CENA 01: FÓRUM, EXTERIOR, TARDE.

Dois seguranças carregam Paula para fora do fórum, enquanto ela grita e Vanessa tenta impedir os seguranças. Eles a empurram do lado de fora do prédio, enfurecendo-a.

PAULA: – Ordinários! Vocês não sabem que quem está lidando! Calhordas!

VANESSA: – Calma, mãe, a gente já foi humilhada demais.

Paula respira fundo, olhando para o céu. Ricardo sai do fórum e sorri, observando as duas. Ele está com o cabelo bagunçado e com arranhões no rosto, tudo feito pela Paula.

PAULA: – Tá rindo do quê, riquinho mimado? Achou bonitos os arranhões que deixei na tua cara de porcelana?

RICARDO: – Estou rindo da desgraça de vocês. Duas trambiqueiras amadoras, que aplicaram um golpe tão malfeito que dá vergonha! Vocês acharam mesmo que eu ia aceitar esse bebê sem exigir um teste de DNA? Santa ignorância…

PAULA: – Esse teste foi forjado! Eu vou pedir pra refazerem o teste!

RICARDO: – Pra quê? Pra passar vergonha outra vez diante do juiz? Vai se tratar! Aliás, as duas devem procurar tratamento. E trabalho também, porque tudo o que vocês compraram, vai ter que fazer muita faxina pra pagar hein!

Paula vai bater em Ricardo, mas Vanessa se põe em frente à mãe e não permite. O petroquímico caminha até seu carro e vai embora.

VANESSA: – Eu nunca me senti tão envergonhada como hoje, foi o pior dia da minha vida.

PAULA: – E eu então? Tô com a cara na lama! Incompetente! Você não presta pra nada! ela dá uma bofetada na filha. – Nem pra vagabunda você serve!

Vanessa cobre o rosto com sua mão e uma lágrima escorre de seus olhos após a agressão da mãe, que se afasta da filha e pega um táxi. Vanessa senta na escadaria em frente ao fórum e chora compulsivamente, se sentindo um lixo de pessoa.

CENA 02: HOSPITAL, QUARTO DE PIETRA, INTERIOR, TARDE.

Heloisa e Pietra estão lendo um livro do Sítio do Pica-Pau Amarelo na maca, quando são surpreendidas pela chegada de Ricardo, que entra com um sorriso largo no rosto.

HELOISA: – Pelo visto, o fórum estava animado né?

RICARDO: – Eu tenho uma notícia maravilhosa pra te dar!

HELOISA: – Eu não quero ouvir! Conta pra Pietra, ela talvez goste de saber. Eu vou tomar um cafezinho na cantina do hospital, volto depois.

Heloisa pega sua bolsa e vai sair do quarto, mas Ricardo se põe em sua frente.

RICARDO: – Que isso? Você não vai me ouvir?

HELOISA: – Eu não tenho estômago pra ouvir você contar pra Pietra que ela tem um irmão recém-nascido. Eu não vou privar a nossa filha de conviver com esse bebê, mas eu não faço questão nenhuma de conviver com ele e não vou permitir que a vadia da sua amante se aproxime da Pietra.

RICARDO: – Não tem filho, não tem amante, não tem irmãozinho, não tem nada, Heloisa! Nada! O teste deu negativo, como eu sempre disse!

HELOISA: – O quê? Ai, me poupe das suas mentiras, me deixe beber um café…

RICARDO: – Não está acreditando? Então, veja o exame de DNA você mesma, olha o resultado!

Heloisa está intrigada e Ricardo tira o exame do bolso do seu casaco, entregando para ela. Heloisa segura o exame por alguns segundos e, trêmula, ela abre e lê. Heloisa se espanta com o resultado negativo, ficando boquiaberta. Ricardo sorri, com os olhos marejados.

HELOISA: – Meu Deus… Deu negativo mesmo!

RICARDO: – Viu? Eu nunca te traí, meu amor! Isso foi um golpe daquelas duas malucas.

HELOISA: – Nossa, como eu fui injusta com você! uma lágrima escorre de seus olhos. – Me perdoa?

Ricardo sorri e aproxima-se de Heloisa, acariciando seu rosto suavemente. Em seguida, eles se beijam apaixonadamente. Heloisa larga o exame no chão e abraça Ricardo, beijando-o intensamente. Pietra assiste à reconciliação dos pais e comemora na maca, batendo palmas e assoviando.

CENA 03: CASA DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, NOITE.

Miguel e Davi estão sentados na mesa de jantar, enquanto Luiza serve as panelas de comida na mesa. Quando ela vai sentar-se, alguém bate na porta e ela vai atender. Era Dr. Samuel, que entra com um documento nas mãos.

SAMUEL: – Boa noite! Desculpe aparecer a essa hora na casa de vocês, mas o assunto é sério. Vejam esse documento.

Dr. Samuel entrega o documento a Luiza. Miguel levanta-se da mesa e lê com a esposa.

LUIZA: – Mas o que significa isso?

MIGUEL: – Reabertura de caso? Mas… Como assim?

SAMUEL: – O Dr. Bruno Quadros entrou com um pedido de reabertura do caso de disputa de filiação pelo Davi. Haverá uma nova audiência.

LUIZA: – Ah não, mas o que esse juiz tá pensando? Eu não tenho todo tempo do mundo pra ficar indo no fórum! O Davi é nosso filho, isso já foi provado, chega!

MIGUEL: – O Davi parece uma bola de pingue-pongue, sendo jogado de um lado pra outro.

SAMUEL: – Eu também fiquei indignado, mas estejam aliviados porque o juiz disse que será a última audiência sobre essa disputa. Ou seja, quem perder a guarda dessa vez, não poderá recorrer nunca mais.

Luiza e Miguel se olham, tensos, enquanto Davi ouve tudo sem entender direito.

CENA 04: PENSÃO TITITI, INTERIOR, NOITE.

Antonia, Shirley e Vera estão sentadas na mesa de jantar, com uma folha de alface em seus pratos e uma coxinha de galinha para dividir em três.

ANTONIA: – Que decadência… Nunca pensei que chegaria ao fundo do poço desse jeito.

VERA: – Nesse momento, a Paula deve estar jantando diamantes. Inveja!

SHIRLEY: – Essa alface tá murcha e essa carne tá dura. Você é uma péssima cozinheira, Antonia!

ANTONIA: – Era só o que me faltava… É especialista em culinária agora? Se não gostou, dá pra mim que eu tô morrendo de fome!

Shirley dá o prato pra Antonia, que divide com Vera. Alguém bate na porta e as três se olham.

VERA: – Será algum cobrador?

ANTONIA: – Será algum mendigo pedindo comida?

SHIRLEY: – Será o Kid Bengala?

Antonia e Vera arregalam os olhos para a idosa, que sorri sarcástica.

SHIRLEY: – Sou fã do Kid, gente, qual o problema?

Antonia e Vera ficam caladas. A pessoa bate na porta de novo e as três ficam assustadas. Como a porta não está trancada, a pessoa abre e entra. Era Marina e Ivan, que logo são reconhecidos por Shirley, que levanta da mesa e vai até eles. Antonia e Vera vão atrás, pasmas com o porte fino do casal.

SHIRLEY: – Vocês por aqui? Que surpresa! Como você está, querida?

MARINA: – Eu acabei de obter alta do hospital, estou melhor. Eu descobri o seu endereço e vim agradecer pessoalmente pela senhora ter me salvado.

SHIRLEY: – Ai, que bobagem, não precisava se incomodar! Eu fiz isso como ser humano, eu jamais poderia vê-la se afogar e ficar imóvel.

IVAN: – Se não fosse pela senhora, minha esposa teria morrido. Obrigado, de coração!

MARINA: – Nós queremos recompensá-la por essa atitude. Não há como equivaler em dinheiro a sua coragem em pular no lago pra me salvar, mas é só um gesto de reconhecimento. A senhora me salvou da morte e isso me fez observar meus erros e tentar concertá-los. Muito obrigada, do fundo do meu coração!

Marina tira da bolsa um cheque e entrega a Shirley, que não vê o valor, embora atraída.

SHIRLEY: – Não precisa pagar nada, eu fiz de coração.

IVAN: – Não estamos querendo ostentar, mas não custa nada doar esse valor pra senhora. Faça bom proveito!

SHIRLEY: – Tá bom, já que vocês insistem! Obrigado e que Deus abençoe vocês!

Marina e Ivan sorriem e Shirley abraça e beija o rosto do casal, deixando uma marca de batom vermelho no rosto deles. Após, eles vão embora. Antonia e Vera estão curiosas pelo cheque de Shirley.

ANTONIA: – Que gente fina! Foi essa ricaça que você salvou?

SHIRLEY: – Foi! Tua tia é uma heroína das suicidas!

VERA: – Chega de papo e vê logo o valor do cheque, tô curiosíssima!

Shirley sorri e vê o cheque, enquanto Antonia e Vera olham fixamente para ela. A idosa fica pálida e cai sentada no sofá, boquiaberta.

ANTONIA: – Quanto é? Fala logo!

SHIRLEY: – Minha Nossa Senhora do calçadão… O cheque está no valor de 50 mil reais!

Antonia e Vera se chocam e Shirley começa a rir sem parar, vibrando pelo dinheiro que acabou de ganhar.

CENA 05: MANSÃO DE PAULA, QUARTO DE VANESSA, INTERIOR, NOITE.

Vanessa está colocando as roupas do armário nas suas malas, com os olhos marejados. Paula entra no quarto da filha, nervosa.

PAULA: – Que malas são essas?

VANESSA: – Eu vou embora.

PAULA: – Embora pra onde? E o remelentinho?

VANESSA: – Não fala assim do meu filho, do seu neto! Eu vou embora pra pensão da Antonia e vou levar o bebê comigo.

PAULA: – Ah, mas que bonito, vai voltar pra vila fedida a óleo com o rabinho entre as pernas… A Antonia vai te humilhar e com razão, sua tonta! Eu é que não vou me rebaixar em voltar pra vila, muito menos pra pensão.

VANESSA: – Vai pra onde então? Embaixo do viaduto? Sim, porque essa mansão luxuosa é passado, nós não temos como pagar!

PAULA: – Bem como você disse: nós, nós duas! Vai embora e deixará tua mãe se virando sozinha com as contas milionárias que temos pra pagar?

VANESSA: – Eu avisei pra gente esperar o exame de DNA pra depois viver de luxos, mas a senhora se deslumbrou de um jeito que comprou o mundo inteiro. Pague sozinha!

Vanessa fecha a mala e vai sair do quarto, mas Paula se põe em frente à porta do quarto.

PAULA: – Você só sairá daqui após me responder uma pergunta importantíssima: quem é o pai do teu filho? Se o Ricardo não é o pai, então, quem é?

VANESSA: – Não caiu à ficha ainda, mãe? É o Gean, óbvio!

Paula se choca e Vanessa sai do quarto com duas malas. Ela vai atrás, nervosa.

CENA 06: MANSÃO DE PAULA, INTERIOR, NOITE.

Vanessa desce as escadas da mansão e se aproxima do carrinho do bebê na sala. Paula aproxima-se dos dois, furiosa.

PAULA: – Filho do Gean? Como assim, Vanessa? Você teve um filho com aquele traste?

VANESSA: – Durante o período em que eu me “inseminava” com as camisinhas usadas do Ricardo, eu transei algumas vezes com o Gean. Teve uma vez que eu transei com ele minutos depois de ter me “inseminado”, acredito que foi nesse dia que eu engravidei.

PAULA: – Então era por isso que você me questionava se a inseminação caseira era segura, se a gente estava fazendo tudo certo e insistindo pra esperar o resultado do exame… Você sempre teve dúvidas, não é? Sua idiota! Burra! Que futuro aquele zé-povinho do Gean vai te dar? Ele foi embora de Curitiba há quase um ano, nem deve lembrar mais de você! Tonta!

VANESSA: – Cala essa boca, mãe! Eu gosto do Gean, mesmo ele sendo pobre e safado! Eu vou procurá-lo e, se não encontrar ou se ele não me quiser, eu crio o meu filho sozinha.

PAULA: – Eu tenho vergonha de ter uma filha burra como você! Como pôde desperdiçar um plano perfeito como esse, engravidar de um milionário do petróleo sem ir pra cama! Meu Deus, como você foi burra!

VANESSA: – Adeus, mamãe! Vire-se com as contas.

Vanessa pega as malas e o carrinho de bebê e sai da mansão, enquanto Paula chora de ódio.

CENA 07: HOSPITAL, CANTINA, INTERIOR, NOITE.

Ricardo e Heloisa estão sentados numa mesa da cantina do hospital, bebendo um café e comendo um sanduíche. Ora se acariciam as mãos, ora se acariciam os rostos.

HELOISA: – Eu estou tão feliz, Ricardo! Tão feliz! Mas também tão envergonhada… Eu duvidei de você, eu acreditei cegamente na Paula e na Vanessa. Eu devia ter sido mais crítica, eu falhei contigo, meu amor…

RICARDO: – Que isso, não fale essas bobagens… Você é uma mulher delicada e apaixonada, é compreensível sua crise de ciúmes. Além disso, a gente está passando por uma tormenta com a doença da Pietra, isso deixou você muito frágil.

HELOISA: – Obrigada por me entender e me perdoar, meu amor!

RICARDO: – Não agradeça… O que importa é a gente estar felizes e unidos, como sempre fomos. E nunca mais questione minha fidelidade, pois no meu coração só há espaço para você. Talvez seja brega o que eu digo para os jovens de hoje, mas pra mim é o romantismo em estado bruto.

HELOISA: – Oh, como eu te amo, meu Ricardo!

Heloisa e Ricardo sorriem e se beijam. Minutos depois, Dra. Clara chega à cantina e aproxima-se do casal.

CLARA: – Desculpe interrompê-los, mas o assunto é sério.

RICARDO: – Claro… Aconteceu alguma coisa com a Pietra, doutora?

CLARA: – Sim. O estado de saúde dela se agravou. Os órgãos começaram a ter um funcionamento mais lento e isso prejudica a saúde dela.

HELOISA: – Mas quando a senhora diz “órgãos”, se refere a quais exatamente?

CLARA: – A todos, Dona Heloisa. A Pietra está entrando em um lento processo de falência múltipla de órgãos. Eu sinto muito.

Heloisa e Ricardo se olham, aflitos e angustiados. Dra. Clara sai da cantina e o casal chora pelo sofrimento de Pietra.

CENA 08: PENSÃO TITITI, INTERIOR, MADRUGADA.

A campainha da pensão começa a tocar incessantemente até que Antonia acorda e aproxima-se da porta, bocejando e com seu roupão.

ANTONIA: – Só pode ser a Shirley, aposto que foi gastar o dinheiro da ricaça com homens.

Antonia abre a porta e se impressiona ao ver Vanessa e seu bebê, com malas.

VANESSA: – Oi, Dona Antonia. Por favor, me deixa ficar?

Antonia fica pasma e lembra-se do desafeto com Paula, mas permite que a jovem entre com seu filho e suas malas. Na sala, elas sentam nos sofás.

ANTONIA: – O que você está fazendo aqui, Vanessa? E a essa altura da madrugada!

VANESSA: – Eu fui embora de casa, Dona Antonia. Briguei com minha mãe, aí resolvi pedir abrigo aqui, é a única pessoa que eu conheço pra morar.

ANTONIA: – Morar aqui? Mas…

VANESSA: – Eu sei que a senhora e a minha mãe são rivais, eu sei que a senhora também não simpatiza comigo, mas eu não tenho nenhum lugar pra ficar! Eu tenho um filho que nem completou um mês de vida, eu não posso ficar na rua. Eu vou trabalhar para pagar o aluguel, eu quero mudar.

Antonia pensa um pouco, levanta-se do sofá e caminha pela sala. Logo, ela acaricia o rostinho do bebê.

ANTONIA: – Tá bom, Vanessa, eu deixo você se hospedar na pensão. Eu sou ranzinza, mas não sou um monstro, jamais deixaria você passar necessidades com um bebê no colo.

Vanessa sorri e abraça Antonia, subindo ao seu quarto e se instalando nele, enquanto Antonia prepara um chá bem quente para a jovem.

CENA 09: DIAS DEPOIS.

Luiza, Miguel, Marina, Ivan, Dr. Samuel e Dr. Bruno se preparam para audiência no fórum. Pietra segue internada no hospital, com a saúde muito debilitada. Heloisa e Ricardo estão felizes por reatarem o amor, mas tristes pela filha. Vanessa está morando na Pensão Tititi e faz bicos na vila para juntar dinheiro e pagar o aluguel. Shirley faz planos com o dinheiro que ganhou de Marina. Paula segue morando na mansão, vende joias para comer alimentos finos, mas está com medo do futuro.

CENA 10: FÓRUM, INTERIOR, MANHÃ.

Marina, Ivan e Dr. Bruno estão na recepção do fórum, conversando sobre o processo.

BRUNO: – Não há mistério, tudo vai ocorrer como das outras vezes: os advogados de cada parte farão a defesa, o juiz vai pedir depoimento do Davi, os senhores poderão falar quando forem solicitados, é por aí…

IVAN: – Se dessa vez será a última audiência, então quem perder não poderá mais recorrer?

BRUNO: – Exatamente! Isso foi uma decisão do juiz, afinal, é a vida de uma criança que está em julgamento e não um objeto, é preciso definir logo o futuro do Davi.

MARINA: – Que Deus ilumine esse juiz para que haja uma solução justa e pacífica desta vez! Só não quero ficar longe do meu filho.

Ivan concorda e Dr. Bruno olha para o relógio, ansioso pelo início da audiência. Próximo a eles, também na recepção do fórum, Luiza e Miguel conversam com Dr. Samuel.

LUIZA: – Eu armo um escândalo, mas eu não vou entregar o Davi pra outra família de novo se nós perdermos a causa!

SAMUEL: – Não vamos pensar assim, Dona Luiza, pense que nós vamos ganhar a causa.

MIGUEL: – Eu tenho medo, doutor, muito medo mesmo. Sei lá, tô inseguro, eu não quero perder o Davi. Acho que essa pressão de ser a última audiência, de ser irrevogável, isso me assusta muito.

SAMUEL: – Compreendo o medo dos senhores, mas acreditem no meu trabalho.

Luiza e Miguel se dão as mãos e ficam aguardando a hora da audiência. Minutos depois, uma mulher fina e elegante chega ao fórum de óculos escuros e uma pasta nas mãos, despertando o olhar de todos.

IVAN: – Quem é ela, Dr. Bruno?

BRUNO: – É a promotora de justiça, ela vai ser a parte imparcial da audiência.

MARINA: – Não fui com a cara dela, parece muito altiva.

Ivan concorda. Luiza e Miguel também questionam Dr. Samuel sobre a mulher.

MIGUEL: – Então, haverá três partes para julgar o Davi?

SAMUEL: – Exatamente. Aquela mulher que passou aqui é a Dra. Laura Vianna, ela vai auxiliar na decisão final do fórum sobre a guarda do Davi. O poder da opinião dela é muito grande, já que é a representante do Ministério Público.

LUIZA: – Tomara que ela fique do nosso lado!

Miguel concorda. Minutos depois, um oficial de justiça ordena que todos entrem na sala de audiência porque a sessão irá começar.

CENA 11: MANSÃO DE PAULA, INTERIOR, MANHÃ.

Paula está lixando as unhas e assistindo TV, quando a campainha toca e ela vai atender. Ao abrir a porta, ela recebe um documento da justiça e assina o recibo. Paula senta no sofá e lê o documento, entrando em desespero.

PAULA: – Desgraçados! Tá todo mundo atrás de mim pra pagar as contas. O antigo proprietário da mansão estipulou uma data para depositar 50% do dinheiro, e agora, o que eu faço? Bom, eu posso vender as joias, mas eu nem paguei elas também. Ai meu Deus, tô atolada em dívidas milionárias, o que eu faço!

Paula joga o documento no chão e pisa nele. Ela caminha pela sala e, sem querer, esbarra na mesa de porta-retratos, deixando um deles cair no chão. Paula o pega, com o vidro quebrado, e vê a foto dela com Vanessa e Ernesto.

PAULA: – Ernesto, seu verme, o que você faria no meu lugar hein? Salafrário do jeito que você era, acho que iria fugir. Fugir… Nossa, como eu não pensei nisso antes! Claro, eu vou fugir! Já que a ingrata da Vanessa me apunhalou pelas costas, eu vou embora de Curitiba e nunca mais volto, que se dane as dívidas!

Paula larga o porta-retrato e sobe para seu quarto para fazer as malas.

CENA 12: PENSÃO TITITI, QUARTO DE SHIRLEY, INTERIOR, MANHÃ.

Vera bate na porta do quarto de Shirley e abre, percebendo que está vazio. Ela vai sair do cômodo, mas ao ver o cheque em cima do bidê, Vera sente coceira nas mãos. Imediatamente, ela entra no quarto e corre até o bidê, pega o cheque e cheira.

VERA: – Ai… Trinta mil reais, você será todo meu!

Vera ri e põe o cheque no sutiã. Ao virar pra trás, ela dá de cara com Shirley, que a encara.

SHIRLEY: – Posso saber o que a pistoleira está fazendo com o meu cheque no peito?

Vera fica pálida, sem reação, enquanto Shirley a encara.

CENA 13: PENSÃO TITITI, INTERIOR, MANHÃ.

Vanessa está terminando de amamentar seu bebê, quando a campainha toca. Ela põe o filho no carrinho e vai atender. Ao abrir a porta, ela se surpreende.

VANESSA: – Gean? É você mesmo?

Era Gean, que tira os óculos escuros e sorri, mascando chiclete.

GEAN: – Vanessa, minha gata, quanto tempo hein!

Vanessa sorri e Gean a abraça, entrando na pensão com uma mala. Ele se joga no sofá da sala e nem percebe o carinho de bebê.

GEAN: – E aí, como estão as paradas por aqui? Tudo na mesma, pelo visto.

VANESSA: – Que nada, mudou muita coisa. A pensão tá vazia, só restou a Vera de hóspede. Eu e a mamãe fomos embora da pensão um pouco depois que você foi embora, mas eu voltei há alguns dias. A Antonia tá hospedando uma tia idosa que se prostitui, uma loucura! E você, como tá sua vida lá no Paraguai?

GEAN: – O Paraguai é uma beleza, sou praticamente um paraguaio nativo! fala em espanhol.

VANESSA: – Seu bobo!

Vanessa e Gean riem e, de repente, o bebê começa a chorar. Gean estranha e Vanessa aproxima-se do carrinho, acalmando-o. Gean vai até o carrinho e vê o bebê.

GEAN: – Que criança linda… De quem é? Você é babá dele?

VANESSA: – Não, eu sou a mãe dele.

GEAN: – Mãe? Você engravidou, Vanessa? Que vacilo!

VANESSA: – Pois é, Gean… Acho que a gente precisa conversar.

Gean se espanta ao ouvir aquilo e teme o que Vanessa irá dizer, engolindo o chiclete.

CENA 14: FÓRUM, SALA DE AUDIÊNCIA, INTERIOR, MANHÃ.

Luiza, Miguel e Dr. Samuel estão sentados à direita da mesa, enquanto Marina, Ivan e Dr. Bruno estão sentados à esquerda da mesa. Armando, o juiz, já está sentado em sua cadeira. Laura, a promotora de justiça, está no fundo da sala. O juiz bate o martelo para iniciar a sessão e Luiza, Miguel, Marina e Ivan se olham, aflitos.

ARMANDO: – Estamos aqui reunidos novamente para decidir o futuro do menor Davi Amaral, cujo estão disputando o reconhecimento de filiação por parte de Marina Amorim e Ivan Amorim, e também Luiza Amaral e Miguel Amaral. Anuncio que, por questão de bom-senso, esta será a última audiência para decidir com qual casal ficará a guarda da criança. Anuncio também a presença da promotora de justiça, Dra. Laura Vianna, que está representando o Ministério Público e será a parte imparcial da disputa judicial. Passo a palavra para os senhores advogados.

Dr. Bruno e Dr. Samuel se olham, tensos, enquanto Dra. Laura observa o andamento do caso.

BRUNO: – Meritíssimo, uma longa disputa judicial como esta não é saudável para uma criança e acredito que todos nós nesta sala temos a consciência disso. Porém, o desejo de ter o reconhecimento legal de pais do menor é que leva a ambas famílias a disputarem por quase um ano. A minha parte sentiu-se injustiçada e menosprezada quando perderam a guarda da última vez, tendo o DNA do sangue renegado pelo DNA mitocondrial, que sequer tem importância na composição genética humana.

SAMUEL: – O DNA mitocondrial foi importante para provar que existia um laço genético entre a Luiza e Davi, em nenhum momento foi menosprezado o DNA do casal Amorim. A última audiência prezou em observar o quão importante é a criação, a influência do meio, por isso o menor passou para guarda do casal Amaral. E eu insisto em dizer: deve continuar com eles. Meus clientes formam vítimas do Dr. Vitor Vasconcellos e não devem pagar pelo erro dele.

BRUNO: – Meus clientes também foram vítimas, Meritíssimo, o embrião congelado deles por 20 anos foi inseminado em outra pessoa, gerado e criado por outra família, isso é um crime.

SAMUEL: – É um crime também querer forçar o Davi a esquecer de toda sua vida com a Família Amaral por causa de um DNA que ele sequer compreende e se importa.

BRUNO: – E é correto privá-lo de conhecer sua família biológica?

ARMANDO: – Senhores advogados, acalmem-se. Peço que a promotora se aproxime da mesa e dê sua opinião sobre o caso.

Dra. Laura levanta-se e caminha até a mesa da audiência, com papéis na mão. Todos observam à promotora e aguardam as palavras dela.

CENA 15: HOSPITAL, CORREDOR, INTERIOR, MANHÃ.

Heloisa e Ricardo estão conversando com Dra. Clara, que entregou exames de Pietra para eles.

CLARA: – Os exames demonstram a gravidade do estado de saúde da Pietra. A osteoporose e a calcificação óssea avançaram muito, ela mal consegue mover os braços. Ela só respira com ajuda de aparelhos… Enfim, o organismo da Pietra entrou em colapso.

HELOISA: – Mas… E não há nada que possa ser feito?

CLARA: – Lamento, mas o possível e o impossível já foram feitos. Aconselho os senhores ficarem próximos a menina, todo segundo é precioso e crucial. Força!

Ricardo e Heloisa se abraçam, inconsoláveis, enquanto Dra. Clara vai atender outros pacientes.

CENA 16: HOSPITAL, QUARTO DE PIETRA, INTERIOR, MANHÃ.

Heloisa está à esquerda da maca de Pietra, enquanto Ricardo está à direita. Eles observam a menina dormir, ligada há vários aparelhos. Vagarosamente, Pietra abre os olhos e sorri timidamente ao ver os pais.

PIETRA: – Mamãe… Papai…

RICARDO: – Oi, meu amorzinho…

HELOISA: Oi… Tá se sentindo bem?

PIETRA: – Não, tô enjoada de tanto remédio e com um pouco de dor.

RICARDO: – A gente te ama muito, sabia?

HELOISA: – Você é a pessoa mais importante da nossa vida, sabia?

PIETRA: – Sabia! Eu tô muito feliz em ver vocês juntos de novo, eu amo vocês.

Heloisa e Ricardo se emocionam e lágrimas escorrem do rosto deles.

PIETRA: – Tão chorando? Não chorem, eu vou ficar bem. Vocês são os melhores pais que Deus podia me dar.

Heloisa e Ricardo sorriem e dão um beijo coletivo no rosto de Pietra, que fecha os olhos e sorri. Após eles se afastarem, o rosto de Pietra fica sem expressão e vira para o lado, disparando um apito no aparelho que estava ligado a ela.

MAGARIDA: – Pietra? Filha, fala comigo! Filha!

Heloisa se desespera ao notar que Pietra está sem reação. Ricardo sai do quarto e grita por enfermeiros, que atendem imediatamente a menina. Eles utilizam o desfibrilador para fazer o coração de Pietra voltar a bater, eles usam várias vezes, mas é inútil. Heloisa e Ricardo se abraçam e choram compulsivamente: Pietra faleceu.

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