CENA 01: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, EXTERIOR, TARDE.
Marina e Ivan chegam com Davi na luxuosa mansão do centro de Curitiba. Ao descer do carro, o menino se deslumbra com a imensidão do imóvel.
DAVI: – Meu Deus, vocês moram aqui?
MARINA: – Sim, muito bonito né? Aqui é sua nova casa.
Davi fica intrigado, mas segue admirando a paisagem. Marina acaricia seus cabelos e entra na mansão. Ivan pega Davi no colo e entra atrás.
CENA 02: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, TARDE.
Olga entra na sala e abre um sorriso ao ver Davi junto com Marina e Ivan, supondo que os patrões venceram a batalha judicial.
OLGA: – Mas olha só quem eu vejo: o Davi! Seja bem-vindo, querido!
Olga dá um beijo no rosto de Davi, que sorri levemente, ainda estranhado toda aquela situação. Ivan põe Davi sentado no sofá da sala e senta ao seu lado, assim como Marina.
DAVI: – Eu não tô entendendo nada… Porque eu tô aqui? Cadê meus pais?
MARINA: – Lembra que eu disse que a gente tem muito que conversar? Pois então, a gente tem mesmo, Davi.
IVAN: – Mas não agora, tá bom? Eu e a Marina precisamos descansar e você vai lá à cozinha que a Olga vai servir um pedaço de bolo de chocolate e um suco bem gostoso!
DAVI: – Eu não quero nada disso, eu quero meus pais! Eu não quero ficar aqui, eu nem conheço vocês. Meus pais estavam chorando, o que vocês fizeram pra eles?
Marina, Ivan e Olga se olham, sem saber o que dizer. Davi deixa escorrer uma lágrima de seu olho, pois está triste com a situação.
OLGA: – Vem comigo, Davi, vamos fazer um lanche e depois a Dona Marina e o Seu Ivan vão explicar tudinho pra você.
Davi aceita, mesmo desconfiado. Ele desce do sofá e vai com Olga para a cozinha. Marina e Ivan choram no sofá pela rejeição inicial do menino.
IVAN: – E agora, como a gente vai explicar toda essa história pro garoto?
Marina não responde, apenas abraça o marido e chora em seu ombro.
CENA 03: PENSÃO TITITI, INTERIOR, TARDE.
Antonia está com Paula na sala da pensão, para ela fazer as unhas.
ANTONIA: – Preste bem atenção, sua pamonha: eu quero minhas unhas lindas e perfeitas! Se eu tiver um corte na cutícula, um arranhão, um borrado, eu vou sentar a mão na tua cara!
PAULA: – Ai Antonia, você se acha muito né? Não sei como eu te suporto…
ANTONIA: – Me suporta porque não tem onde morar, eu fui a única que te abri as portas. Você deve lamber o chão que eu piso pra me agradecer!
PAULA: – Cale-se! Eu preciso de concentração pra fazer as unhas da sua pata!
ANTONIA: – Quem tem pata é você, sua vaca chifruda! Pior que tem chifre mesmo, esqueceu-se do Ernesto com a Cecília no motel?
Antonia começa a rir e Paula fica irritada, mas cala-se para não ser expulsa e começa a fazer as unhas da dona da pensão. Minutos depois, Gean chega da rua e senta num sofá ao lado delas.
GEAN: – Dona Antonia, precisamos conversar seriamente.
ANTONIA: – Agora? Não quer depois e em outro lugar?
Antonia dá uma piscadinha disfarçada, mas Paula nota e estranha. Gean fica sem-jeito.
GEAN: – Não precisa, aqui e agora tá ótimo! É que eu vou embora da pensão.
ANTONIA: – Embora? Mas por quê?
GEAN: – Porque eu fui convidado por um amigo para morar com ele no exterior.
Paula fica pasma e erra a unha de Antonia, cortando sua cutícula com força. Antonia grita de dor e tira as mãos de Paula, que encara Gean.
PAULA: – Você vai morar no exterior? Você?
GEAN: – Sim, eu mesmo. É aqui pertinho, na Ciudad del Este.
Paula começa a rir sem parar e levanta-se do sofá, caminhando de um lado para outro na sala, gargalhando. Gean fica incomodado e Antonia assopra sua mão que ainda dói.
PAULA: – Ai, me poupe da sua pobreza, Gean! Ciudad del Este? É pro Paraguai que você vai se mudar? Chama isso de exterior? Faz-me rir!
GEAN: – É exterior sim, Paula! Tudo que é fora do Brasil, é exterior. Matou aulas de Geografia, foi?
PAULA: – Exterior pra mim é Europa e Estados Unidos, isso é o que importa! Você é zé-povinho no Brasil e será zé-povinho no Paraguai, ai, eu não aguento!
Paula continua a gargalhar e Antonia a puxa pela saia, fazendo-a sentar no sofá.
ANTONIA: – Para de rir que isso aqui não é nenhum circo! Continue fazendo minhas unhas antes que eu te faça engolir o vidro de esmalte. Paula se cala e faz as unhas de Antonia. – Mas Gean, tem certeza que vai ir morar no Paraguai?
GEAN: – Sim, tá decidido. Tô indo embora nesse final de semana.
Paula segura-se para não rir. Gean levanta-se e vai para seu quarto, enquanto Antonia lamenta a saída do seu desejo sexual.
CENA 04: ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA, INTERIOR, TARDE.
Dr. Samuel dá um copo de água para Luiza e Miguel, que estão sentados em frente a sua mesa de trabalho, chorando muito.
SAMUEL: – Eu preciso que os senhores se acalmem para nós conversarmos do futuro.
LUIZA: – Ai, que angústia no peito! O meu filho… Não!
MIGUEL: – Como vai ser a vida dele na outra família? E como seremos nós sem ele?
SAMUEL: – Eu sinto muito pelo ocorrido, mas a gente pode recorrer da sentença.
LUIZA: – Você disse que nunca tinha perdido um caso na justiça!
SAMUEL: – E eu nunca perdi mesmo, mas ganhar de primeira é difícil. Um caso complexo como esse não é simples de ser resolvido, mas dá pra recorrer!
MIGUEL: – E quanto tempo à gente vai ter que esperar pro Davi voltar pra gente? Eu não vou suportar ficar um dia longe do meu filho e eu sei como a justiça é lenta!
SAMUEL: – Os senhores terão que esperar o tempo que for necessário, mas o resultado final pode ser muito positivo. Eu vou encontrar uma forma de provar que o Davi é filho de vocês.
LUIZA: – Agora? Depois que a certidão de nascimento do Davi vai ser alterada com o nome da Marina e do Ivan na filiação? O Davi Amaral agora será Davi Amorim. Eu nunca vou aceitar isso, ele cresceu no meu ventre, a Marina não é mãe dele!
SAMUEL: – Olha, eu aconselho os senhores de irem para casa e descansarem. Daqui alguns dias eu entro em contato com vocês.
Luiza e Miguel se olham, chorando. Aflito, ele levanta-se da cadeira e sai correndo do escritório, deixando Luiza pasma.
CENA 05: ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA, EXTERIOR, TARDE.
Luiza sai do escritório e vê Miguel partir com seu carro em alta velocidade. Ela grita, tentando impedi-lo, mas ele vai embora e deixa-a. Luiza está desolada e caminha pela calçada da rua, até que um jornal caído no chão com a foto de Dr. Vitor estampada na capa. Movida por um ódio profundo, Luiza pega o jornal e o rasga. Logo, ela vê um táxi transitando pela rua e o chama, pegando-o e partindo para a clínica.
CENA 06: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, NOITE.
Davi está entediado na sala, sentindo saudade de Luiza e Miguel. Olga tentou entretê-lo, mas nada adiantou. Do alto da escadaria da mansão, Marina acena para a criança.
MARINA: – Vem, Davi, eu quero te mostrar uma coisa muito legal! Vem!
Davi estranha, mas levanta do sofá, sobe as escadas e vai com Marina ver o que ela quer mostrar.
CENA 07: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, QUARTO DE DAVI, INTERIOR, NOITE.
No cômodo aonde era o quarto João e que ficou vazio após sua morte, agora Marina e Ivan mandaram pintar as paredes com cores e desenhos infantis, além de mobiliares com uma variedade imensa de móveis, objetos e brinquedos. Quando Davi entra no quarto, ele fica deslumbrado e abre um sorriso enorme.
DAVI: – Nossa, que lindo! De quem é esse quarto?
MARINA: – É seu.
DAVI: – Hã? Meu?
MARINA: – Vamos sentar na cama? A gente tem muito que conversar…
DAVI: – Mas já tá tarde, eu tenho que ir pra casa. Liga pros meus pais?
Marina fica sem-jeito, mas fecha a porta e coloca Davi sentado na cama. Ela acaricia seu rosto e respira fundo, tomando coragem para falar a verdade.
MARINA: – Davi, você é uma criança muito especial. Você é muito parecido com um filho que eu tive, mas infelizmente ela já partiu para o céu.
DAVI: – Eu sei, a mamãe me disse que você e o seu marido me acham parecido com o filho de vocês. Queria ver uma foto dele pra saber se sou tão igualzinho assim.
Marina compreende e retira da gaveta da escrivaninha do quarto uma foto de João quando criança, mostrando a Davi. Ele se choca com a semelhança.
DAVI: – Meu Deus! Esse é o seu filho? Nossa, é muito parecido comigo mesmo! É engraçado, se a gente tivesse nascido da mesma mulher, a gente seria gêmeo.
MARINA: – Mas vocês são irmãos gêmeos.
DAVI: – Como? Eu nasci da mamãe, ele nasceu de você. Gêmeo tem que nascer da mesma mãe e na mesma hora, não é?
MARINA: – Existem coisas que você não vai entender porque é muito pequeno ainda, mas quando você crescer você vai entender. O que eu quero te explicar é que você é irmão gêmeo do meu filho, portanto, você é meu filho também.
DAVI: – Eu sou seu filho? Mas… E a mamãe?
MARINA: – A Luiza te gerou, mas você tem o meu sangue. Ela e o Miguel te criaram, te deram amor e carinho, mas agora você deve ficar com os teus pais verdadeiros, que somos eu e o Ivan. Por isso a gente foi no fórum falar com o juiz, lembra?
DAVI: – Lembro sim, mas…
MARINA: – Nós te amamos, Davi! Te amamos igual ou mais que a Luiza e Miguel, você é um anjo em nossas vidas que veio iluminar essa casa após a morte do João.
DAVI: – Vocês não são meus pais! Minha mãe é a Luiza e meu pai é o Miguel! Como eu posso ser irmão gêmeo de uma pessoa que já morreu? Você está mentindo para mim.
Davi desce da cama e sai correndo do quarto, deixando Marina chocada. Ela começa a chorar com a foto de João nas mãos.
CENA 08: PENSÃO TITITI, QUARTO DE PAULA E VANESSA, INTERIOR, NOITE.
Paula, Vera e Vanessa conversam no quarto sobre a viagem de Gean e o golpe da barriga no milionário.
VANESSA: – O Gean vai morar no Paraguai? Que chique!
VERA: – Chique de onde? Esse país pobre, se fosse França aí eu consideraria chique.
VANESSA: – Na França também tem pobres, assim como no Paraguai tem ricos. Só pelo fato de o Gean morar fora do Brasil, já é uma grande coisa.
PAULA: – Espero que ela vá e nunca mais volte, não quero vê-lo atrasando a sua vida. Esse vagabundo não é homem pra você. Tá vendo o futuro que ele ia te dar? Muambeira de fronteira! Agora, o futuro que o Ricardo Trajano vai te proporcionar é outro nível, então, trate de engravidar logo!
VANESSA: – Eu sei disso, mas não consegui engravidar ainda. Paciência!
VERA: – Vocês estão fazendo tudo certinho? Colocam a camisinha com o “material” dentro do envelope, guardam na geladeira e se “insemina” em menos de 24 horas?
VIVANE: – Sim, eu faço tudo isso, mas não dei sorte ainda.
PAULA: – Pois é bom que engravide logo, nesse final de semana a antiga empregada volta porque melhorou de saúde e eu serei dispensada.
VANESSA: – Ai, meu Deus, será que dá tempo de eu engravidar até o fim de semana?
VERA: – Tem que dar, querida, eu vou até fazer uma oração pra Oxum, que no candomblé é a senhora da fertilidade e da gestação.
PAULA: – Eu já fiz promessa pra Santa Heloisa, que é protetora das grávidas. Curiosamente, Heloisa é o nome da esposa do milionário que a Vanessa tá dando um golpe.
VANESSA: – Nossa, é um sinal do destino!
Paula e Vera concordam e seguem conversando com Vanessa.
CENA 09: BAR, INTEIOR, NOITE.
Miguel está sentado numa mesa de bar, cabisbaixo e bebendo muito. Aflito e angustiado por perder Davi, ele se descontrola e bebe muitas garrafas de cerveja, chorando e relembrando os momentos felizes que viveu com a criança e com Davi. Relâmpagos e trovejadas são vistos e ouvidas, logo começa a chover muito forte, mas Miguel permanece no bar.
CENA 10: CLÍNICA DE DR. VITOR, INTERIOR, NOITE.
Dr. Vitor está se despedindo de dois clientes na sua sala. Após eles saírem, Luiza entra correndo na sala e deixa o geneticista assustado.
VITOR: – Luiza? Eu já estou fechando a clínica e…
Luiza interrompe Dr. Vitor, dando um forte tapa em seu rosto. O geneticista cobre com uma mão o lado do rosto em que apanhou, enquanto Luiza o encara enfurecidamente.
LUIZA: – A culpa é sua! Eu te odeio. Monstro!
Luiza avança em Dr. Vitor, estapeando o geneticista com força pelo seu corpo. Ele tenta impedir e pede para ela parar, mas não adianta, sua fúria materna é imbatível. Logo, Luiza empurra Dr. Vitor e começa a quebrar a sala, derrubando tudo o que há na mesa de trabalho, rasgando papéis e documentos.
VITOR: – Para com isso! Acalme-se e vamos conversar, por favor!
Luiza não dá ouvido e pega uma cadeira, ergue-a do chão e arremessa em cima da mesa de vidro, estilhaçando em muitos pedaços. O geneticista fica chocado e grita por ajuda. Luiza continua a quebrar alguns objetos, mas logo os seguranças da clínica entram na sala, a segura pelo braço e a tiram a força da sala em meio a gritos.
LUIZA: – Eu te odeio! Você destruiu a minha vida! Você destruiu o meu sonho de ser mãe!
Sozinho na sala, Dr. Vitor observa tudo quebrado e se apoia na parede, ofegante.
CENA 11: PENSÃO TITITI, BANHEIRO, INTERIOR, NOITE.
Vanessa está atrás o box do banho, agachada no chão, nua, com o envelope das camisinhas usadas por Ricardo, fazendo a inseminação caseira. Vanessa já perdeu as contas de quantas vezes fez isso, mas tem esperança de engravidar do milionário. Após se “inseminar”, ela se veste, põem as camisinhas no lixo, lava as mãos e sai.
CENA 11: PENSÃO TITITI, QUARTO DE GEAN, INTERIOR, NOITE.
Gean está arrumando sua mala, pois faltam poucos dias para ele viajar. Vanessa entra no quarto sem bater, apenas de pijama.
GEAN:– Você por aqui? Faz tempo que a gente não se vê…
VANESSA: – Pois é, você tem saído muito nas baladas né.
GEAN: – Claro, aproveitar minha beleza na night. Tem saído pouco por quê? A louca da tua mãe quer te transformar em freira?
VANESSA: – Não fala da minha mãe! Tô sabendo que você vai se mudar pro Paraguai. Verdade mesmo?
GEAN: – Sim, vou virar empresário.
VANESSA: – Menos, Gean, bem menos né! Você vai virar muambeiro, só pode.
GEAN: – E daí? Tá com inveja? Tá com medo de me perder?
VANESSA: – Me poupe! Você foi um erro na minha vida! Vai embora logo!
Vanessa vai sair do quarto, mas Gean a puxa e lhe dá um beijo intenso. Vanessa o empurra no inicio, mas depois se entrega. Gean joga Vanessa na cama e deita sob ela, beijando-a e tirando seu pijama, deixando-a apenas de roupas íntimas.
GEAN: – Vamos nos despedir, sua safada? Tô com saudades do teu corpo…
VANESSA: – Ai, só você mesmo me deixa louca assim!
Vanessa e Gean se beijam intensamente e se fazem carícias ousadas. Porém, Vanessa lembra-se da “inseminação” que acabou de fazer com as camisinhas de Ricardo e sente dúvidas se deve ou não transar com Gean.