CENA 01: FÓRUM, SALA DE AUDIÊNCIA, INTERIOR, MANHÃ.
Meritíssimo Armando Ramos está mediando o julgamento da disputa por Davi. Luiza, Miguel e Dr. Samuel Ferraz estão sentados à direita da mesa; enquanto Marina, Ivan e Dr. Bruno Quadros estão sentados à esquerda da mesa. Um escrivão, sentado ao lado da mesa do juiz, redige tudo o que é dito na sala.
ARMANDO: – Estamos aqui reunidos neste fórum para dar início ao julgamento do pedido do advogado, Dr. Bruno Quadros, pelo reconhecimento da maternidade e paternidade de Marina Amorim e Ivan Amorim perante o menor Davi Amaral, que por sua vez foi gerado e criado por Luiza Amaral e Miguel Amaral devido a uma troca de embriões cometida por Dr. Vitor Vasconcellos em 2010. Passo a palavra aos senhores advogados.
Dr. Bruno e Dr. Samuel se observam, enquanto organizam seus papéis.
BRUNO: – Gostaria de frisar, Meritíssimo, que nesta audiência estão sendo julgadas duas situações melindrosas: o crime cometido por Dr. Vitor Vasconcellos e o reconhecimento legal de que Davi é filho de Marina e Ivan Amorim. Meus clientes fizeram um tratamento de fertilização artificial em 1990 na clínica deste geneticista. Desta fertilização in vitro, surgiram dois embriões, ou seja, embriões-gêmeos. Na época, o casal não quis gerar os dois por questões financeiras, já que estavam recém iniciando a vida de casados e a carreira empresarial. Um embrião foi gerado, que nove meses depois nasceu e foi registrado como João Amorim, enquanto o outro embrião permaneceu congelado na clínica. Em 2015, 25 anos depois, meus clientes retornam a clínica para gerarem o embrião congelado e descobrem que o mesmo já foi gerado por outra mulher. Aí entram Luiza e Miguel Amaral, os pais de criação de Davi Amaral, que não é apenas filho dos meus clientes como é também irmão gêmeo de João Amorim, já falecido.
Luiza e Miguel se olham apreensivos, enquanto Marina e Ivan comemoram a defesa.
SAMUEL: – Meritíssimo, meus clientes se casaram e tentaram por anos terem um filho por meio natural, mas não conseguiram. Realizaram uma bateria de exames para descobrirem algum problema genético, mas nada foi comprovado. Foi então que eles trabalharam pesado como faxineira e pedreiro para juntarem um dinheiro e pagar o tratamento de fertilização assistida. E isso ocorreu: após trabalharem em excesso por quase um ano, eles procuraram a renomada clínica de Dr. Vitor Vasconcellos e pagaram o tratamento. O geneticista realizou a fertilização in vitro, mas na hora de inseminar Luiza Amaral, ele acabou trocando os embriões do botijão de hidrogênio e inseminou o embrião pertencente ao casal Marina e Ivan Amorim. O geneticista se omitiu e meus clientes geraram e criaram o filho como se fosse do sangue deles. O menor Davi Amaral pode não carregar os genes de Luiza e Miguel Amaral, mas o amor de mãe e pai ele reconhece meus clientes, pois a filiação não vê genética.
Marina e Ivan se olham apreensivos, enquanto Luiza e Miguel comemoram a defesa.
BRUNO: – O menor Davi Amaral teria amor pelos pais de sangue se tivesse convivência com eles. Grande parte das pessoas são frutos da herança genética. Luiza e Miguel Amaral criaram o menino, mas os traços de personalidade são herança de Marina Amo e Ivan Amorim. Até porque a Luiza não passou de mera barriga de aluguel.
SAMUEL: – Protesto, Excelência! Ainda não foi comprovada a troca de embriões, até o momento são apenas palavras do Dr. Vitor Vasconcellos. Além disso, o termo “barriga de aluguel” não se enquadra na minha cliente, pois ela não foi até a clínica alugar seu útero, mas sim gerar o seu sonhado filho.
ARMANDO: – Protesto aceito.
BRUNO: – Meritíssimo, o teste de DNA é a prova máxima da troca de embriões, mas basta comparar uma foto de João Amorim quando tinha a mesma idade que Davi Amaral possui hoje que serão nítidas as semelhanças físicas de ambos, comprovado a condição de irmãos gêmeos. Se Davi Amaral é gêmeo de João Amorim, logo, eles são filhos de Marina e Ivan Amorim, excluindo totalmente Luiza e Miguel Amaral.
SAMUEL: – Dr. Bruno Quadros, se for comprovada a troca de embriões, isso não excluirá o papel que Luiza e Miguel desempenharam na vida do menino Davi. A criação de amor, carinho e educação não é condizente com genética.
Luiza, Miguel, Marina e Ivan se entreolham, apreensivos. Os advogados bebem um pouco de água, enquanto o juiz bate o martelo.
ARMANDO: – Vamos começar com os depoimentos. Marina Amorim, dirija-se a ponta da mesa.
Marina levanta-se de sua cadeira e caminha até o canto da mesa, sentando. Ela fica na direção do juiz e prepara-se para depor.
CENA 02: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, QUARTO DE HELOISA E RICARDO, INTERIOR, MANHÃ.
Paula está arrumando a cama de Heloisa e Ricardo. Após, ela espana os móveis. Quando ela vê Heloisa e Pietra brincando no jardim da mansão, Paula aproveita a oportunidade e vai até o banheiro do quarto. Ela abre a tampa da lixeira do banheiro e, com uma piça, ela pega duas camisinhas usadas por Ricardo e coloca dentro de um envelope marrom. Rapidamente, Paula guarda o envelope em sua bolsa e segue sem trabalho na mansão, sem dar sinal de nada.
CENA 03: FÓRUM, SALA DE AUDIÊNCIA, INTERIOR, MANHÃ.
Marina começa a depor, enquanto é observada por todos.
MARINA: – Quando o João morreu naquele acidente trágico, foi como se o mundo tivesse desmoronado na minha cabeça. Sofri muito, tive raiva da vida, briguei com Deus, me senti um lixo. Não queria mais viver. Aos poucos, fui superando com o meu marido a perda do nosso filho. Demorou muito tempo, ouso dizer que não faz muitos meses que eu consegui pôr um ponto final nessa parte da minha história. Aí, de repente, surge uma vontade súbita de ser mãe outra vez. Lembrei que havia um embrião congelado na clínica do Dr. Vitor e conversei com o Ivan sobre gerá-lo, afinal de contas, era gêmeo do João. Quando o geneticista ficou sabendo da nossa vontade, ele tentou impedir.
ARMANDO: – Impedir como?
MARINA: – Na época, eu não notei que eram impedimentos, mas hoje eu percebo que eram tentativas de impedir o nosso desejo. Ele dizia que a gravidez na minha idade era de risco, que um filho nesta idade era muito complicado, enfim, coisas que me deixaram intrigadas.
ARMANDO: – E quando ele comunicou da suposta troca de embriões?
MARINA: – Primeiro, ela disse que o embrião estava em perfeitas condições e bastaria alguns exames para provar que eu estava com o organismo bom. Eu fiz os exames e, quando voltei à clínica, o Dr. Vitor contou da troca. Foi uma bomba atômica pra mim, Meritíssimo. Esse filho seria a luz na minha vida, eu ia renascer, seria a saída da minha tristeza profunda pela morte do João. Eu e o Ivan ficamos desesperados para o geneticista contar quem era a família que gerou e criou o nosso embrião, demorou muito até as duas famílias se encontrarem.
ARMANDO: – E como foi este encontro?
MARINA: – Tenso. Nós temos muitas divergências.
O juiz dá por encerrado o depoimento e ordena que Ivan se dirija a cadeira do depoente.
CENA 04: PENSÃO TITITI, INTERIOR, MANHÃ.
A pensão está silenciosa. Somente Vera está nela, que acabou de chegar à sala após um banho de perfume. Ela fica entediada e percebe que há metade de uma nota de cem reais pra fora de uma gaveta no armário da sala. Vera sente coceira na mão e uma vontade louca de roubar, mas tenta se controlar. Porém, o silêncio na pensão a encoraja e ela vai até a gaveta, abrindo vagarosamente e percebendo várias notas de cem reais.
VERA: – Meu Deus, isso só pode ser o aluguel de todos os moradores da pensão do último mês! Ai, eu vou pegar tudo e dizer que houve um assalto! Estou precisando renovar meu guarda-roupa e fazer alguns procedimentos estéticos.
Vera não hesita e põem a mão direita na gaveta para pegar todo o dinheiro, mas é surpreendida por uma ratoeira que pega sua mão com força. Ela dá um grito desesperado e tira a mão da gaveta, correndo pela sala da pensão com a ratoeira em sua mão. Logo, Antonia desce do quarto, onde estava escondida, e fica pasma ao ver quem era a ladra da pensão.
ANTONIA: – Ah, então é você quem tá me roubando? Cachorra!
Vera fica imóvel e pálida, sem saber o que dizer, se contorcendo de dor.
CENA 05: FÓRUM, SALA DE AUDIÊNCIA, INTERIOR, MANHÃ.
Ivan começa a depor, sob a atenção de todos.
IVAN: – Meu sonho de ser pai foi destruído duas vezes. Na primeira, vejo meu filho morrer aos 20 anos, cheio de vida e sonhos. Na segunda, descubro que a chance de ser pai outra vez foi impedida pela incompetência de um geneticista corrupto. Me entristece muito o fato de não poder ver o gêmeo do João crescer no ventre da minha esposa, de não podermos vê-lo dar os primeiros passos nem o educar, é uma parte da minha vida que ficará faltando. Se tivermos o reconhecimento de filiação sob o Davi, será uma forma de recompensar toda a dor que eu e minha esposa sofremos até hoje.
ARMANDO: – Qual o papel que o senhor acredita que Luiza Amaral e Miguel Amaral tiveram na vida do menor Davi Amaral até hoje?
IVAN: – O papel de mãe e pai, mas na prática, eles não cabem nesse significado. A Luiza foi uma mera barriga de aluguel, sem saber, mas foi. E o Miguel, ele foi um pai de criação, somente isso. Acredito que eles amaram essa criança, mas ele tem o meu sangue, não é justo permanecer com eles.
O juiz dá por encerrado o depoimento de Ivan e pede para Luiza depor. Ela senta na cadeira de depoente e respira fundo.
LUIZA: – O desejo de maternidade surgiu pouco depois do casamento com o Miguel. Nós tentamos engravidar naturalmente, mas não conseguimos, aí fomos atrás do Dr. Vitor. Tudo ocorreu bem, desde os exames, passando pela coleta dos materiais genéticos e inclusive a inseminação. Minha gestação foi ótima, o parto teve algumas dificuldades pela precariedade da saúde pública no Brasil, mas não houve complicações com o bebê. Os cincos primeiros anos do Davi foram muito felizes, até que essa bomba estoura em nossas vidas. Meu filho não é mais meu filho? Como assim? Eu tive a gestação, o parto, eu eduquei e amei essa criança, como do dia pra noite ele não é mais meu filho? Não aceitei e não aceito isso até hoje! Inclusive, fico muito triste ao ser intitulada de “barriga de aluguel” pela outra família. Eu não fui alugar minha barriga na clínica, eu fui ter um filho, só isso! Se o Ivan acredita que o significado da palavra “mãe” não cabe a mim, pois muito menos o significado do termo “barriga de aluguel” cabe a minha pessoa também.
ARMANDO: – Em sua visão, qual termo representaria Marina Amorim e Ivan Amorim na vida do menor Davi Amaral?
LUIZA: – Esse casal não desempenhou papel algum na vida do Davi, ao contrário de mim e do Miguel. Não tem palavra que represente a eles.
O juiz resolve não questionar Luiza, notando seu nervosismo. Ele pede para Miguel depor, que se encaminha a ponta da mesa.
CENA 06: PENSÃO TITITI, INTERIOR, MANHÃ.
Antonia aperta o braço de Vera, que está com os olhos marejados de dor.
ANTONIA: – Ladra! Cobra que eu abriguei dentro da minha própria casa! Como você ousa me roubar, sua cretina?
VERA: – Ai Antonia, a ratoeira tá doendo! Tira, por favor, tira logo!
ANTONIA: – Não vou tirar porcaria nenhuma, sua safada! Você vai me explicar porque estava roubando o dinheiro do aluguel dos hóspedes? Foi você quem roubou o dinheiro embaixo do vaso de flores também? Diga!
VERA: – Foi! Desculpa, Antonia, eu tenho compulsão, é mais forte que eu!
ANTONIA: – Compulsão? Isso na minha terra se chama sem-vergonhice!
Antonia solta o braço de Vera que cai no chão. Com o impacto da queda, a ratoeira desarma da sua mão, aliviando um pouco a dor.
ANTONIA: – Rua! Faça suas malas e vá embora imediatamente!
VERA: – Mas Antonia, eu não tenho pra onde ir!
ANTONIA: – Problema é seu! Agradeça por eu não te denunciar a polícia, tenho que ir ao fórum testemunhar e não posso me atrasar. Quando voltar, quero você longe daqui!
Antonia vai até a gaveta, pega o dinheiro e leva para seu quarto, no segundo andar da pensão. Vera chora no chão, se sentindo humilhada.
CENA 07: FÓRUM, SALA DE AUDIÊNCIA, INTERIOR, MANHÃ.
Miguel está pronto para começar seu depoimento.
MIGUEL: – Eu tinha vontade de ser pai, mas não conseguia engravidar a Luiza. Pensamos que algum de nós fosse estéril, mas os exames provaram que não. O Dr. Vitor foi muito atencioso conosco e fez um ótimo trabalho, jamais podíamos suspeitar que ele cometeria um erro desse. O Davi é tudo na minha vida, Meritíssimo. Eu amo essa criança independente do sangue dela. E a troca de embriões ainda nem foi comprovada, pode ser que seja uma loucura do geneticista.
ARMANDO: – Loucura? Por acaso, o Dr. Vitor Vasconcellos possui traços de demência?
MIGUEL: – Não, foi modo de falar, desculpe. Eu acho que família vai muito além de laços genéticos. Pra mim, os laços de afeto são muito mais importantes para a solidificação de uma família. Eu, Luiza e Davi formamos uma família feliz, unida e com muito amor. Se possuímos ou não uma consanguinidade, isso não importa ao coração.
ARMANDO: – Qual a punição que Dr. Vitor Vasconcellos merece, em sua opinião, caso for comprovada a troca de embriões?
MIGUEL: – Eu acho que a cassação do diploma dele, é o mais justo. Se ele fez isso uma vez, quem garante que não tenha feito outras vezes e poderá fazer ainda mais?
O juiz compreende e bate o martelo. Miguel retorna a seu lugar, ao lado de Luiza.
ARMANDO: – Iremos fazer um intervalo de quinze minutos. Retornaremos com o depoimento das testemunhas trazidas por ambas as partes.
O juiz bate o martelo novamente e todos levantam das cadeiras, saindo da sala para relaxarem.
CENA 08: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, INTERIOR, TARDE.
Heloisa e Pietra estão sentadas no chão da sala, lendo um gibi da Turma da Mônica. Paula está passando pano na escadaria, mas ouve tudo.
HELOISA: – Filha, eu estou percebendo que você está forçando seus olhos pra ler. O oftalmologista te receitou o grau dos óculos que você deveria usar, eu comprei e você não usa. Por quê?
PIETRA: – Porque eu não gosto, mãe! Eu não quero ficar com quatro-olhos!
HELOISA: – Mas Pietra, isso é uma bobagem! Tem muitas pessoas que usam óculos pra ver melhor, é normal. Forçar os seus olhinhos desse jeito vai prejudicar ainda mais a sua visão, pode chegar o dia que terá que usar óculos permanentes. Quer isso?
PIETRA: – Não, isso não! Tá bom, mamãe, vou pôr os óculos então. ela põe e lê o gibi com facilidade. – Fica mais fácil de ler mesmo, eu sou muito teimosa!
Heloisa sorri e levanta do chão, acenando para Paula, que para de lavar a escada.
HELOISA: – Paula, vai à cozinha e busca pra mim uma caixa de remédios que tem no armário? Trás um copo de água também.
Paula compreende e vai até a cozinha, trazendo pra sala a caixa e a água. Ela fica impressionada com a quantidade de remédios que Pietra toma, mas volta a fazer seu serviço na escada.
PAULA: – Que menina esquisita… Além de ter aparência horrível, ainda toma uma farmácia por dia.
Paula lava os degraus da escada, enquanto vê Heloisa tendo paciência em convencer Pietra a tomar todos os remédios.
CENA 09: FÓRUM, SALA DE AUDIÊNCIA, INTERIOR, TARDE.
Marina, Ivan, Luiza, Miguel, Dr. Bruno e Dr. Samuel entram na sala, sentando-se em seus lugares. Meritíssimo Armando entra logo em seguida, senta-se em sua cadeira e bate o martelo.
ARMANDO: – Está aberta a sessão. Ouviremos agora as testemunhas de ambas as partes. Tenha a palavra o advogado, Dr. Bruno Quadros.
BRUNO: – Obrigado, Meritíssimo. Peço que entre nesta sala o Dr. Vitor Vasconcellos.
Marina, Ivan, Luiza e Miguel ficam apreensivos com a entrada de Dr. Vitor na sala. Cabisbaixo e tenso, ele entra e senta na cadeira para depor, aflito com os olhares de todos.
BRUNO: – Dr. Vitor Vasconcellos, o senhor poderia explicar ao Meritíssimo Armando Ramos, como ocorreu à troca de embriões, que é a peça principal deste julgamento?
VITOR: – A Marina Amorim e Ivan Amorim haviam participado do processo de reprodução assistida na minha clínica em 1990, resultando em dois embriões. É comum em fertilização in vitro ocorrerem múltiplos embriões. Enfim, o casal pediu para gerar apenas um dos embriões e deixar o outro congelado no botijão de hidrogênio. Foi uma atitude polêmica, virou até capa de jornal na época. Em 2010, vinte anos depois, eu realizo este mesmo processo de reprodução assistida com Luiza Amaral e Miguel Amaral. Tudo estava ocorrendo certo até o dia da inseminação. Nas clínicas, os materiais genéticos são etiquetados com o sobrenome dos clientes. Foi aí que eu cometi meu erro: eu me atrapalhei com os sobrenomes destes dois casais, pois eles são muito parecidos: Amorim e Amaral. Eu só percebi a troca de embriões depois que já havia inseminado a Luiza e ela já havia indo embora da clínica.
BRUNO: – Em nenhum momento o senhor pensou em procurar Luiza Amaral e Miguel Amaral para explicar a situação? Nem mesmo em comunicar Marina Amorim e Ivan Amorim do fato?
VITOR: – Pensei, mas muito superficialmente. Me calei por medo. Medo da reação dos casais, medo da punição, medo do medo. Este fato me envergonha bastante, me destrói dia após dia. Uma pessoa estuda tanto para se formar naquilo que gosta, trabalha exaustivamente para construir uma carreira sólida, mas basta um momento de fraquejo para acabar com todo seu esforço e dedicação.
SAMUEL: – Gostaria que fazer um questionamento a testemunha. O senhor se considera uma vítima?
VITOR: – Não. Eu não sou a vítima, mas fiz vítimas.
SAMUEL: – E quem seriam suas vítimas? Luiza Amaral e Miguel Amaral? Ou Marina Amorim e Ivan Amorim?
VITOR: – Creio que a maior vítima do meu erro é o Davi. Essa criança sofrerá as consequências da troca de embriões pelo resto da vida. Eu temia uma situação como essa, de disputa judicial, pois isso traumatizará a criança.
BRUNO: – Dr. Vitor Vasconcellos, gostaria de questioná-lo sobre o papel de Luiza Amaral e Miguel Amaral na vida de Davi Amaral. Em sua opinião, com quem deve ficar a guarda da criança?
Dr. Vitor sente-se encurralado com aquela pergunta, observando com aflição para Marina, Ivan, Luiza e Miguel, que aguardam sua resposta.