CENA 01: CLÍNICA DE DR. VITOR, INTERIOR, MANHÃ.
O silêncio perdura por alguns instantes na sala e deixam o casal intrigado.
IVAN: – Dr. Vitor, o senhor está bem? Porque não diz nada?
VITOR: – Está certo, vocês querem saber a verdade? Pois então, eu vou dizer a verdade.
Marina e Ivan se olham, intrigados, enquanto Dr. Vitor tenta encontrar as palavras certas para sua revelação. Quando o geneticista vai falar, um médico entra na sala e avisa que há um problema na sala de experiências. Dr. Vitor deixa o casal em sua sala e vai ajudar a resolver o problema.
CENA 02: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, INTERIOR, MANHÃ.
Inês e Pietra estão brincando com uma boneca na sala. Logo Heloisa entra com um álbum de fotos e senta ao lado da filha.
HELOISA: – Meu amorzinho, a mamãe vai te mostrar fotos de quando eu era pequena assim como você!
Pietra fica animada e Heloisa abre o álbum, mostrando as fotos de quando tinha a mesma idade da filha. Pietra observa as fotografias muito intrigada, pois vê a diferença entre ela e de sua mãe. Logo, seus olhos ficam marejados e Inês percebe.
INÊS: – O que foi, Pietra?
PIETRA: – Porque eu sou careca e a mamãe nunca foi?
Heloisa e Inês se olham, apreensivas.
HELOISA: – Porque cada pessoa tem um jeito próprio, ninguém é igual a ninguém.
PIETRA: – Mas eu sou a única criança desse jeito, eu não conheço mais ninguém assim na minha idade. Eu sou muito feia.
INÊS: – Feia? Imagina, você não é feia nada! Você é reluzente como um anjo.
Pietra alisa o rosto de Heloisa, que sorri levemente. Logo, a menina alisa o rosto de Inês, que também sorri. Após, Pietra fica cabisbaixa.
PIETRA: – Eu queria ser igual a todas as crianças! Até minha boneca parece com as crianças de verdade, menos eu!
Pietra joga a boneca no chão e sobe as escadarias até seu quarto, chorando. Heloisa se desespera com a crise da filha e chora.
HELOISA: – Eu não devia ter mostrado esse álbum de fotos, eu sou um monstro!
INÊS: – Não diga isso, querida, você não é um monstro! É normal essa crise de identidade na Pietra, ser diferente não é fácil para a autocompreensão, ainda mais quando se é uma criança.
HELOISA: – O mais terrível de tudo é saber que a gente não pode fazer nada, é tão angustiante isso!
INÊS: – Reverter o cancêr pode ser impossível, mas fazer a vida da Pietra muito feliz com o amor da família é possível sim, você e o Seu Ricardo fazem todos os dias.
Heloisa continua a chorar e Inês a abraça, muito emocionada também.
CENA 03: PENSÃO TITITI, INTERIOR, MANHÃ.
Vera está conversando com Cecília na sala da recepção, sentadas no sofá.
ANTONIA: – E essa mudança de visual? Tá lindíssima! Vai arrasar corações!
CECÍLIA: – Ai Vera, eu já passei da idade dessas coisas…
ANTONIA: – Imagina, pra isso não tem idade, tem é apetite!
CECÍLIA: – Mais respeito, eu sou uma viúva de família!
ANTONIA: – Tá bom, não tá mais aqui quem falou… Por falar em família, você tá sabendo que a Paula tá com problemas financeiros por causa do Ernesto?
CECÍLIA: – Não! Me conta essa fofoca…
Naquele momento, Vera está descendo a escada e ouve a conversa.
ANTONIA: – Parece que o Ernesto tá com dívidas e a Paula descobriu. Como aquele vadio não sabe o que é trabalhar, a Paula tá fazendo mais atendimento de manicure pra pagar as contas do fim do mês.
CECÍLIA: – Estou chocada! Mas bem feito pra essa barraqueira da Paula, nunca vi mulher tão baixa como ela.
ANTONIA: – Pois é! Venha comigo até a cozinha que eu vou preparar um cafezinho pra nós.
Cecília concorda e vai com Antonia para a cozinha, deixando sua bolsa na sala. Vera desce as escadas e observa a bolsa com coceira nas mãos, mas vai até a porta para sair. Porém, não resiste e vai até a bolsa, retira a carteira e pega todo o dinheiro de Cecília, colocando entre seus seios. Vera põem a bolsa no lugar e sai correndo da pensão.
CENA 04: CLÍNICA DE DR. VITOR, SALA DE EXPERIÊNCIAS, INTERIOR, MANHÃ.
Dr. Vitor ajudou a resolver o problema no catálogo de registro dos gametas congelados na clínica. O médico que pediu ajuda sai da sala e deixa o geneticista sozinho que, por acaso, vê o registro Amorim, sobrenome de Marina e Ivan. Logo, ele abre o registro e fica pasmo com o que vê.
VITOR: – Ainda há dois óvulos da Marina e um frasco com espermatozoides do Ivan aqui na clínica. Eu não sabia disso… É a minha salvação! Ao invés de contar da troca de embriões, eu farei um novo embrião e inseminarei a Marina. Não será gêmeo do filho falecido deles, mas será filho igual. É a melhor solução, para evitar um escândalo!
Dr. Vitor fecha o registro quando o outro médico entra na sala. O geneticista limpa o suor da testa, pois está tenso, e sai do local.
CENA 05: CLÍNICA DE DR. VITOR, INTERIOR, MANHÃ.
Dr. Vitor entra em sua sala e encontra Marina e Ivan sentados, mas impacientes.
VITOR: – Eu peço desculpas pela demora, mas houve um problema no sistema de registro da clínica. Tecnologia e suas disparidades!
IVAN: – Tudo bem, Dr. Vitor, mas o que o senhor ia nos contar?
VITOR: – Nada, era bobagem. Eu pensei na decisão de vocês e acredito que é totalmente correto o embrião ser gerado.
MARINA: – Então, o senhor aceita me inseminar? Pensei que estava contra…
VITOR: – Contra? Imagina, não tenho motivos para isso, apenas fiquei preocupado com uma gestação após os 40 anos, mas se é o desejo do casal, eu não posso negar, o embrião é de vocês. Só peço que a senhora faça alguns exames de saúde para provar que está apta a gestação, traga assim que sair o resultado.
Os três levantam da cadeira e se cumprimentam, sorridentes.
IVAN: – Muito obrigado, Dr. Vitor. Agora eu senti firmeza na sua palavra.
MARINA: – Será maravilho sentir um filho crescendo em meu ventre outra vez, esse filho vai devolver o sentido da vida para nós.
Dr. Vitor sorri e o casal vai embora. Após, o geneticista senta em sua poltrona de escritório e suspira, com os batimentos cardíacos alterados.
VITOR: – Eu estou assassinando a ética médica que eu venerei a vida inteira, tudo por um beneficiamento próprio. Eu sou um monstro!
Dr. Vitor segue com sua crise de consciência, temendo o futuro.
CENA 06: RUA, EXTERIOR, TARDE.
Cecília caminha pela rua da vila e transita sorridente em frente ao bar onde Ernesto está sentado, bebendo uma cerveja. Ela para, finge procurar alguma coisa na bolsa, enquanto ele continua a observando. Logo, Cecília olha para Ernesto e abana pra ele, que retribui. Ela entra no bar, mexendo no cabelo para mostrar seu novo visual.
CECÍLIA: – Moço, por favor, me vê um pastel de carne frito. E rápido!
O balconista vai cumprir o pedido, enquanto Cecília segue calada, esperando Ernesto se manifestar.
ERNESTO: – A senhorita mudou o visual, tá muito bonita. Quer dizer, sempre foi, mas agora tá mais ainda!
CECÍLIA: – Você acha mesmo, Ernesto? E porque me chamou de senhorita, já tenho 55 anos…
ERNESTO: – Mas está intacta há 25 anos, isso é virtude das senhoritas…
Cecília sorri e o balconista lhe entrega o pastel. Quando ela abre a carteira para pagar, descobre que está vazia.
CECÍLIA: – Mas que absurdo é esse! Eu fui roubada! Minha carteira tava cheia!
BALCONISTA: – Aqui a senhora não foi roubada, só há nós três aqui dentro. Como a senhora mora na vila e é nossa freguesa, eu faço fiado, paga depois.
CECÍLIA: – Muito obrigada!
ERNESTO: – Que isso, eu faço questão de pagar o pastel da Cecília.
Cecília se impressiona e Ernesto tira da carteira, dando o dinheiro ao balconista. Os dois se olham sorrindo e Cecília morde o pastel, deixando Ernesto atraído. De repente, Paula entra no bar e fica pasma ao ver os dois próximos.
PAULA: – Posso saber que palhaçada é essa?
Ernesto se assusta com o grito da esposa e cai da cadeira. Cecília se engasga com o pastel, mas logo se desafoga após o balconista dar um copo de água. Paula aproxima-se e ajuda Ernesto a levantar do chão.
ERNESTO: – Porque esse nervosismo, meu doce?
PAULA: – Porque eu não gosto de ver gente oferecida perto do meu homem!
CECÍLIA: – Pois a única oferecida que eu tô vendo aqui é você!
PAULA: – Ah, sua safada, você me paga!
Paula vai avançar em Cecília, mas Ernesto a segura. Cecília aproveita e foge do bar, em meio aos gritos de Paula.
CENA 07: CASA DA FAMÍLIA AMARAL, INTEIOR, TARDE.
Luiza dá um copo de água com açúcar para acalmar Cecília após a briga no bar.
LUIZA: – Ai mãe, até quando essa rivalidade entre a senhora e a Paula vão continuar? Desde que eles se mudaram aqui na vila, há pouco mais de um ano, a senhora e a Antonia pegaram uma implicância com ela!
CECÍLIA: – Eu sou uma mulher de família e de caráter, já a Paula é o oposto. Uma mulher vulgar, baixa, escandalosa, precisava ver o modo como ela me tratou naquele bar! Me chamou de oferecida, pode? Uma pessoa íntegra como eu, que nunca deixou outro homem encostar em mim a não ser o teu pai, Luiza.
LUIZA: – Tá bom, mamãe, vamos esquecer essa briga. E que pastel é esse na sua mão? Sabe que fritura não é recomendado a você…
CECÍLIA: – Faz muito tempo que eu não como, filha, não tem problema comer às vezes. Ah, mas o pior eu não te contei! Eu fui roubada! Eu sai de casa com a carteira cheia e quando fui pagar o pastel no bar a carteira tava vazia!
LUIZA: – Meu Deus, mas como isso foi acontecer?
CECÍLIA: – Não sei, eu só estive na pensão da Antonia e depois fui ao bar. Será que é alguém da pensão que me roubou, Luiza?
Luiza e Cecília continuam intrigadas com o roubo do dinheiro.
CENA 08: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, QUARTO DE PIETRA, INTERIOR, NOITE.
Pietra está trancada no quarto o dia todo após a crise que teve com Heloisa pela sua aparência. Deitada na cama, ela escuta o pai bater na porta e chamar seu nome. Triste, a menina resolve não atender. Insistente, Ricardo continua a bater e chamá-la, até que Inês lhe trás uma cópia da chave e ele abre a porta, entra no quarto e guarda a chave no bolso, aproximando-se da filha.
RICARDO: – O que você tem, meu amorzinho? A tua mãe me contou que você chorou hoje. Por quê?
PIETRA: – Porque eu sou feia! Eu sou uma criança doente.
RICARDO: – Feia? Quem disse isso? Você não é feia, você é uma criança com uma beleza especial!
PIETRA: – Você tá falando isso só pra me agradar, papai…
RICARDO: – Não, eu digo isso porque eu acho você linda! Se alguém disser que você é feia, não acredite!
PIETRA: – Eu vi as fotos da mamãe criança e ela tinha lindos cabelos, nem mesmo a Inês que já tem idade é careca que nem eu.
RICARDO: – Isso não é importante, minha filha, o que importa é você estar viva e feliz ao meu lado e ao lado da mamãe! Não chore mais, isso deixa a gente muito triste.
PIETRA: – Mas eu tô triste, tenho vontade de chorar muito… Eu não tenho vida, fico sempre nesse quarto, raramente vou ao jardim e nunca saio de casa. Tenho vontade de ter um amigo da minha idade pra conversar.
Ricardo se comove com o desabafo de Pietra e abraça a filha. Uma lágrima escorre de seu olho, mas ele limpa antes que a filha veja. Após, ele dá um beijo na menina e sai do quarto, deixando-a brincando com as bonecas.
CENA 09: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, QUARTO DE HELOISA E RICARDO, INTERIOR, NOITE.
Ricardo entra no quarto limpando o rosto molhado de lágrimas. Heloisa percebe e levanta da cama, indo até ele.
HELOISA: – Como foi a conversa com a Pietra?
RICARDO: – Péssima! A nossa filha tá se menosprezando, Heloisa. Eu não suporto ver isso!
HELOISA: – E você acha que eu gosto? É torturante ver ela se sentir inferior. Quanto mais ela cresce, mais perguntas vêm à cabeça dela e eu não sei o que responder.
RICARDO: – A Pietra está se sentindo sozinha, ela quer ter um amigo. Eu tenho medo de liberar ela para a liberdade do mundo por , mas me sinto culpado em privá-la de conhecer todos os sentimentos vivendo eles.
HELOISA: – Mas você quer permitir que a Pietra saia toda hora de casa pra fazer amizades? Eu não acho isso correto.
RICARDO: – Eu também não, mas eu não quero sofrer com a culpa de ter privado a Pietra de criar relações com outras pessoas pelo nosso medo. Nós não podemos deixar a menina reclusa nessa mansão, Heloisa. Já está comprovado que a Pietra terá uma vida curta devido ao câncer, nós temos o direito de encurtar ainda mais com privações?
Heloisa fica cabisbaixa e começa a chorar. Ricardo chora também e abraça a esposa.
CENA 10: CLÍNICA DE DR. VITOR, SALA DE EXPERIÊNCIAS, INTERIOR, NOITE.
Dr. Vitor aproveita que está sozinho na clínica e retira do botijão de hidrogênio os gametas de Marina e Ivan que estão congelados há 25 anos.
VITOR: – Nestes frascos repousam a minha salvação… Se eu conseguir fazer um embrião e inseminar na Marina com sucesso, ela terá um filho legítimo. Não será o gêmeo do filho falecido, mas não será o embrião de outra pessoa. É antiético o que farei, mas é para evitar um escândalo envolvendo meu nome e também para evitar uma guerra entre duas famílias por uma criança.
Dr. Vitor senta-se a mesa e com ajuda de seu microscópio, tenta fundir o espermatozoide de Ivan com o óvulo de Marina. Com muito cuidado, ele tenta fazer o processo, mas acaba não conseguindo fundi-los.
VITOR: – Só resta um óvulo, se eu não conseguir fundir com o espermatozoide, não poderei dar continuidade a minha farsa e terei que revelar a troca de embriões. respira fundo e pensa. – Força, Vitor, você consegue!
Dr. Vitor tenta a última chance que existe. Com muita cautela, ele tentar fundir os gametas. Tenso, o geneticista tem medo que o nervosismo o atrapalhe. Porém, o desejado acontece: o óvulo e o espermatozoide se fundem e formam um pré-embrião. Dr. Vitor tira a máscara e suspira.
VITOR: – Que alívio! Consegui fundi-los, agora é só cuidar para que haja desenvolvimento. Se o destino conspirar a meu favor, não terei que revelar nada. É assim que deve ser: o passado ficar no passado.
Dr. Vitor comemora a vitória e guarda o pré-embrião na estufa.
CENA 11: MANSÃO DA FAMÍLIA AMORIM, INTERIOR, NOITE.
Marina e Ivan estão tomando vinho em frente à lareira acesa após contarem a novidade para Olga.
OLGA: – Quer dizer então que o irmão gêmeo do João vai nascer?
MARINA: – Vai, se tudo ocorrer bem, daqui algumas semanas eu estarei carregando em meu ventre o meu filho.
OLGA: – Que notícia maravilhosa! Imagina ver uma criança correndo por essa casa outra vez? Será uma alegria imensa!
IVAN: – Será mesmo, Olga. Acho que podemos começar a reforma no quarto que era do João, lá será o quarto do nosso futuro filho.
MARINA: – É até curioso: os irmãos gêmeos usarem o mesmo quarto. Já agendei a coleta de sangue pra fazer os exames e ver se tenho saúde para a gestação.
OLGA: – Pois eu vou fazer uma promessa a Santa Heloisa, que é a protetora das grávidas, para que ocorra tudo bem com a inseminação e a gestação!
IVAN: – Ah, lá vem você com sua fé… Por favor!
MARINA: – Dispenso suas promessas, Olga. Acredite no trabalho excelente do Dr. Vitor, isso é o que importa.
OLGA: – Desulpe, dona Marina. Com licença…
Olga vai para a cozinha, chocado com a descrença dos patrões. Marina e Ivan se beijam e bebem vinho, pensando no futuro com o filho.
CENA 12: RUA, EXTERIOR, NOITE.
Vanessa está caminhando pela rua com sua roupa provocante, quando é surpreendida por Gean, que lhe abraça por trás.
GEAN: – Saudades de você, minha gatinha!
Vanessa fica arrepiada com o sussurro no ouvido, mas dá um coice nas canelas de Gean que o afasta dela.
GEAN: – Tá louca? Pô, a gente elogia e é agredido ainda…
VANESSA: – Você acha que é só chegar e dizer palavrinhas doces e meigas que vai me conquistar? Seu malandro! Desde o dia que a gente ficou naquele beco, você nunca mais veio falar comigo. Agora tá querendo o quê? Reprise do beco? Tô fora!
Vanessa atira um beijo no ar para Gean e sai, mas é puxada por ele, que a agarra. Frente a frente, eles se olham fixamente.
GEAN: – Eu duvido que você resista, tá até com as pernas bambas!
VANESSA: – Você parece que tá no cio… É muito cachorro, sabia?
Gean ri e beija ousadamente Vanessa, que retribui. Entre amassos e beijos, Paula flagra a filha da janela de sua casa e fica furiosa. Vanessa logo empurra Gean e arruma seu vestido amarrotado.
VANESSA: – Eu preciso ir…
GEAN: – Ah não, vamos aproveitar a noite, Vivi!
VANESSA: – Vai ficar na vontade pra aprender a deixar de ser safado!
Gean fica surpreso e Vanessa vai embora para casa, num caminhar rebolativo que enlouquece o ficante.
CENA 13: CASA DE PAULA E ERNESTO, INTERIOR, NOITE.
Vanessa entra em casa e se assunta ao ver Paula a encarando.
VANESSA: – Que foi, mãe?
PAULA: – E você ainda pergunta? Eu vi o beijo que você deu naquele vadio do Gean! Meu Deus, até quando esse tormento vai continuar!
VANESSA: – Ai mãe, foi um beijo sem noção, eu nem queria!
PAULA: – Não queria, mas beijou! Olha Vanessa, eu não criei filha minha pra ser dona de casa e com marido pobre. Eu quero o que tem de melhor pro teu futuro, coisas que nem em outra encarnação o Gean vai te dar!
VANESSA: – Mãe, foi só um beijo! Para de fazer drama.
PAULA: – Começa assim, minha filha, depois deslancha e quem sofre sou eu e teu pai com a sua irresponsabilidade!
Vanessa ignora a mãe e vai para seu quarto, enquanto Paula senta no sofá da sala, nervosa.
CENA 14: MANSÃO DA FAMÍLIA TRAJANO, EXTERIOR, MANHÃ.
Miguel está terminando de lavar o carro importando de Ricardo quando Pietra se aproxima dele, com sua inseparável boneca.
PIETRA: – Oi, Seu Miguel. Pode brincar comigo?
MIGUEL: – Agora não dá, tô lavando o carro do teu pai.
PIETRA: – Tá quase no final que eu tô vendo… Depois, vem brincar comigo no balanço da pracinha?
MIGUEL: – Tá bom, eu vou sim.
Pietra comemora e vai até o balanço esperar por Miguel, que aparece minutos depois. Ele empurra o balanço levemente para Pietra se divertir, que sorri e tem a sensação de liberdade.
PIETRA: – Empurra mais forte, Seu Miguel!
MIGUEL: – Tem certeza?
PIETRA: – Sim!
Inocentemente, Miguel empurra mais forte, mas Pietra acaba se desequilibrando e cai no chão. Ela começa a chorar muito e ele vai socorrê-la.
PIETRA: – Ai, tá doendo muito, acho que quebrei meu nariz e meu dedo!
Miguel fica pasmo e se comove com o choro de Pietra.