CENA 01: CLÍNCIA DO DR. VITOR, INTERIOR, NOITE.

O fogo se alastra rapidamente por todos os cômodos da clínica de fertilização, causando um rastro de destruição. Dr. Vitor está sentado na poltrona de sua sala, resigno, observando o fogo consumir o estabelecimento que lutou tanto para construir. Ele tosse, pois a fumaça é forte e irritante, além do calor, mas o ex-geneticista não quer se salvar do incêndio provocado por ele mesmo.

CENA 02: CLÍNICA DO DR. VITOR, EXTERIOR, NOITE.

Na rua, pessoas transitam como de costume e notam clarões estranhos dentro da clínica, além da fumaça que sai pelas janelas que cujos vidros explodiram. O incêndio é notado por um pedestre que liga imediatamente para o corpo de bombeiros de Curitiba.

CENA 03: REFINARIA PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS REPAR, INTERIOR, NOITE.

Ricardo está com Paula na sala da presidência da refinaria de petróleo em Araucária.

RICARDO: – Que brincadeira foi essa de se anunciar como minha sogra, Dona Paula? Eu não gostei nenhum pouco!

PAULA: – Mas não é brincadeira, eu sou tua sogra!

RICARDO: – A senhora é louca? Eu sou casado com a Heloisa, logo, a minha sogra é a mãe dela.

PAULA: – Pois é, querido, mas você engravidou a minha filha e isso também me coloca no papel de sua sogra.

Ricardo se surpreende com a acusação e sorri sarcasticamente.

RICARDO: – O quê? Eu engravidei a sua filha? Eu nunca traí a minha esposa e eu nem conheço a sua filha!

PAULA: – Não é isso que a Vanessa me contou. Vocês dois foram amantes por algum tempo, ela engravidou e você deu um pé na bunda dela! E agora, quem arca com as consequências? A Vanessa e eu? Nem pensar! Querido, eu quero uma pensão bem gorda todo mês, na minha mão! Foi homem pra engravidá-la? Pois vai ser homem para assumir! Quero o registro com teu sobrenome, é só marcar o dia no cartório.

RICARDO: – A senhora realmente está fora de si, não é possível! Eu não conheço a sua filha por foto, muito menos pessoalmente! Olha, a sua filha deve ter engravido de outro homem e inventou essa história porque eu sou rico.

PAULA: – Ah, está insinuando que a minha filha é interesseira?

RICARDO: – Pior é a senhora que está afirmando que fui adúltero! Deixe de paranoia e saia da minha refinaria agora!

PAULA: – Quer dizer que você prefere resolver isso na frente do juiz? Perfeito, eu vou ter o maior prazer de esfregar o teste de DNA na tua cara, seu safado!

RICARDO: – Não posso acreditar que estou passando por uma situação absurda dessas… Vai sair p17or bem ou terei de chamar a segurança?

PAULA: – Pode deixar, eu sei o caminho da saída. Não esqueça que eu também sei o endereço da tua mansão. A Heloisa não ia gostar nadinha que saber que o marido pulou a cerca.

RICARDO: – Não envolva a Heloisa nessa história, Paula!

Paula sorri ironicamente e sai da sala de Ricardo, sentindo-se vencida. Ele senta na cadeira, chocado com as acusações e sem entender nada.

CENA 04: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, QUARTO DE PIETRA, INTERIOR, NOITE.

Pietra está mostrando para Inês as fotos da viagem para o Chile que acabaram de chegar da gráfica.

PIETRA: – Olha só, Tia Inês, como tinha bastante neve nessa cidade! Eu adorei conhecer a neve.

INÊS: – Que bom, meu anjinho, deve ser muito bom tocar na neve né?

PIETRA: – Sim, é delicioso! Eu queria trazer um pouco de neve, mas o papai disse que ia derreter.

INÊS: – E esses pinguins? Ai, que fofinhos!

Pietra concorda e Heloisa entra no quarto, com uma bandeja de remédios. A criança fecha o álbum e faz uma cara de desânimo.

PIETRA: – Ai mãe, vou ter que tomar todos esses remédios de novo?

HELOISA: – Sim, meu amor, tem que tomar todos os dias. Lembra que o médico disse?

PIETRA: – Eu sei, mas por quanto tempo? Eu tô doente sempre, quero me curar.

Heloisa fica balançada com as palavras de Pietra, mas senta ao lado dela e faz a menina tomar os remédios.

CENA 05: CLÍNCIA DE DR. VITOR, EXTERIOR, MANHÃ.

O corpo de bombeiros está com dois veículos da corporação tentando apagar o incêndio. O dia já amanheceu e ainda existem chamas no estabelecimento, mas ninguém suspeita de alguma vítima já que não é hora comercial.

CENA 06: CLÍNICA DE DR. VITOR, INTERIOR, MANHÃ.

Após o fogo abaixar e quase acabar, uma turma de bombeiros entra no local e procura alguma vítima nos escombros da clínica. Quando entram na sala do ex-geneticista, é encontrado um corpo carbonizado caído no chão. Imediatamente, o Instituto Médico Legal IML e a polícia são acionados.

CENA 07: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, MANHÃ.

Dr. Bruno Quadros, advogado da família, analisa o mandato judicial na sala, juntamente com Marina e Ivan.

BRUNO: – Eu estou surpreso com a audácia do Dr. Samuel Ferraz em recorrer da sentença do juiz há quase um ano.

MARINA: – Pois é, Dr. Bruno, eu não consigo entender o que esse advogado vai alegar para provar que o Davi é filho da Luiza e Miguel.

IVAN: – O mais estranho é que está escrito no mandato que devemos levar o Davi para uma clínica, aonde terá uma coleta de sangue. Porém, eu e a Marina não vamos coletar sangue, então eu não entendi. Que tipo de exame é esse? Não é DNA, então qual é?

BRUNO: – Eu não faço ideia, Seu Ivan. Realmente, contra um teste de DNA, não há o que ser questionado perante a justiça. Eu não sei o que o Dr. Samuel fará, mas eu farei de tudo para impedir que mexam na certidão do Davi novamente e a guarda passe para o outro casal.

MARINA: – E há essa possibilidade, mesmo que remota?

BRUNO: – Talvez, Dona Marina, para esse advogado se arriscar assim. Mas não tenham medo, eu os defendi na primeira vez com pulso de ferro e irei fazer o mesmo agora.

Marina e Ivan estão temerosos, mas confiam no advogado, que segue dando algumas instruções para o casal.

CENA 08: ESCRITÓRIO DE ADVOCADIA, INTERIOR, MANHÃ.

Luiza e Miguel estão no escritório de Dr. Samuel Ferraz, que entrega um mandado para eles.

SAMUEL: – Está escrito no mandato que os senhores deverão comparecer nessa clínica no dia e hora, para realizarem uma coleta de sangue. Isso foi solicitado por mim, será através dessa coleta que a clínica fará um exame para provar que os senhores são os pais do Davi.

LUIZA: – Ai Dr. Samuel, assim o senhor me enche de esperança! Mas o teste de DNA anterior deu positivo pra Marina e Ivan, como vai dar outro resultado agora?

SAMUEL: – Será um teste de DNA, mas diferente. Durante esses meses, eu pesquisei muitos casos jurídicos de disputas pelo reconhecimento de filiação. Foram pilhas e pilhas de casos nacionais e internacionais, até que eu descobri uma luz: o DNA do plasma.

MIGUEL: – DNA do quê?

SAMUEL: – DNA do plasma, Seu Miguel. Esse DNA é encontrado na mitocôndria, que é uma organela citoplasmática da célula responsável pela respiração celular e pela produção de energia. O mais importante é que as mitocôndrias são doadas pela mãe durante a gestação, ou seja, o DNA do plasma vai mostrar que a Luiza é a mãe!

Luiza e Miguel sorriem e ficam com os olhos marejados de felicidade.

LUIZA: – Ai Jesus… O Davi tem um pedacinho de mim, mesmo não tendo o meu sangue!

MIGUEL: – Mas o juiz vai considerar esse exame? É que eu só conhecia o teste de DNA convencional, de sangue, nunca tinha ouvido falar em DNA do plasma.

SAMUEL: – Eu estou preparado, estudei muita Biologia para entender essa questão das mitocôndrias e estou preparando uma defesa espetacular para os senhores. Eu tenho muito otimismo que o Davi vai voltar para a guarda dos senhores.

Luiza e Miguel se abraçam e comemoram com a possibilidade de ter Davi de volta.

CENA 09: PENSÃO TITITI, QUARTO DE ANTONIA, INTERIOR, TARDE.

Vera bate na porta do quarto de Antonia, chama por ela, mas é inútil. Ao girar a maçaneta, a porta se abre e Vera entra, pela primeira vez em anos morando ali. Ela caminha pelo cômodo e se impressiona com o conforto do local. Porém, notas de dinheiro em cima do bidê lhe chamam a atenção. Sem pensar duas vezes, Vera pega as notas e põe no sutiã. Ela caminha mais um pouco pelo quarto e pisa numa fotografia. Vera pega a foto nas mãos e vê uma idosa vestindo trajes exagerados.

VERA: – Quem será essa velha? Porque a Antonia guarda foto dela?

Vera fica intrigada e ouve passos no corredor. Ela guarda a foto no sutiã e Antonia entra no quarto, só de toalha, e dá um grito ao ver Vera no seu quarto.

ANTONIA: – Mas que petulância é essa? Ninguém ousa entrar no meu quarto, sua infeliz!

VERA: – O Gean entrava…

ANTONIA: – Cale-se, sua ladra! Veio me roubar, foi?

VERA: – Eu? Claro que não! Eu vim… Bom, eu vim aqui… É que ligou uma pessoa pra pensão querendo falar contigo e eu vim te avisar.

ANTONIA: – Pessoa? Que pessoa?

VERA: – Não disse nome, só que queria falar. Agora, deixa eu sair porque eu tenho muita coisa pra fazer hoje…

ANTONIA: – Vai bater carteiras no centro de Curitiba, querida?

Vera fica calada e sai do quarto, enquanto Antonia tranca a porta e fica intrigada com o ocorrido.

CENA 10: PENSÃO TITITI, QUARTO DE VERA, INTERIOR, TARDE.

Vera está deitada na cama e vê a foto da idosa com atenção, mas não se recorda dela na pensão. Logo, ao virar a fotografia, ela vê uma dedicatória: “Minha querida Antonia, deixo essa lembrança como prova do meu carinho por ti. Desculpe se não sou o que você esperava, mas agradeço por ter ido atrás das suas origens. Beijos!”.

VERA: – Mas o que é isso, gente? A Antonia nunca falou nessa velha… Tem um número de telefone, será que eu ligo? Talvez eu tenha um trunfo contra a Antonia!

Vera sorri, pega seu celular e liga para o número, muito curiosa.

CENA 11: MANSÃO DA PAULA, INTERIOR, TARDE.

Paula e Vanessa tomam café da tarde, com muitas variedades de comidas, esbanjando o dinheiro que ainda não possuem.

VANESSA: – Então o Ricardo ficou uma fera com a sua visita?

PAULA: – Ficou, mas isso não me assusta, era óbvio que ele ficaria furioso. Ele aparenta ser um homem fiel à esposa mesmo, achou um absurdo eu o acusar de ter um filho fora do casamento.

VANESSA: – Eu nunca vi o Ricardo pessoalmente, queria um dia conhecê-lo.

PAULA: – Em breve, estaremos frente a frente no Tribunal e você o verá, aguarde!

VANESSA: – Ele vai pedir teste de DNA?

PAULA: – Óbvio, pensou que ele ia colocar o nome dele na certidão e pagar pensão pra toda mulher que aparecesse com um filho dizendo ser dele? O Ricardo não é nenhum burro, minha filha. Mas isso não é problema, o bebê tem o sangue dele, afinal você fez a “inseminação” com as camisinhas, então tá tudo ok!

VANESSA: – Sei lá, mãe, a gente vê tanto erro nesses exames e clínicas. Lembra do terror que passou a Luiza? Ela gerou um filho que era de outro casal.

PAULA: – Deixa de besteira, teste de DNA é diferente! Tá com medo por quê? Você não fez tudo certinho?

Vanessa fica tensa e soa frio, tentando disfarçar.

VANESSA: – Fiz, claro que fiz…

PAULA: – Então, cale-se e confie na tua mãe, eu sei o que eu estou fazendo. Amanhã mesmo eu vou até a mansão revelar pra Heloisa toda essa história.

Vanessa segue tensa, enquanto Paula segue tomando seu café da tarde.

CENA 13: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, NOITE.

Marina, Ivan e Davi assistem o telejornal na sala da mansão, logo após o jantar.

REPÓRTER: – Um incêndio atingiu uma clínica de fertilização no centro de Curitiba. O estabelecimento pertencia ao Dr. Vitor Vasconcellos, que foi julgado ontem pelo Conselho de Ética e teve o diploma cassado. A perícia investiga as causas do incêndio. Um corpo foi encontrado carbonizado no interior da clínica e o IML acaba de identificar como sendo o corpo do ex-geneticista. O Dr. Vitor Vasconcellos morre aos 55 anos e deixa uma carreira de sucesso na engenharia genética do Brasil, apesar do escândalo que culminou o fim da sua carreira e prestígio na mesma noite de sua morte.

Marina e Ivan estão chocados com a notícia e desligam a TV.

IVAN: – O Dr. Vitor morreu! Será que ele provocou o incêndio?

MARINA: – Talvez. Perder o diploma deve ter sido terrível para ele. Que Deus me perdoe, mas esse doutorzinho já foi tarde!

DAVI: – Eu já ouvi muito o nome desse doutor, também o vi no fórum. A mamãe Luiza e o papai Miguel já foram à clínica dele. Vocês também já foram?

IVAN: – Sim, nós já fomos à clínica dele sim. Esse doutor ajudava os casais a terem filhos. O João e você foram feitos no laboratório dele.

DAVI: – Eu fui feito num laboratório? Mas… Como isso? Que esquisito!

MARINA: – É uma longa explicação que eu te conto outro dia, tá bom? Agora, tá na hora de dormir.

Davi desce do sofá e dá um beijo em Marina e Ivan.

DAVI: – Boa noite, mamãe. Boa noite, papai.

Marina e Ivan ficam felizes com o carinho de Davi, que sobe ao seu quarto.

CENA 13: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, INTERIOR, NOITE.

Ricardo está chegando em casa após passar dois dias em Araucária. Pietra corre até o pai e o abraça fortemente. Heloisa aproxima-se e beija o marido, que logo se lembra das acusações feitas por Paula na refinaria de petróleo.

PIETRA: – Papai, eu pedi muito pra mamãe me deixar dormir com vocês hoje e ela deixou! Não é legal?

RICARDO: – É sim, minha lindinha, vai arrumando a cama que nós já vamos!

Pietra sorri e sobe até o quarto. Ricardo observa Heloisa fixamente e a abraça em seguida.

RICARDO: – Oh meu amor, você sabe o quanto eu te amo né?

HELOISA: – Sei sim, Ricardo, é recíproco!

RICARDO: – Você confia em mim, não é?

HELOISA: – Claro que sim. Porque está me perguntando isso?

Ricardo não diz nada e beija intensamente Heloisa, que se envolve nos braços do marido. Ele sabe que não traiu a esposa, mas tem medo das mentiras que Paula inventará.

CENA 14: PENSÃO TITITI, QUARTO DE VERA, INTERIOR, NOITE.

Vera liga para o telefone que está atrás da foto, mas demora muito para ser atendida.

VERA: – Alô! Quem fala? a pessoa diz o nome. – Shirley? Ah sim… Eu sou Vera, sou hóspede na pensão da Antonia. Você a conhece, não é? a pessoa diz algumas coisas. – O quê? Ela é sua sobrinha? Que legal… Eu e a Antonia somos muito amigas, aí resolvi ligar pra você. Aliás, onde você mora mesmo? a pessoa informa. – Em Florianópolis? Não é muito longe daqui… Eu vi pela foto que a Antonia me mostrou que a senhora veste umas roupas bem exóticas, trabalha com Carnaval? a pessoa responde. – É uma prostituta? Meu Deus! Mas…

A ligação cai e Vera está pasma com o que descobriu.

VERA: – A Antonia tem uma tia que é prostituta!

Vera começa a gargalhar no seu quarto, começando a tramar seu plano.

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