. Ivan põe Davi no chão, que não para de chorar.
OLGA: – Virgem Santíssima, o que aconteceu com o menino? Se machucou no parque?
IVAN: – Antes fosse! O Miguel apareceu e o Davi ficou enlouquecido, queria ir embora com ele.
DAVI: – Eu quero o Miguel! Ele é o meu pai! Eu quero ficar com o meu pai!
IVAN: – Davi, entenda: eu sou o teu pai! Eu! O Miguel te criou, mas você é meu filho!
DAVI: – Eu quero o meu pai, o verdadeiro, o Miguel! Me leva pro Miguel!
Davi continua a chorar sem parar e deixa Ivan atordoado, que corre para sua biblioteca e se tranca. Marina não sabe como agir e sobe para seu quarto, trancando-se. Olga fica pasma com a reação dos patrões e se compadece de Davi, pegando-o no colo e sentando no sofá da sala, enquanto o menino não para de chorar.
OLGA: – Oh, meu querido, não chora não! Olha, se você continuar chorando, a Marina e o Ivan vão ficar tristes, eu também vou ficar.
DAVI: – Eu quero o meu pai! Pede pro motorista da mansão me levar pra casa dele?
OLGA: – Mas Davizinho, o teu pai mora nessa casa, ele é o Ivan. Você já mora aqui há quase um ano, ainda não aprendeu que o Ivan é o teu pai?
DAVI: – Eu gosto do Ivan, mas não como pai, só como amigo. Eu tô com saudades do papai Miguel e da mamãe Luiza, eu quero ver eles agora!
Davi continua a chorar e Olga o abraça, comovida com o sofrimento da criança.
CENA 03: RUA, EXTERIOR, TARDE.
Paula e Vanessa caminham pela rua da vila. Paula está lendo os classificados do jornal, enquanto Vanessa alisa sua barriga de nove meses de gestação.
PAULA: – Filha, tem cada mansão linda nesses classificados! Um luxo! Eu sonho no dia em que a gente vai comprar uma dessas, já pensou?
VANESSA: – Primeiro vamos esperar o bebê nascer, aí a gente acerta a pensão com o Ricardo Trajano e depois sim a gente compra um imóvel luxuoso.
PAULA: – Ai Vanessa, eu não tenho paciência pra esperar tudo isso!
VANESSA: – Pra quem esperou nove meses, esperar uns dias mais não faz mal. O médico já disse que o parto vai ser essa semana, já tá no limite.
PAULA: – Ótimo! Quero só ver a pensão gorda que esse milionário do petróleo vai te dar… O que acha de a gente morar no litoral? Uma mansão de frente pro mar seria um sonho!
VANESSA: – Ai mãe, você gosta de sonhar hein! Uma mansão em Curitiba tá ótimo, eu adoro essa cidade.
PAULA: – Eu sonho alto, querida, já me basta ter passado a vida inteira como manicure e tendo que sustentar um marido vagabundo, agora eu quero aproveitar!
Vanessa ri e segue caminhando com a mãe pelas ruas da vila.
CENA 04: PENSÃO TITITI, INTERIOR, TARDE.
Paula e Vanessa entram na pensão, em que Antonia está fazendo tricô na sala.
ANTONIA: – Chegaram às preguiçosas…
PAULA: – Deixa de ser invejosa, Antonia, finja que eu não estou aqui!
ANTONIA: – Inveja de quê? De uma mãe que nem sabe o genro que emprenhou a filha?
VANESSA: – Eu não sou animal pra ficar prenha, Dona Antonia! Mais respeito!
ANTONIA: – Você pedindo respeito? Me admira muito, nem sabe o pai do próprio filho.
PAULA: – Cala boca, sua cobra! A Vanessa sabe muito bem quem é o pai do filho que ela tá esperando, viu? É um milionário lindíssimo, só que cafajeste! Quando a Vanessa revelou a gravidez, ele não quis mais saber dela.
ANTONIA: – Eu já ouvi essa história outras vezes, mas não me convenci. Nunca vi a Vanessa com nenhum milionário, só com pé-rapados como o Gean. Aliás, você engravidou logo após ele ir embora, né queridinha?
VANESSA: – O filho não é do Gean, é do milionário que eu fui amante. Você não conhece porque ele trabalha em outra cidade e eu ia se encontrar com ele lá.
ANTONIA: – Que menina respeitável… Puxou ao falecido Ernesto.
PAULA: – Olha Antonia, você tá me provocando hein… Há muito tempo que eu quero acertar minhas contas contigo, é melhor você se calar ou eu vou explodir!
Antonia coloca os tricôs em cima do sofá, levanta e se aproxima de Paula com as mãos na cintura e a encarando seriamente.
ANTONIA: – Vem, Paula! Quero ver se você tem coragem! Eu também estou contigo entalada na garganta, pode vir!
Paula se irrita e encara fixamente Antonia. Espontaneamente, ela dá um tapa na cara de Antonia, que se apoia na parede. Vanessa fica pasma, pois sabe que isso pode culminar na expulsão da pensão. Antonia vira-se para Paula e dá um tapa no rosto dela, que também se apoia na parede. Ambas se encaram, com o rosto vermelho.
PAULA: – Cadela! Eu sempre te odiei, você não vale nada!
ANTONIA: – Eu também te detesto, vamos ver quem leva a melhor, sua cascavel?
Paula e Antonia se encaram e se aproximam, começando a puxar o cabelo uma da outra. Vanessa corre para proteger sua barriga e vê a briga, chocada. Aos gritos, Paula e Antonia arrancam maços de cabelos uma da outra, até que elas saem da pensão.
CENA 05: RUA, EXTERIOR, TARDE.
Na rua, Paula e Antonia se arrastam pelos cabelos até o centro da praça da vila. A vizinhança começa a ouvir e fica nas janelas de suas casas, observando. Logo, elas se soltam e ficam se encarando.
PAULA: – Você destruiu meu cabelo! Sua invejosa! dá um tapa em Antonia.
ANTONIA: – Você fez minha boca sangrar! Sua chifruda! dá um tapa em Paula.
PAULA: – Mesquinha! Avarenta! dá um tapa em Antonia.
ANTONIA: – Fofoqueira! Pobretona! dá um tapa em Paula.
Logo, as duas se agarram pelos cabelos de novo e caem no chão da praça, puxando os cabelos uma da outra. Alguns moradores que estavam no bar se aproximam e separam as duas, com muita dificuldade. Elas se encaram, sendo seguradas por homens.
ANTONIA: – Mulherzinha vulgar! Cobra que eu abriguei na minha pensão!
PAULA: – Não sei como eu tive coragem de pisar nessa espelunca de zero estrelas!
ANTONIA: – Pisou porque era a única opção, era isso ou era o viaduto! Mal-agradecida! Pode fazer as malas e ir embora agora mesmo! Leve a vadia da tua filha junto!
PAULA: – Não fala da minha filha, sua mal-amada!
ANTONIA: – É vadia sim! Tão vadia quanto à mãe! A Vanessa só podia ter ficado assim, com uma mãe igual a você e um pai cafajeste e inútil como o Ernesto, só podia resultar numa filha periguete e sem futuro nenhum!
PAULA: – Ordinária! Diz isso porque eu tô imobilizada, senão eu ia enfiava a mão na tua cara!
ANTONIA: – Rua! Você vai pra rua imediatamente! E não me importa se vai ter que comer lixo ou se a Vanessa vai parir embaixo da ponte, as duas estão na rua agora!
Antonia se solta do homem que a segurava e arruma seu cabelo, caminhando até a pensão. Paula esperneia sendo segurada por um homem, que não a solta.
CENA 06: PENSÃO TITITI, INTERIOR, TARDE.
Vanessa chora na sala da pensão, pois viu e ouviu a briga inteira. Antonia entra, furiosa.
VANESSA: – Dona Antonia, eu ouvi tudo, mas por favor, não expulse a gente! Eu tô prestes a parir, não tenho onde ficar.
ANTONIA: – Não me interessa, sua cobrinha jovem, pode fazer tuas malas e rua! O pai desse bebê não é milionário? Vai atrás dele então!
VANESSA: – Mas Antonia, reconsidere o que minha mãe falou, ela tava fora de si!
ANTONIA: – Muito pelo contrário, hoje a tua mãe caiu em si, ela mostrou a verdadeira face que escondeu nesses meses todos aqui na pensão. Agora, eu vou tomar um banho e quando sair, quero ver as duas com as malas aqui na sala.
Antonia sobe para seu quarto e Vanessa segue chorando na sala. É quando ela sente uma pontada na barriga. Vanessa se segura na parede e sente outra fisgada. Logo, um líquido começa a escorrer nas suas pernas.
VANESSA: – Ai meu Deus, a bolsa estourou! Vai nascer!
Vanessa vai até a janela e grita por ajuda aos moradores que estão na rua, enquanto continua a sentir novas fisgadas na barriga.
CENA 07: PINGUINERA DA ILHA MAGDALENA, PUNTA ARENAS CHILE, INTERIOR, TARDE.
Heloisa, Ricardo e Pietra visitam uma pinguinera. Com o frio extremo, eles vestem roupas pesadas de inverno, assim como tocas e luvas que protegem da neve que cai. Na pinguinera, a família visita com um guia o litoral de uma das ilhas que foram Punta Arenas, observando uma colônia de pinguins que migra anualmente para o local.
GUIA: – Muitos pinguins veem da Antártida e descansam aqui, trocam de plumagem e acasalam. Anualmente, 150 mil pinguins visitam a Ilha de Magdalena. em espanhol.
HELOISA: – É muito lindo! Que animais fofinhos! em espanhol.
Heloisa, Ricardo e Pietra observam os pinguins, que estão muito próximos a eles. Após, o guia os leva até o foral da ilha, que é recheada de fotos da região e dos pinguins. Pietra observa cada imagem com muita atenção, entusiasmo e alegria.
GUIA: – O farol foi construído em 1901 na intenção de ligar os oceanos Atlântico, a oeste, e Pacífico, a leste. Por 50 anos, operou com um sistema de gás acetileno, mas hoje é um ponto turístico importante no Chile, preservando um patrimônio histórico da região. em espanhol.
RICARDO: – Nas fotos, vejo que não há apenas pinguins aqui. em espanhol.
GUIA: – Não, há também biguás e leões marinhos, dentre outros animais, porém nada se compara a população de pinguins. em espanhol.
PIETRA: – Papai, eu não estou entendo nada que ele tá falando… Pergunta se dá pra gente tirar fotos perto dos pinguins?
Ricardo ri e pergunta ao guia, que permite as fotos. Heloisa segura Pietra no colo e leva a praia da ilha, enquanto Ricardo entrega a câmera fotográfica ao guia e se une a esposa e filha. O guia tira várias fotos da família ao lado da colônia de pinguins e da neve que cai do céu do Chile.
CENA 08: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, NOITE.
Marina e Ivan jantam sozinhos. Olga põe uma travessa de lasanha na mesa, enquanto os patrões seguem sem mover um talher.
MARINA: – Cadê o Davi?
OLGA: – Tá trancado no quarto, disse que não vai jantar.
IVAN: – Era só o que me faltava… Nove meses me dedicando a conquistar o amor do meu filho e quando estou prestes a conseguir, esse Miguel ressurge das cinzas e destrói tudo!
OLGA: – Não fale assim, Seu Ivan, foi um acaso do destino.
MARINA: – Acaso do destino ou não, o que importa é que esse encontro afastou o Davi de nós e vai ser difícil reconquistá-lo.
Eles seguem em silêncio na mesa, enquanto não percebem que Davi desce as escadarias da mansão com uma mochila nas costas. Com passos silencioso, ele sai da mansão sem ser notado.
CENA 09: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, EXTERIOR, NOITE.
Davi corre até o portão da mansão, mas ao tentar abri-lo, percebe que está trancado. Logo, o segurança se aproxima.
SEGURANÇA: – O que você quer, menininho?
DAVI: – Eu quero sair, abre pra mim, por favor?
SEGURANÇA: – Há essa hora e sozinho? Teus pais sabem disso?
DAVI: – Abre, por favor!
SEGURANÇA: – Vamos pra dentro de casa, mocinho, vem!
O segurança segura na mão de Davi e caminha com ele em direção a mansão. De repente, o molho de chaves cai do bolso do terno do segurança e Davi vê, mas não diz nada. Quando o segurança entra com ele na mansão, Davi solta sua mão e fica perto da porta, enquanto o segurança vai até a mesa do jantar. O menino abre a porta e corre até o molho de chaves no chão, indo até o portão da mansão e testando as chaves para abrir. Minutos depois, ele acerta a chave e abre o portão, saindo na rua deserta e escura.
CENA 11: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, NOITE.
O segurança explica o que aconteceu com Davi e deixa Marina e Ivan tensos. Olga vai até o quarto do menino e vê que está vazio e dá falta de sua mochila. A governanta avisa os patrões e eles entram em desespero, ainda mais após o segurança ver seu molho de chaves na fechadura do portão entreaberto da mansão.
CENA 12: HOSPITAL, SALA DE PARTO, INTERIOR, NOITE.
Vanessa está deitada na maca de parto há horas. Um médico e alguns enfermeiros acompanham a jovem, que está tendo parto natural. Paula está na recepção do hospital, rezando um terço na mão para que tudo ocorra bem. Vanessa faz muita força e sente muitas dores para parir seu bebê. As horas vão se passando, o fôlego diminui e a dor aumenta. Vanessa segue com contrações e fazendo força, completamente suada e exausta, até que, finalmente, o bebê nasce. O choro ecoa na sala e nos corredores do hospital público. Vanessa apoia a cabeça na maca e respira fundo pelo fim do sofrimento. O médico mostra o bebê a jovem, que percebe ser um menino. Vanessa sorri ao vê-lo.
CENA 13: HOSPITAL, BERÇÁRIO, INTERIOR, NOITE.
Paula recebe a notícia que o parto de Vanessa ocorreu tudo bem e ela segue até o berçário. No corredor, ela observa pela vidraça o neto sendo colocado numa das camas pelo médico.
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PAULA: – Que meninão lindo! Minha mina de ouro nasceu! Obrigado, Senhor!
Paula enxuga as lágrimas e alisa a vidraça, olhando fixamente para o neto recém-nascido e fazendo planos para o futuro com a pensão milionária de Ricardo Trajano.